Por Elisangela Cavalheiro Em Redentoristas

Entrevista: Ordenação Diaconal do Irmão José Torres

Irmão José TorresNeste domingo (29), solenidade de São Pedro e São Paulo, o Irmão José Torres, C.Ss.R. da Província de São Paulo será ordenado diácono. Depois de 16 anos vivendo como irmão religioso, sentiu-se chamado a viver a vocação sacerdotal. Em entrevista ao A12.com, o religioso contou o que o impulsionou para essa decisão.

“Senti que me faltava realizar algo mais fecundo no que diz respeito ao contato pastoral com o povo, é uma escolha para atuar de forma mais intensa, próxima e fecunda na vida do povo, na Congregação e na Igreja”, contou. Irmão Torres disse também que a decisão de ser irmão religioso não foi equivocada, pelo contrário, ajudou-o a viver experiências pastorais diferentes que como padre talvez não pudesse. Por isso, a decisão acertada de se tornar padre, vem ao encontro de um desejo maior, de uma “evolução do sentimento de responsabilidade” quanto a sua missão na Igreja.

“Vocação é movimento livre dinâmico e criativo, com asas sem freios que podem não obedecer aos ritmos ordinários da vida organizada. Vocação se expressa nos movimentos do Espírito que não é possível medir, calcular, prender, dominar. Sinto-me respondendo no tempo ao apelo que me chega ‘hoje’ ao coração”, destacou.

A celebração será realizada no Altar Central do Santuário Nacional, às 18h, e presidida pelo bispo da Diocese de Pesqueira (PE), Dom José Luiz Ferreira Salles, C.Ss.R.. 

Na sequência o A12.com traz a entrevista completa, mas antes vamos conhecer um pouco da história do Irmão Torres.

Irmao Jose TorresIrmão José de Lima Torres nasceu em 1972, em Palmeira dos Índios, Alagoas. Viveu a infância no povoado da Serra da Mandioca, uma vida simples, de muito trabalho e confiança nos desígnios do Senhor. Com uma família muito religiosa, Irmão Torres cresceu rezando o Ângelus e o terço e aprendendo diariamente o valor da oração. Com 10 anos, começou a nutrir o desejo de se consagrar inteiramente ao Senhor.

Com dificuldade começou a estudar, e em um colégio interno em Igaci (AL) participou de alguns encontros vocacionais promovidos pela Diocese de Palmeira dos Índios. Mas vivendo a adolescência e juventude e todas as novidades que ela traz, resolveu investir em outras formas de realização pessoal e profissional. Em 1990, desejando um novo rumo em sua vida, mudou-se para São Paulo. Na viagem, diante de uma imagem de Nossa Senhora Aparecida, rezou para que ela o ajudasse a superar as dificuldades de um retirante nordestino na metrópole paulista.

Em 1993, voltou a frequentar encontros vocacionais na Congregação Redentorista, movido pelo desejo que o acompanhou por toda a vida. Decidido, pediu demissão de seu emprego e decidiu ingressar no Seminário Santíssimo Redentor, em Sacramento (MG). Nesse período inicial de formação teve como um de seus formadores, o então padre Darci Nicioli. Ainda nesse mesmo período descobriu a paixão pela música.

Continuando sua formação seguiu para Tietê (SP) e depois São Paulo, onde começou os estudos teológicos. Mudando para a Cidade Tiradentes, experimentou a vida religiosa inserida na vida do povo mais pobre e humilde da periferia. Nessa época sentiu o desejo de se consagrar como irmão religioso. Terminado o curso de teologia, voltou para o nordeste, na Vice Província do Recife, e em 25 de janeiro de 1998, professou os votos de pobreza, castidade e obediência na Congregação do Santíssimo Redentor.

Após essa fase inicial de formação, foi designado para exercer seu ministério junto às Missões Redentoristas e depois como formador em diversas casas religiosas, e aprofundou o seu trabalho com musicoterapia e canto coral. Em 2012, depois de onze anos na Vice Província do Recife, retomou a reflexão sobre a possibilidade de pedir a ordenação presbiteral, e nessa reflexão, decidiu voltar à Província de São Paulo. Na província paulista, foi designado para trabalhar no A12.com, onde trabalha atualmente.

