Fachada Sul
Conheça mais sobre a arte sacra navegando através dos pontos nas cenas da Fachada.
39. Jesus sobe aos céus
40. A nova Arca da Aliança
43. A dormição da Virgem Maria
42. As testemunhas – Ap 11
41. Caná da Galileia
20. O Lava-pés
12. O Nascimento de Jesus
13. A adoração dos Magos
21. A agonia no Getsêmani
22. A condenação de Jesus
14. Apresentação de Jesus no Templo
15. Fuga para o Egito
16. Com a chegada do verdadeiro Deus
24.O reconhecimento de Jesus
23. A Crucificação
25. Jesus desce à mansão dos mortos
17. Jesus é batizado
34. O martírio de São João Batista e São Tiago
35. São Pedro na prisão
36. São Paulo batiza o chefe da prisão
38. Jesus é o servo sofredor
44. Arcos da Colunata
37. Igreja é Corpo de Cristo
28. A aparição a Maria Madalena
31. O martírio de Santo Oscar Romero
9. A Virgem Maria visita sua prima
6. A Anunciação do Anjo
4. Maria tecelã
3. A entrada da Virgem Maria no Templo
5. Novo Templo
44. Arcos da Colunata
2. O Nascimento da Virgem Maria
1. A visão de Balaão
Os mosaicos da Fachada Sul do Santuário Nacional anunciam o mistério de Cristo, em sua Encarnação, Paixão, Morte e Ressurreição. Como um grande baú da Tradição, da Escritura e do Magistério, a Fachada Sul também nos apresenta a vida de Cristo e seu prolongamento na vida da Igreja.
Esses e os mosaicos das demais fachadas são como um organismo no qual tudo está interligado e que impede qualquer um de se lembrar de si mesmo sem, conjuntamente, ver o Rosto do Outro, Daquele que por ele deu a própria vida, para que possa viver, e que o faz sentir o quanto é precioso aos seus olhos. Os mosaicos fazem memória de uma realidade que abraça toda a nossa existência e a ultrapassa, abraçando a existência do universo e a existência do Rosto do Pai, do Filho e do Espírito, que regeneram completamente a minha existência, tornando-a Templo de Deus, como vemos escrito bem à frente da Fachada Sul: “Acaso não sabeis que sois templo de Deus e que o Espírito de Deus habita em vós” (1Cor 3,16)
A Fachada Sul foi a segunda das quatro fachadas a receber o revestimento com mosaicos. A obra foi iniciada em 2022 e foi concluída em 2024. Junto a ela se encontra a Colunata dos Apóstolos, que precisou ser reconstruída e que também recebeu mosaicos sobre seus arcos. Os mais de 4 mil metros quadrados de mosaicos foram concebidos e executados por cerca de 30 mosaicistas de diversas nacionalidades, ligados ao Centro Aletti, de Roma, Itália. As pedras que os compõem são provenientes de diversos países, entre eles o Brasil, a França, a Grécia e o Afeganistão. A obra foi realizada com doações feitas pela Família dos Devotos, iniciativa que reúne fiéis para que sejam possíveis as obras sociais, de construção e de evangelização do Santuário Nacional de Aparecida. Saiba você também como fazer parte, acessando aqui.
Sugerimos que você comece a contemplar os mosaicos da Fachada Sul pela face ocidental (lado esquerdo), que está voltada para o Monumento de Nossa Senhora de Guadalupe. Desejamos uma boa visita a você!
1. Balaão tem uma visão do Messias e abençoa o povo de Israel, ao invés de amaldiçoá-lo (Nm 23-25)

