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Imigrantes na Europa e nos Estados Unidos: novos Bárbaros?

“O meu pensamento vai neste momento aos inúmeros migrantes que se encontram em dificuldade em todos os lugares, muitos dos quais são vítimas do tráfico de seres humanos. Convido os países a renovarem com generosidade todos os esforços para encontrar uma rápida solução a este drama humanitário” (Papa Francisco).

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Nos últimos anos tem aumentado significativamente o número de imigrantes que, saindo dos lugares mais afetados pela crise mundial, buscam os Estados Unidos ou a Europa para reconstruir a sua vida. Estes imigrantes enfrentam toda a sorte de perigos para chegar a uma terra que lhes seja mais favorável, onde os pais possam ver os seus filhos crescer em segurança e os jovens tenham à sua frente um futuro mais promissor.

A cada ano que passa, é também crescente o número de imigrantes latinos nos Estados Unidos. Os assim chamados hispânicos representam hoje quase que 1/3 de sua população. Os estudiosos alertam que nos próximos 50 anos, mais de 100 milhões de pessoas estarão se movimentando mundo a fora. A grande maioria é proveniente de regiões do Oriente Médio e norte da África.

Este fato tem levado alguns setores a comparar a situação de seu país com a do Império Romano em sua fase final, quando levas e mais levas de povos germânicos adentraram primeiro de forma pacífica e depois de forma mais agressiva em seu território, cruzando as fronteiras já então desguarnecidas.

Uma das maiores tentações para quem olha o passado é fazer analogias ou comparações, buscando nas situações que o mundo já viveu um padrão que permita a compreensão do momento presente. É o que acontece hoje nos debates transmitidos pela TV dos Estados Unidos que se preparam para mais uma eleição presidencial. Historiadores já discutem se o país é ou não um império e se ele passa por igual processo de decadência que levou ao esfacelamento do Império Romano no século V da era cristã. Nesses debates a referência ao Império Romano apresentado como exemplo-chave a ser estudado para evitar que o destino de Roma seja seguido por Washington mexe com o ânimo dos expectadores.

A solução é construir muros?

Boa parte da direita americana olha para o cenário do seu país com preocupação, ao identificar nele sinais de repetição do processo que levou ao fim do Império Romano em decorrência da invasão de povos estrangeiros.

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É claro que cada setor ou cada pessoa integrante dessa direita olha para o passado e o avalia conforme suas próprias crenças ou interesses, mas quase todos veem na situação atual uma possibilidade de repetição da história. A direita religiosa, por exemplo, tende a ver a queda do Império Romano como um efeito, acima de tudo, da decadência moral que estaria se repetindo na sociedade americana, prenunciando o colapso final. O mundo vive, de fato, uma imensa e trágica crise moral!

Na Europa, que só em 2015 recebeu mais de um milhão de imigrantes, em sua maioria fugindo da Síria e de outros países do Oriente Médio abalados pelos ataques do Estado Islâmico, cresce também o movimento da Extrema Direita defensora da repressão aos imigrantes, do fechamento das fronteiras e da limitação do direito de ir e vir desta grande leva de pessoas. Os integrantes de certos partidos extremistas defendem o endurecimento do xenofobismo e a construção de muros que possam defender os seus países. Será esta a solução?

Raízes mais profundas

Se quisermos compreender os reais motivos de tamanha movimentação humana que hoje acontece, é preciso voltarmos ao passado, pesquisando na história as suas causas e motivações.

É preciso entendermos a desigualdade entre os hemisférios norte e sul gerada pelo imperialismo moderno a partir do século XVI e pelo sistema neoliberal a partir do século XVIII. É preciso entendermos a construção artificial de fronteiras que aconteceu no Oriente Médio e na Ásia a partir do esfacelamento dos Impérios Coloniais da França, Inglaterra e outras nações europeias. Esta artificialidade de construção de novos países especialmente a partir das duas grandes guerras mundiais separou povos e nações, como a dos Curdos, que sobrevivem em várias nações ao mesmo tempo.

Não podemos nos esquecer, por fim, que também entre nós cresce este sentimento de aversão ao estrangeiro. Mas, nem todo muçulmano é terrorista e nem todo estrangeiro é hostil.

O Brasil é um país de imigrantes. Se voltarmos lá atrás, vemos como que a partir do século XIX recebemos milhares de alemães, italianos, espanhóis, portugueses e gente de várias outras nacionalidades. No início do século XX, chegaram os japoneses e depois deles os ucranianos, sírio-libaneses, sendo agora a vez dos bolivianos e imigrantes do Haiti.

Padre Inácio Medeiros, C.Ss.R.  
Mestre em História da Igreja   
pela Universidade Gregoriana  

Escreve série sobre a  
História da Igreja no Brasil  
para o A12.com

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