Depois de um longo processo de oração e reflexão fez o pedido para a ordenação e recebeu a aprovação do Governo Provincial de São Paulo. Neste domingo (29), um dia especial para toda Igreja Católica, Irmão Torres receberá a Ordem do Diaconato para servir ao Altar e a Igreja e continuar sua missão. 

Confira a entrevista: 

A12. com - Como surgiu a sua vocação? Houve algum fato marcante que o levou a decidir pela consagração total de sua vida?
Irmão Torres - Desde pequeno eu sonhava em ser Padre. Lembro-me que minha mãe me levava para a igreja, às novenas e missas e eu me sentia encantado com tudo aquilo. Fui crescendo com essa convicção. Desde criança minha mãe nos ensinava a rezar antes de dormir, sempre tínhamos momentos importantes de oração. Todos os dias após o jantar, ela juntava os cinco filhos na sala e, de joelhos rezávamos o Terço. Essa vontade de ser Padre sempre me acompanhou, não teve um momento especial de definição, afinal são as pequenas atitudes do dia-a-dia que definem os rumos da nossa vida. É claro que, quando a gente vai amadurecendo, as explicações ou argumentos ingênuas que carregamos sobre as coisas vão se purificando. Aí, a gente precisa dizer de verdade o porquê das nossas escolhas. De tempos em tempos eu sou obrigado a renovar a escolha da Consagração. As crises vão nos oferecendo perguntas para darmos respostas sobre nós mesmos. E assim vou decidindo e renovando a minha Consagração. 

Irmão Torres professando votos de castidade, pobre e obediência

A12.com - O que o atraiu e atrai no carisma redentorista? 
Irmão Torres - Todo cristão deve ser um pouco a presença de Jesus no mundo, mas como Redentorista algumas coisa me chamam a atenção e me pendem para o que desejo ser e viver: ser um pequeno Redentor no mundo, ter vida simples e viver próximo com o povo, a imagem de um “Deus-amigo” e próximo do ser humano. A vida de Santo Afonso e de São Geraldo Majela, a devoção a Nossa Senhora, o testemunho de vida de muitos confrades... são tantas atitudes que me atraem para este estilo de vida. É claro que eu não conheci outras formas de vida religiosa para fazer uma escolha, mas eu agradeço a Deus por Ele ter colocado diante de mim a opção de ser Redentorista porque foi nessa Congregação que eu tive a oportunidade de adquirir instrumental necessário para ser o que hoje eu sou. 

A12.com - Depois de 16 anos de sua profissão religiosa, vivendo como irmão religioso, sentiu-se chamado a viver a vocação sacerdotal. O que o impulsionou a essa decisão?
Irmão Torres - Em primeiro lugar é preciso dizer que a minha opção de ser Irmão não foi uma opção equivocada, não estou arrependido de ter vivido como Irmão, pelo contrário, para mim foi uma Graça de Deus e continua sendo porque nunca vou deixar de ser Irmão. Mas foi durante os estudos teológicos que eu pedi para não me ordenar e viver como Irmão Redentorista. Eu descobri que a arte, especialmente a música tem um poder incomensurável na transmissão de valores, na educação, na formação humana, religiosa, cultura, social. Entendi que, como Irmão poderia atuar nessa área e exercer um papel importantíssimo na evangelização. Algumas motivações me impulsionam a pedir a Ordenação Sacerdotal. Não se trata de mudar de opção, mais de avançar no aspecto pastoral missionário daquilo que eu me sinto ávido para oferecer. A opção de ser Irmão não exclui ser Padre e todo Padre é, em primeiro lugar um Irmão.

Após 17 anos de vida redentorista e 12 anos na atividade missionária como Irmão (02 anos das Santas Missões, 07 na Formação, 02 na administração de comunidades e 01 na Direção do Portal a12.com), eu senti que me faltava realizar algo mais fecundo no que diz respeito ao contato pastoral com o povo é uma escolha para atuar de forma mais intensa, próxima e fecunda na vida do povo, na Congregação e na Igreja. Mas é importante dizer que como Irmão, pedir a Ordenação Sacerdotal não é uma atitude de arrependimento, nem tão pouco fruto de uma decisão equivocada do passado; é uma evolução do sentimento de responsabilidade quanto a minha missão na Igreja.