Eu o vejo, mas não agora; eu o contemplo, mas não de perto. Surgirá uma estrela de Jacó e se levantará um cetro de Israel que esmagará os chefes de Moab e abaterá todos os filhos de Set (Nm 24,17).
A cenas que encontramos na face ocidental da Fachada Sul apresentam-nos a preparação para a vinda de Jesus. No alto, a primeira cena apresenta-nos a profecia de Balaão, representado no mosaico olhando ao longe sobre sua jumenta. Ele havia sido chamado pelo rei Balaque para amaldiçoar o povo de Israel. Mas ele não consegue fazer isso, pois Deus lhe manda abençoar e não maldizer. E o próprio Senhor lhe concede uma visão: uma estrela, colocada entre a face oeste e a parte frontal da Fachada Sul, a estrela que surgirá de Jacó (Nm 24,17). Por isso, sua mão aponta para ela.
Ao mesmo tempo, a mão de Balaão aponta para a figura de José do Egito, filho de Jacó, cuja história encontramos na face oriental da Fachada Norte. Na Fachada Sul, ele é representado no meio dos feixes de trigo, como em seu sonho narrado no livro do Gênesis (37,6-7). Junto dele, está representada a túnica de mangas longas, que lhe foi dada pelo pai Jacó, motivo de inveja dos seus irmãos. Ao mesmo tempo, os feixes lembram que José salvou seus irmãos com alimento, assim como Jesus, na Eucaristia, nos salva e se entrega como alimento.
A imagem de José do Egito na Fachada Sul faz unidade com a Fachada Norte, pois José nos ajuda a ler a humanidade de Cristo. Por isso a estrela está representada parte na face ocidental da Fachada Sul e parte na frente da mesma Fachada, onde veremos a cena do Nascimento de Jesus em Belém. Na estrela encontra-se ainda uma homenagem ao artista Taras, um colaborador do ateliê do Centro Aletti vitimado na Guerra entre a Rússia e a Ucrânia, cujo nome está gravado em uma das pontas do astro.

Deus os abandonará até o tempo em que der à luz aquela que deve dar à luz. Então o resto de seus irmãos voltará aos filhos de Israel. (Mq 5,2)
O nascimento da Virgem Maria não está presente na Bíblia, mas é contado pelos evangelhos apócrifos. No mosaico, observamos que Joaquim e Ana, seus pais, estão na mesma posição que José e Maria se apresentam na cena da Natividade de Jesus que veremos adiante.
Maria é banhada por uma mulher e colocada dentro de uma taça que a reveste, fazendo alusão ao sacramento do Batismo. Outras mulheres também compõem a cena, colocadas assim como os Reis Magos foram retratados na cena da Epifania, demonstrando que ali estavam mulheres que perceberam que havia nascido uma menina diferente de todas as outras. Por meio dela, virá Aquele que resgatará toda a humanidade, pois ela está destinada a ser a Mãe do próprio Deus encarnado.
3. A Virgem Maria é levada ao Templo por seus pais

“Canta e exulta, filha de Sião, porque eu venho morar no meio de ti” (Zc 2,14)
Assim como seu nascimento, a entrada da Virgem Maria no Templo não está descrita nos evangelhos, mas nos é legada pela Tradição e, sobretudo, pelo protoevangelho de Tiago. O escrito afirma que, ao completar três anos, ela foi levada ao Templo por seus pais. Essa é a cena retratada pelo mosaico.
O véu da Virgem Santa apresenta três estrelas, símbolos da virgindade perpétua – antes, durante e depois do parto. Também estão representados seus pais – São Joaquim e Sant’Ana e o Sumo Sacerdote, que observa com surpresa a pequena Maria que se aproxima do véu que separa o Tabernáculo do Templo. Ela puxa um fio desse véu, começando a destruí-lo. Isso porque será ela que, em seu ventre virginal, vai tecer o véu genuíno que é o corpo de Cristo (Hb 10,19-20). O véu do Templo separava. O corpo de Cristo, verdadeiro Templo (Jo 2,21), une (Cl 1,18).

