Conhecemos Santo Afonso como aquele que cantou as glórias de Maria. Porém, parece-me que, muitas vezes, nos esquecemos que sua experiência religiosa e a fecunda catequese que recebemos de seus escritos estão profundamente enraizadas em sua confissão de fé em Jesus Cristo. Ele é o apóstolo do amor! Com afeto inigualável, nos convida à prática de amar a Jesus. Podemos dizer que o amor a Jesus Cristo é fio de ouro que perpassa todos os seus escritos e doutrina.
Santo Afonso dialoga e supera em muito o pensamento teológico de seu tempo, marcado pela disputa entre o rigorismo e o laxismo. Enquanto para os primeiros tudo era visto na ótica do pecado e do proibido; os laxistas facultavam a permissividade, com o fraco sentido de pecado e a forte autonomia do ser humano frente a todas as coisas.
Do rigorismo surge a doutrina da expiação, segundo a qual o pecado humano fere Deus em sua dignidade e isso exige reparação da parte do ser humano. Por isso, a insistência no sacrifício, proibições, penitências e outros meios como imposição da vontade de um Deus ferido.
Todavia, por mais que o ser humano se esforçasse, sempre estaria em dívida com Deus. Para reparar um pecado contra Deus, somente um Deus poderia fazê-lo. Como o ser humano jamais poderá chegar à condição de Deus, sua dívida será eterna. Dessa forma, a humanidade está condenada ao sofrimento, como consequência de seu pecado.
Leia MaisUma história de Natal na Segunda Guerra Mundial que não deve ser esquecidaReze a Novena de Natal de Santo Afonso com os Missionários Redentoristas É nesse contexto que Afonso reflete sobre o mistério da encarnação e nascimento de Jesus. Em sua meditação sobre o Natal, ressalta que a encarnação do Verbo manifesta de forma absoluta a inteira iniciativa de Deus em salvar o ser humano.
Em estilo romanceado, no diálogo entre o Pai e o Filho, Afonso nos ensina que o nascimento de Jesus na condição humana é fruto de sua total liberdade que, respondendo ao apelo do Pai, procura satisfazer toda a justiça divina sem que isso destrua o ser humano.
Por isso, a encarnação é a revelação da absoluta misericórdia divina, que supera a visão aterrorizante de um Deus implacável, sempre pronto para punir.
A reparação que Jesus realiza pelo mistério de sua vida é absoluta e eterna, fruto de sua entrega total à vontade salvífica do Pai. Nesse sentido, no pensamento de Afonso, encarnação e paixão estão estreitamente ligadas entre si, porque Jesus, mesmo consciente de todo sofrimento pelo qual passaria em sua existência terrena, faz a oferta oblativa de si ao Pai em favor da humanidade.
O Pai não é o Deus terrível que envia seu Filho para morrer em reparação do pecado da humanidade. É o Filho que, por amor à humanidade e desejoso em cumprir a vontade salvífica do Pai, livremente se encarna e se entrega na cruz por nossa salvação. Assim, nele se cumprem toda a justiça e toda a misericórdia de forma complementária.
O amor é a chave com a qual Afonso interpreta o mistério da redenção em Cristo. Segundo ele, em valor, a encarnação ultrapassa a criação, porque exprime a excelência do amor de Deus, que se rebaixa à condição de criatura (perecível em função do pecado), e nessa condição responde ao apelo do Pai (nele acontece a reconciliação com Deus) e, por sua entrega na cruz, destrói o pecado em sua raiz (cumpre a justiça).
Sem o amor, a justiça torna-se implacável, destruidora e não abre espaço para a misericórdia. Pelo amor, Deus concilia o cumprimento da justiça com a prática da misericórdia na pessoa de Jesus. Dessa forma, supera-se o rigorismo, ao mesmo tempo em que subordina-se a salvação ao amor. Assim, o amor como essência de Deus é revelado no mistério de Jesus. Por isso, quem ama permanece em Deus e pode gozar da salvação (Cf. 1Jo 4,16).
Segundo Afonso, na condição humana de uma criança frágil, Jesus se faz amável para despertar no ser humano o amor e atraí-lo a si. Portanto, negar-se a amar é recusar a salvação de Deus e permanecer no pecado. Aqui se recupera o sentido da liberdade humana, porque somente no amor é que o ser humano se faz livre e reflete em si a imagem de Deus.
Dessa forma, o ser humano não se converte pelo medo de Deus, mas somente quando opta por amá-Lo. Para quem ama, deixar coisas e assumir outras nem sempre agradáveis não é peso, porque o amante sempre procura fazer tudo o que agrada ao amado.
É a pedagogia do presépio. Na extrema pobreza que reflete a contingência humana, Jesus não se impõe ao ser humano com violência. Fazendo-se amável, incentiva cada pessoa a, na liberdade, escolher amar e, em decorrência disso, abandonar o pecado e criar novas atitudes. Quem ama está em Deus, tem a vida de Deus em si e se converte numa nova criatura ao estilo de Jesus em sua humanidade.
Na realidade mundial de hoje em que os grupos se radicalizam reivindicando o monopólio da verdade e querendo impor suas ideias pela força, o Natal vem com uma mensagem de amor e de reconciliação. O olhar de Deus se volta para nossa fragilidade. É convite para que desconfiemos de nossas verdades absolutas para nos dispor a escutar mais as pessoas em suas carências e necessidades.
No Menino de Belém, Deus nos atrai para o caminho do amor. Segundo a espiritualidade de Afonso, nossa sensibilidade ante a fragilidade do Menino Jesus deve nos fazer sensíveis aos sofrimentos humanos, sobretudo dos mais fracos. Não se reconcilia ou se constrói a paz com violência ou imposições, mas no amor. Quem ama respeita e valoriza a vida de todos, porque no amor, justiça e misericórdia andam juntas e manifestam em toda a sua plenitude o mistério da redenção.
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