Semana Vocacional

Semana Vocacional: “Como ouvir a voz de Jesus se vivemos centrados em nós mesmos?”

Individualismo e a surdez espiritual afetam cada vez mais os jovens e membros da Igreja

Escrito por Secretariado Vocacional Redentorista

04 JUL 2023 - 15H05 (Atualizada em 18 AGO 2023 - 10H59)

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Hoje, pensar em escutar a voz de Deus que nos chama é um desafio. Pelo fato de vivermos numa sociedade pluralizada, multifacetada, líquida e que, cada vez mais, se torna secularizada, o questionamento sobre a vontade de Deus e seu chamado a cada jovem é colocado em xeque.

Mas também devemos pensar em como a Igreja, enquanto Mãe e Mestra - Mater et Magistra - está respondendo aos questionamentos do tempo presente e apresentando este Jesus de Nazaré, que passou pelo mundo fazendo o bem (cf. At 10,38), dando-nos a oportunidade de nos reconciliarmos novamente com Deus (cf. 2Cor 5,20).

Utilizemos, então, a passagem do filho pródigo (Lc 15,11-32) para realizarmos nossa reflexão e percebermos o quanto os questionamentos de um mundo secular e de uma Igreja que deve buscar novos meios de evangelização são importantes para compreendermos o chamado de Deus.

“Um homem tinha dois filhos” (Lc 15,11). Hoje, podemos ver na sociedade, jovens cada vez mais decididos a não ter filhos, ou que estão tendo filhos cedo demais e não vivendo cada etapa de suas vidas; com isso acabam perdendo fases, como a adolescência e a infância, tendo que se tornarem adultos rapidamente.

O chamado de Deus não ressoa apenas no coração de jovens homens, atraindo-os para o ministério sacerdotal diocesano ou religioso. O chamado divino ressoa no coração de cada ser humano para as diversas vocações existentes no mundo. Dentre as vocações, uma das mais importantes é a família.

A família é o alicerce fundamental para o nascimento de todas as vocações. O casal, ao conceber ou adotar um filho ou uma filha, projeta para eles um futuro (será médico, dentista ou padre, por exemplo), mesmo antes da criança tomar consciência de sua existência no mundo e perceber que ela também é chamada a responder a Deus em sua liberdade. A própria família é uma resposta de amor.

O que encontramos atualmente são casos de desestruturação familiar e o enfrentamento de problemas como drogas, prostituição, alcoolismo, tabagismo, agressões, machismos e feminismos, brigas e rachas motivados pela política, entre tantos outros. Nisso, a criança cresce num ambiente em que, ao necessitar de cuidados, pode não os encontrar, acabando por ficar sem rumo, sendo levada ao individualismo e tendo de cuidar de si mesma. Dessa forma, não escuta a voz que ressoa em seu coração.

O mais novo disse ao seu pai: 'Pai, quero a minha parte da herança'. Assim, ele repartiu sua propriedade entre eles. Não muito tempo depois, o filho mais novo reuniu tudo o que tinha e foi para uma região distante” (Lc 15,12-13a). Num lar onde o ambiente torna-se impróprio para a existência e o jovem não é ouvido, é maltratado, excluído e etiquetado como peso, percebe-se a fuga daquele local e com isso o racha na família torna-se maior.

Pensemos quando dentro da comunidade eclesial, o jovem não consegue encontrar seu lugar, não por falta de espaço entre as diversas pastorais e movimentos, mas por causa da “doença de pensar que somos indispensáveis, imortais e imunes”. 

Isso significa a atitude de membros da comunidade que não abrem espaço aos jovens por medo de serem colocados de lado; ou de saírem do serviço pastoral e darem lugar a pessoas jovens para que o trabalho em prol do Reino de Deus e da Igreja seja renovado. Esse mal afasta o jovem! Uma Igreja que perde o frescor do Espírito e não se atualiza (sem perder a Tradição e o Magistério), fica enrijecida, engessada e não atrai a juventude.

Há também a problemática do mundanismo e do secularismo, que impulsiona a juventude a acreditar que a crença e a fé em Deus é algo do passado, e que não responde mais aos questionamentos pós-modernos, levando os jovens a saírem do meio eclesial por não terem mais a fé em Jesus Cristo.

O jovem, então, passa a viver a própria vida, sem dar justificações a ninguém (cf. Gn 4,9). Ele pensa que responder ao chamado de Deus e viver na comunidade eclesial seja como leigo, religioso, padre, bispo, irá perder sua liberdade para uma estrutura e a este Algo que ele mesmo não compreende. Por fim, o jovem parte; foge para viver sua vida, pensando em si mesmo. “E lá desperdiçou os seus bens vivendo irresponsavelmente” (Lc 15,12b).

O mundanismo leva o jovem a uma vida devassa, se expondo nas redes sociais, mostrando cada passo que dá em seu dia; sem tempo para a religião, para a comunidade, para a família, pois tem que trabalhar, estudar, se divertir e se esquece daquilo que é essencial: a família e a busca por Deus. Cada vez mais, vemos jovens perdendo o sentido da vida. Jovens enfermos sofrendo de “esquizofrenia existencial”, deixando de viver sadiamente.

O individualismo e a surdez espiritual afetam cada vez mais os jovens e membros da Igreja. Esquecemo-nos do sentido da vida e de escutar a voz do Senhor. Caímos nas tentações do diabo: a ambição, o lucro, a luxúria, a ostentação (cf. Mt 4,3-4) de se achar acima de todas as verdades de fé, chegando num racionalismo, num cientificismo, que não permitem que a mensagem do Evangelho transforme a cada dia o coração (cf. Mt 4,5-7), como também a tentação de querer ser o “dono do mundo”, da própria vida, estando acima de Deus e não optando pela humildade do Evangelho (cf. Mt 4,8-9).