Eis que a virgem está grávida, vai dar à luz um filho e lhe porá o nome de Emanuel (Is 7,14).
Entre as últimas cenas que encontramos da face ocidental da Fachada Sul vemos Maria, que é o véu do Templo, representado em forma de túnica. Esse formato nos recorda a túnica dada a José por seu pai (Gn 37,3), mas também o momento da Paixão, quando os soldados não quiseram repartir a túnica de Cristo (Jo 19,23-24), imagem sacerdotal do homem novo, unido ao Pai.
Maria, por meio de sua humanidade, dá a vida humana àquele que, por sua humanidade, nos dará a graça de sermos filhos. Santo Efrém, o Sírio, afirmou que na anunciação Maria é a costureira que tece o templo verdadeiro, a carne de Cristo. Isso é simbolizado pelas cores da túnica: vermelho roxo, vermelho escarlate e carmesim, cores da carne e também as cores do véu do Templo (Êx 26,31-37).

Vi que brotava água por debaixo do limiar do templo para o oriente, porque a fachada do templo dava para o oriente. Essa água vinha de baixo, do lado direito do templo, do lado sul do altar” (Ez 47,1)
A profecia de Natã, representada na cena, mostra que o Rei Davi, longe da Palavra de Deus, se inclina para construir o Templo. Ele não entende, porém, que o profeta não fala de um templo de pedra, mas do próprio Cristo, o novo Templo.
Essa cena está diretamente ligada à última cena da Fachada Norte, onde a Tenda que vai abrigar os Mandamentos é construída sob a coordenação de Moisés. Agora, é Maria a verdadeira Tenda que abriga o próprio Cristo.
Vê-se ainda o Templo jorrando água, alusão ao lado aberto de Cristo, onde jorra sangue e água (Jo 19,34-35) e nasce a Igreja (CIC, 766). Essa água continua a escoar pela cena inferior, onde o Tronco de Jessé e o deserto, que estavam secos, ganham vida com essa água. A água que jorra do lado aberto de Cristo faz a morte transformar-se em vida.

Disse-lhe o anjo: “Não tenhas medo, Maria, porque Deus se mostra bondoso para contigo. Conceberás em teu seio e darás à luz um filho e lhe porás o nome de Jesus”. (Lc 1,30-31)
O lado esquerdo da face frontal da Fachada Sul apresenta-nos o mistério da Encarnação de Jesus e o lado direito o mistério da Paixão de Jesus. No nível do chão, no Átrio dos Apóstolos, seis cenas dão as boas-vindas ao devoto que se aproxima do Santuário Nacional por esse lado. Cada uma delas se conecta com outras duas cenas no interior da galeria que leva aos confessionários, entrelaçando Antigo e Novo Testamento, lendo um à luz do outro.
Na primeira cena do lado esquerdo, no nível do chão, vemos duas anunciações. Primeiro, o anjo Gabriel se aproxima da Virgem Maria, como portador da Palavra de Deus que se dirige a ela e a convida a colocar-se à disposição da história da salvação. Maria, de coração aberto, acolhe a Palavra fazendo-se a “serva do Senhor” (Lc 1,38). Em seguida, vemos José e o anjo que lhe fala em sonho para que não tenha medo de receber Maria como esposa, “porque a criança que ela tem em seu seio vem do Espírito Santo” (Mt 1,20). Ele também acolhe esse convite e assume a vocação de guardião do Filho de Deus e de sua Mãe.
7. O profeta Isaías e sua profecia sobre a virgem grávida (Is 7,10-17)

Disse Isaías: “Por isso, o próprio Senhor vos dará um sinal. Eis que a jovem está grávida, vai dar à luz um filho e lhe porá o nome de Emanuel” (Is 7,14).
Atrás da cena da Anunciação, temos um profeta do Antigo Testamento – Isaías – que segura o rolo da Palavra e prediz aquilo que está na cena frontal: “Uma Virgem conceberá e dará à luz um filho, e lhe porá o nome de Emanuel” (Is 7,14).