 

"Sinto-me respondendo no tempo ao apelo que me chega 'hoje' ao coração. O tempo de Deus, o pensamento de Deus, o jeito de Deus não se pode entender. Então, não precisamos seguir o sistema preestabelecido para poder fazer a vontade de Deus".

Eu tenho a alegria de ter sido Irmão no início da minha vida missionária e ter feito experiências pastorais diferentes; os confrades que seguiram o sistema formativo e tornaram-se Padres imediatamente após a Formação inicial, não tiveram a oportunidade de fazer as experiências que fiz. Entendo que em nossa vida Deus nos propõe experiências de “Ser” sem que saibamos com clareza por onde seguir, por isso, precisamos de discernimento para entender o que Ele quer de nós. Mas as formas de viver as propostas de Deus, nós as escolhemos, Ele não impõe. Vocação é proposta de Deus, movimentos do Espírito que não acontecem obedecendo apenas às regras e critérios institucionais de um sistema organizado. Vocação é movimento livre dinâmico e criativo, com asas sem freios que podem não obedecer aos ritmos ordinários da vida organizada. Vocação se expressa nos movimentos do Espírito que não é possível medir, calcular, prender, dominar. Sinto-me respondendo no tempo ao apelo que me chega “hoje” ao coração. O tempo de Deus, o pensamento de Deus, o jeito de Deus não se pode entender. Então, não precisamos seguir o sistema preestabelecido para poder fazer a vontade de Deus.

A12.com - Quem te inspira vocacionalmente?
Irmão Torres - Para mim, a maior e mais tocante motivação para o sacerdócio e o ser cristão é a figura carismática do Papa Francisco, homem de movimentos fascinantes e vocacionalmente sedutor, promotor de vocações. Ao ler uma entrevista que deu à revista “Civiltà Cattolica”, ele diz: “Deus se manifesta numa revelação histórica, no tempo. É o tempo que inicia os processos, o espaço os cristaliza. Deus se encontra no tempo, nos processos em curso. Não se deve dar preferência aos espaços de poder frente aos tempos, às vezes longos, dos processos. Devemos colocar em marcha processos, mais do que ocupar espaços. Deus se manifesta no tempo e está presente nos processos da história. Isto nos faz preferir as ações que geram novas dinâmicas. E exige paciência e espera”. É nessa dinâmica que encontro o impulso e a direção para buscar o Sacerdócio. Os gestos do Papa Francisco me trazem grande impulso vocacional, abre novos horizontes para o serviço na Igreja. 

A12.com - No próximo dia 29, solenidade de São Pedro e São Paulo, no Santuário Nacional receberá a Ordem do Diaconato. Qual a missão do diácono?
O Diácono é aquele que tem como atitude principal na vida o serviço. Mas esse serviço se dá especialmente em três áreas desafiantes: servir o povo na partilha da Palavra de Deus, servir na Liturgia e servir na caridade as pessoas mais necessitadas. Como sou candidato ao Diaconato transitório, almejando o Sacerdócio, serão seis meses de atividade diaconais que, com a ordenação sacerdotal deverá se perpetuar, tornando-se atitude para toda a vida. 

A12.com - Qual o tema que escolheu para sua ordenação diaconal e o que ele diz sobre a sua vocação? 
O tema tem tudo a ver com o serviço: “No meio de vós como aquele que serve” (Lc 22,27). Como Jesus servidor de todos, me proponho continuar servindo mais ainda, assumindo também as responsabilidades de Diácono. Toda vocação inspirada por Deus tem como base o serviço, nunca o poder. Todo aquele que se coloca em atitude de ouvir a voz de Deus, discernir sua vontade e agir em Seu nome, deve ter uma postura de rebaixamento que engrandeça o outro e resgate o que lhe foi tomado, perdido. É nesse sentido que eu quero me colocar como Diácono e, posteriormente como sacerdote. É claro que, para conseguir ser assim, é indispensável a ajuda de Deus e dos irmãos, por isso eu peço a todos que me ajudem rezando por mim.

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