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"Como ouvir a voz de Jesus se vivemos em centrados em nós mesmos" é o tema do 6º dia da 54ª Semana Vocacional


“Depois de ter gasto tudo, houve uma grande fome em toda aquela região, e ele começou a passar necessidade” (Lc 15,14). A vida não é um “mar de rosas”. Exige de cada um a maturidade necessária para enfrentar os problemas e as dificuldades que surgem ao longo do caminho. A perca do sentido da vida, as dificuldades e problemas levam muitos jovens, todos os anos, ao suicídio. A centralidade em si mesmo, a autossuficiência (cf. Gn 3,1-7) e o individualismo são males causados pela própria ambição humana, que não compreende o amor de Deus e quer estar no controle de todas as coisas.

A ambição do homem o cega, o deixa surdo, preso num ciclo de erros, como separar-se da família, não ouvir a voz que clama dentro de si, em seu coração (cf. Is 40,3-5); torna-o egoísta e individualista. A mundanidade corrompe o ser humano e o deixa cético diante do grande mistério de Deus. Foge da casa paterna (cf. Lc 15,13a) para querer se adequar ao que o mundo exige: liberalidade exacerbada, sexualidade pulsante, busca incansável por prazeres momentâneos, entre tantos outros problemas que os jovens, hoje, enfrentam e que os afastam da voz do Senhor.

Esta secularização da sociedade pós-moderna acaba por deixar o ser humano sem um sentido para a própria vida. Quando se tiram os paradigmas e tabus, deve-se ter em mente o que colocar no lugar; devem-se ter novos paradigmas e novos tabus estruturados.

Caso contrário, o vazio que fica na sociedade consome o ser humano, que já não tem mais onde se apoiar diante do imenso mar de desespero, que é criado com a liquefação das bases da sociedade: família, religião, fé etc. A fome que o filho pródigo sentiu ao abandonar a casa paterna e gastar toda sua herança, é a fome de sentido para a sua vida. Essa mesma fome é a que afeta a vida do ser humano hoje, num mundo secular, superficial e sem base.

Eu me porei a caminho e voltarei para meu pai e lhe direi: ‘Pai, pequei contra o céu e contra ti’” (Lc 15,18). São muitas as “vozes” que nos ensurdecem no mundo moderno: as tecnologias, a comunicação instantânea, a falta de relações corpo a corpo que enriquecem a vida do ser humano, a secularização da sociedade ocidental, a racionalização de tudo e de todos. Quando o ser humano percebe que tudo isso o prejudica, deixando-o à beira da loucura ou da morte, busca retornar para a “casa paterna” (cf. Lc 15,18). E aí está o desafio da Igreja: acolher estas pessoas de uma forma nova e cativante.

Numa sociedade onde a facilidade de obter prazer e a racionalização/cientificização gritam, a Igreja deve buscar meios e caminhos novos para anunciar o Evangelho, a Boa Nova de Cristo ao mundo. “Anunciar o Evangelho de forma sempre nova” é o que clamava São Clemente Maria Hofbauer. Um clamor do passado que se faz presente, em que a Igreja deve pensar, sem perder ou corromper a Tradição, o Magistério e inspirando-se sempre nas Sagradas Escrituras.

“A seguir, levantou-se e foi para seu pai. Estando ainda longe, seu pai o viu e, cheio de compaixão, correu para seu filho, e o abraçou e beijou” (Lc 15,20). A Igreja, enquanto sacramento de Redenção (SC1), deve-se colocar como tal diante daqueles que se afastaram de seu seio, e, após certo tempo, buscaram retornar.

A Igreja não pode ser juíza e promotora contra aqueles que retornam, mas como o pai deve correr ao encontro dos filhos e filhas perdidos de Deus, abraça-los e beijá-los (cf. Lc 15,20). E ainda como Jesus à mulher adultera: “Mulher, onde estão eles? Ninguém a condenou? Eu também não a condeno. Agora vá e não peques mais” (Jo 8,10-11).

A Igreja deve continuar o gesto de Jesus com os discípulos no caminho para Emaús: “E, começando por Moisés e todos os profetas, explicou-lhes o que constava a respeito dele em todas as Escrituras” (Lc 24,27), para que aqueles que retornam ao convívio do seio eclesial, possam ter seu coração ardente, ao ouvirem todas estas coisas (cf. Lc 24,32). Quando o filho retorna à casa paterna, depois de um tempo de tribulação, volta a escutar a voz dos pais; da mesma forma os jovens quando retornam ao convívio no seio da Igreja ou quando estão no momento mais difícil de suas vidas: sentem seus corações arderem ao escutarem a voz do Senhor, pois se despem das vestes da surdez e do individualismo, e passam a prestar atenção ao chamado de Deus para a missão.

Fr. Rafael Peres Nunes de Lima, C.Ss.R.
Comunidade Religiosa Formativa São José
Ipiranga - São Paulo/SP

Para refletir:

1. Como podemos anunciar o Evangelho aos jovens dentro de uma sociedade secularizada, pós-moderna e plural?

2. Diante da pluralidade da sociedade moderna, como poderemos ouvir o chamado de Deus?

3. Como motivar a juventude a escutar mais a voz do Senhor que a chama para a missão em suas diversas frentes?

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