“Que se alegrem o deserto e a terra seca, que a estepe exulte e floresça como a rosa. Que ela se cubra de flores, exulte de alegria e cante com júbilo. Foi-lhe dada a glória do Líbano, o esplendor do Carmelo e do Saron. Eles verão a glória de Javé, o esplendor de nosso Deus” (Is 35,1-2).
Na rampa que dá acesso à Capela das Confissões, atrás da cena da Anunciação e a cena do Profeta Isaías, temos uma bela imagem simbólica que recolhe outros trechos da profecia de Isaías e se conecta às duas cenas anteriores: é o deserto que começa a florir, a revestir-se de beleza e de vida (Is 35,1-10), é o toco que resta depois da poda e se torna uma semente santa, uma muda de algo novo (Is 6,13). Essa cena poderia ser considerada com a imagem inicial de tudo que se vê representado na Fachada Sul.
9. A Virgem Maria visita sua prima, Santa Isabel, também grávida (Lc 1,39-56)

“Tu és bendita entre as mulheres e bendito é o fruto de teu ventre! Como me é dado que venha a mim a mãe de meu Senhor? Pois assim que chegou a meus ouvidos a voz de tua saudação, o menino saltou de alegria em meu seio. Bem-aventurada aquela que acreditou que se cumpriria o que lhe foi dito da parte do Senhor!” (Lc 1,42-45)
Após receber o anúncio do anjo de que seria a Mãe do Salvador, Maria coloca-se a caminho, para visitar sua prima Isabel. Essa, também grávida, era idosa e já tida como estéril (Lc 1,36), mas acaba por conceber São João Batista, o profeta escolhido para preparar o caminho do Senhor (Is 40,3-4).
Frequentemente, a iconografia cristã representou lado a lado a cena da anunciação e a da visitação, como faz o próprio Evangelho de São Lucas. Com o mesmo gesto com que acolhe a Palavra, Maria acolhe Isabel.

“Levanta-te e vai a Sarepta, que pertence a Sidônia, e lá habitarás. Ordenei lá a uma viúva que te dê o sustento”. (1Rs 17,9)
Logo atrás da cena que representa a visita de Maria a sua prima Isabel, no corredor interno vemos uma cena do Antigo Testamento que remete ao sentido de cuidado e de reconhecimento do outro. É a viúva de Sarepta, que alimenta Elias com o pouco que tem de farinha e azeite, e acontece que ao repartir o que tem o alimento não acaba, mas, ao contrário, se prolonga por muito tempo (1Rs 17,8-16).
11. A parábola do bom samaritano (Lc 10,25-37)

Um samaritano, porém, que ia de viagem, chegou perto dele e, ao vê-lo, teve compaixão. Aproximou-se dele e fez curativos em suas feridas, derramando óleo e vinho (Lc 10,33-34).
Logo atrás da cena que representa a visita de Maria a sua prima Isabel, no corredor interno, em frente do mosaico que representa a viúva de Sarepta alimentando o profeta Elias, vemos uma cena do Novo Testamento que também remete ao sentido de cuidado e de reconhecimento do outro. É a parábola do bom samaritano, outra narrativa centrada no mandamento do amor ao próximo. No mosaico, vemos o próprio Jesus como o bom samaritano, sanando as feridas da nossa humanidade enferma. Em todas essas cenas, destaca-se a atitude da acolhida, marca também do Santuário de Aparecida. Aqui Deus nos acolhe e nos restaura.

Maria deu à luz seu filho primogênito; envolveu-o em faixas e o deitou num presépio, porque não havia lugar para eles na hospedaria (Lc 2,7).
No alto da frente da Fachada Sul, do lado esquerdo, logo abaixo das cenas relacionadas ao dia de Pentecostes, vemos a cena da natividade. A Virgem Maria e São José vão a Belém para um recenseamento, promulgado por César Augusto. Ali chegando, não encontram lugar na hospedaria e Jesus nasce em uma estrebaria, sendo colocado em uma manjedoura – local do alimento – que, no mosaico, é identificada como um cálice que possui uma ferida, recordando o sangue de Cristo, verdadeira bebida que nos dá a vida (Jo 6,54-56).
Ao lado, podemos ver sua mãe, a Virgem Maria. Ela não retém Jesus para si, mas com uma mão indica a manjedoura e com a outra oferece Jesus, pois é para nós que nasceu o Salvador (Lc 2,11). Também foi ela quem o envolveu em faixas (Lc 2,7), sinal de que o Menino está destinado a morrer. Mas Ele não está envolto nelas, elas estão apenas colocadas ali, pois Ele ressuscitou e as faixas estão ali apenas para testemunhar que Ele se encarnou, morreu e ressurgiu dos mortos. Suas vestes são paramentos sacerdotais, simbolizando que Ele é o Sumo Sacerdote que uniu a humanidade à Redenção por meio de seu sacrifício (Hb 7,26-27; 8,1-3).
Também se pode ver São José. Ele tem em suas mãos o bastão da raiz de Jessé, que começa a florescer. Ele não tem seus olhos voltados para o interior da cena, mas olha para o alto, para Deus Pai, reconhecendo que aquele Menino que acaba de nascer é o Filho de Deus.
13. Guiados pela estrela, os Magos encontram Jesus, o adoram e entregam seus presentes (Mt 2,1-12)

Ao verem a estrela, sentiram uma alegria muito grande. Eles entraram na casa e viram o menino com Maria, sua mãe. E caindo de joelhos o adoraram (Mt 2,10-11).
Vindos do Oriente, os Magos – provavelmente estudiosos das estrelas – reconheceram em Jesus o verdadeiro Rei. Guiados pela estrela, procuraram por ele no Palácio de Herodes, mas o encontraram na simplicidade.
Assim como na narrativa bíblica, no mosaico vemos que o Menino Deus está no colo de sua Mãe Maria e sob a tutela de São José, que em suas mãos segura um pão: é ele o responsável por nutrir Jesus, que será o pão da vida. Veem-se quatro Magos – um do extremo oriente, um africano, um indígena e um europeu – e cada um deles oferece um presente, totalmente rendidos a Cristo. Ouro, incenso, mirra e uma escada. Esse último presente, para que Cristo possa descer na Terra e chegar a todas as culturas, tornando-se o mais precioso dom. Maria acolhe os presentes – atitude simbolizada pela abertura de seu manto, símbolo de acolhida – e acolhe os Magos, pois com uma mão protege a bênção que o Filho concede aos estrangeiros.
No canto da representação está o Rei Herodes, sentado sobre os inocentes martirizados a seu mando, enquanto buscava matar Jesus para conservar o poder terreno, representado pelo trono que o rei segura (Mt 2,16-18). Acima dele estão os sumos sacerdotes e escribas que apontam onde deve nascer o Cristo.

“Meus olhos viram vossa salvação, que preparastes diante de todos os povos, luz para iluminar as nações e glória de Israel, vosso povo” (Lc 2,30-32).
A Lei Mosaica estabelecia que todo primogênito deveria ser consagrado ao Senhor (Êx 13,2). A Sagrada Família também foi cumprir esse mandato da Lei.
Na cena, vemos São José no Templo oferecendo duas pombinhas, conforme a prescrição indicada para famílias mais pobres (Lv 5,7). Lá a Sagrada Família encontra dois idosos que eram iluminados pelo Espírito Santo: Simeão, homem “justo e piedoso; esperava a consolação de Israel e o Espírito Santo estava nele” (Lc 2,25) e a profetiza Ana, que logo reconhecem o Messias.
Simeão acolhe o Menino e faz uma profecia sobre Ele para a Mãe, que continua a ser como uma “escada” pela qual Cristo se revela. Por isso ela está com Jesus em suas mãos como que em um trono. Ele tem um pergaminho, um rolo do livro, onde o cordeiro
recorda aquele cordeiro mencionado nos Cânticos do Servo de Isaías (42,1-7; 49,1-6; 50,4-9; 52,13-53,12), recordando que sua vida será oferecida em sacrifício: vemos como o Menino parece ser posto em cima do altar.
15. Herodes decide matar os inocentes e, para salvar a vida de Jesus, a Sagrada Família foge para o Egito (Mt 2,13-18)

José levantou-se, tomou de noite o menino e a mãe dele e partiu para o Egito. Ficou lá até a morte de Herodes, para se cumprir o que o Senhor falara pelo profeta, com as palavras: “Do Egito chamei meu filho” (Mt 2,14-15).
Na Fachada Norte, vimos que o povo saiu do Egito rumo à Terra Prometida. Agora, na Fachada Sul, nasce o Filho de Deus e, para salvá-lo, é preciso abandonar a Terra Prometida. A Sagrada Família vai para o Egito para salvar-se da ordem de Herodes de matar todos os meninos hebreus.
Na representação do mosaico, Jesus está sentado sobre os ombros de São José, indicando a terra do Egito com uma mão e, com a outra, segurando um rolo, que mais uma vez recorda que Cristo não vai para lá para fazer a sua vontade, mas a do Pai que o enviou (Jo 6,38). Seu pai nutrício está a caminho, conduzindo um jumento que leva a Virgem Maria, que em suas mãos possui um cacho de tâmaras, fazendo referência a antigas tradições – sobretudo provenientes da Igreja do Oriente – que afirmam que as árvores se inclinavam para a Sagrada Família passar, ofertando seus frutos.

Pois Javé é grande e digno de sumo louvor, temível mais que todos os deuses. Porque são um nada todos os deuses das nações, mas Javé fez os céus (Sl 96,4-5).
As mesmas antigas tradições orientais também afirmam que, com a passagem de Jesus pelo Egito, os ídolos egípcios se rompiam, como o obelisco representado nesta cena do mosaico. Isso simboliza que a chegada de Cristo marca o fim da idolatria e a vitória do verdadeiro Deus sobre os falsos deuses.
Essa visão é uma interpretação teológica sobre a missão de Jesus, alinhada com passagens como Isaías 19,1: “Eis que o Senhor cavalga sobre uma nuvem ligeira, e vem ao Egito. Os ídolos do Egito tremem diante dele, e o coração dos egípcios desfalece no peito.”
17. Jesus é batizado por São João Batista (Mc 1,9-10; Mt 3,13-17; Lc 3,21-22)

Jesus veio de Nazaré da Galileia e foi batizado por João no Jordão. E, logo ao sair da água, viu os céus se abrirem e o Espírito, como uma pomba, descer sobre ele (Mc 1,9-10).
No último mosaico no nível do chão, do lado esquerdo encontramos o Batismo de Jesus. No início de seu ministério, já adulto, Jesus vai ao deserto, até seu primo João Batista, e deixa-se batizar por ele. João Batista, que não se considera digno de desamarrar a sandália dos pés de Jesus, se curva, se abaixa veementemente diante do Filho de Deus. Mesmo assim, é Jesus quem ocupa a posição mais baixa. Ele mergulhou no mistério da nossa humanidade.

“Vai lavar-te sete vezes no Jordão e tua carne te será restituída e ficarás limpo” (2Rs 5,10).
Na parede por trás do mosaico do Batismo de Jesus, vemos uma cena do Antigo Testamento. Naamã, o comandante do exército sírio, procurou o rei de Israel para ser curado de sua lepra. Diante da negativa do rei, o profeta Eliseu interfere e solicita ao militar que se banhe sete vezes no rio Jordão, mas Naamã inicialmente se recusa, dizendo que os rios da Síria são muito melhores que os de Israel. Levando em conta, porém, o parecer dos seus servos, mergulhou no Jordão e foi curado. Sua imersão no Jordão simboliza uma transformação física e espiritual. Ele não apenas é curado da lepra, mas também reconhece o Deus de Israel como o único Deus verdadeiro, deixando sua antiga visão de mundo.
19. Parábola do filho pródigo ou do pai misericordioso (Lc 15,11-32)

O pai disse aos empregados: “Trazei depressa a roupa mais bela e vesti-o; ponde-lhe um anel no dedo e sandálias nos pés. Trazei o vitelo gordo e matai-o. Comamos e festejemos, porque este meu filho estava morto e reviveu; estava perdido e foi encontrado” (Lc 15,22-24)
Atrás da cena do Batismo de Jesus e diante da cena da purificação de Naamã, temos a parábola popularmente conhecida como do filho pródigo, ou do pai misericordioso. Nela há dois filhos, um que permanece a serviço do pai e outro que sai e gasta sua herança. A imagem do pai recebendo esse filho arrependido em sua casa e convidando-o para o banquete é a imagem do batismo de cada um de nós e nos recorda que, perto desse mosaico, há a Capela das Confissões. Ali, por meio do sacramento da penitência, nos reconciliamos com o Pai que nos acolhe de braços abertos.

“Se, portanto, eu, que sou o Senhor e o Mestre, vos lavei os pés, vós também deveis lavar-vos os pés uns aos outros. Pois eu vos dei o exemplo, para que façais como eu fiz” (Jo 13,14-15).
Estamos diante da primeira cena do lado direito da Fachada Sul. No alto, do lado direito, logo abaixo das cenas relacionadas ao dia de Pentecostes, vemos a cena do Lava-pés. Antes de cear, instituindo a Eucaristia e o sacerdócio ministerial, Jesus tomou um jarro e uma bacia e lavou os pés de seus discípulos. Institui ali o mandamento novo – “Assim como eu vos amei, amai-vos uns aos outros” (Jo 13,34).
Aqui se vê Cristo sacerdote, pronto para dar sua vida em sacrifício pela humanidade. Ele lava os pés de Pedro vestindo um avental, assumindo a atitude de servo. Isso faz com que Pedro fique chocado, mas quando ele entende que se trata de um gesto muito grande, pede a Jesus: “Senhor, não só os pés, mas também as mãos e a cabeça!” (Jo 13,9), e, por isso, aponta para ela.
Nas mãos de Cristo está um pão, seu Corpo, onde Ele coloca tudo de Si, oferecendo a Judas. Esse último não pode pegar, pois está com as mãos ocupadas com a sacola de moedas, aquilo que é sua vontade, enquanto Jesus une sua vontade à do Pai para entregar-se inteiramente, assim como entregou o pão.
Vê-se que a auréola de Judas está vazia, com um espaço a ser preenchido. Isso porque ele sai da santidade, traindo o Filho de Deus. Ele é representado de perfil, pois, na iconografia cristã antiga, assim eram representados os grandes pecadores. Há um grande contraponto entre Jesus e Judas. Cristo está totalmente entregue, procurando acolhida. Ele “veio para junto dos seus, mas os seus não o acolheram” (Jo 1,11). Judas não acolhe nem o Senhor, nem a filiação que Ele nos trouxe.
21. Jesus agoniza no Getsêmani (Mt 26,36-46)

“Meu Pai, se for possível, afastai de mim este cálice! Mas não aconteça como eu quero, mas como vós quereis” (Mt 26,39).
Após a Última Ceia, Jesus vai ao Getsêmani para rezar, levando consigo “Pedro e os dois filhos de Zebedeu” (Mt 26,37). No mosaico, vemos que Cristo reza sobre uma rocha que tem o formato de um cálice. É Ele mesmo quem vai pedir ao Pai nesta oração: “Se for possível, afastai de mim este cálice” (Mt 26,39). O cálice é, certamente, a imagem da Páscoa. Nela o cálice será preenchido pelo sangue de Cristo, dom da vida.
Ali, Jesus vive uma solidão absoluta. Seus discípulos dormem. Os que estão com Ele, não estão com Ele. Cristo vai até eles, Pedro abre um pouco o olho sonolento, e o Senhor diz: “Não fostes capazes de ficar em vigília comigo durante uma hora?” (Mt 26,40).
O único que permanece com Jesus é o próprio Pai, que oferece suas mãos e o Senhor coloca suas mãos junto às mãos do Pai. Jesus colocou totalmente a Si mesmo em suas mãos. Por isso, ao colocar suas mãos nas mãos do Pai, entrega sua vida a Ele, como fará mais tarde na cruz. Esse “intercâmbio de dons” nos faz ver a filiação como dom. Na maior das solidões, Deus é o único que não abandona.

E logo, aproximando-se Judas de Jesus, disse: “Salve, Mestre!” e o beijou. Mas Jesus lhe disse: “Amigo, estás aqui para isto!” Avançando então, agarraram Jesus e o prenderam (Mt 26,49-50).
Após rezar no Getsêmani, Jesus é preso por um destacamento de guardas liderados por Judas. Isso é representado no mosaico que apresenta Cristo ao centro. De um lado, Judas o beija traindo e, do outro, o sacerdote oferece o dinheiro pela traição. O beijo, símbolo do amor, é pervertido por Judas. Torna-se sinal de traição.
O Templo deixa de ser um lugar de adoração e torna-se um local de comércio, e o Corpo de Cristo é o lugar de troca dessa “mercadoria”. Jesus torna-se vítima dos poderes civis e religiosos. É condenado pelos sacerdotes, Herodes e Pilatos. Os sacerdotes, sentados sobre seu poder, os rolos da Lei, pensam condenar Jesus com base numa interpretação da Lei capaz de matar (Jo 19,7), mas, na verdade, indicam a verdadeira Lei: Cristo. É Ele o verdadeiro cumprimento da Lei tornando-se vítima dela.
23. Jesus morre na cruz por nós e pela nossa salvação (Mt 27,32-56; Mc 15,21-39, Lc 23,26-49; Jo 19,16-37)

Gritando com voz forte, Jesus disse: “Pai, em vossas mãos entrego meu espírito”. Dizendo isto, expirou (Lc 23,46).
Após ser condenado à morte, Jesus toma sua cruz, caminha pelas ruas de Jerusalém até chegar ao Gólgota, o local de sua crucificação. Erguido em meio a dois ladrões, “humilhou-se, fazendo-se obediente até a morte, e morte de cruz” (Fl 2,8).
A Cruz é o trono de Deus, como vemos no mosaico, lugar onde se ama de forma onipotente. É o lugar do dom de Si. A Cruz faz-nos ver que Jesus é verdadeiramente Rei e, deste trono, Ele governa o mundo. Não como um tirano, mas ao modo do Cordeiro. Não é possível entender isso sem o Espírito Santo (1Cor 2,6-14). Cristo não é Rei de outro modo senão como sacerdote que oferece a Si mesmo como sacrifício, por isso é representado paramentado como um sacerdote. Ele não se serve de outras coisas, mas doa seu próprio corpo, seu próprio sangue e, com seu sangue, Ele nos abriu o acesso à vida. Ele vence perdendo aos olhos do mundo. E mesmo na Cruz, com suas mãos, aponta para o céu, para o Pai.
Ao lado da Cruz está João, representando a Tradição Apostólica. Ele leva nas mãos um livro em cuja capa estão representados o Trono e o Cordeiro sacrificado de pé, a visão que ele tem no Apocalipse. Também está a Virgem Maria, com a mão na bochecha, gesto iconográfico de incompreensão. Só será possível compreender tudo depois de Pentecostes, quando o Espírito descer.

Jesus, tornando a dar um grande grito, entregou o espírito. O centurião e os que com ele guardavam Jesus, vendo o tremor de terra e tudo o mais que estava sucedendo, ficaram cheios de medo e disseram: “Na verdade este era Filho de Deus!” (Mt 27,50.54)
Os Evangelhos apontam que, junto à cruz de Jesus estavam presentes algumas pessoas. No mosaico, é possível notar as mulheres que seguiam a Jesus e não o abandonaram no momento da cruz. Também está ali um judeu que repudia a cena, virando o rosto (Is 53,2-3).
Em contrapartida, vê-se o centurião romano apontando para a cruz. Ele reconhece que ali está o Filho de Deus. Enquanto os que traziam a herança de Moisés não identificam em Jesus o Messias esperado, são os pagãos, representados pelos soldados prostrados, que têm a certeza da divindade daquele que está crucificado.
O soldado que está de joelhos faz referência a São Longino ou Longuinho, aquele que perfurou um dos lados do corpo de Jesus crucificado com uma lança, para certificar-se da sua morte (Jo 19,34). Segundo a tradição, ele reconheceu Jesus como o Filho de Deus e converteu-se ao cristianismo. Tendo abandonado o exército romano, tornou-se um missionário e acabou martirizado por sua fé.
25. Jesus desce à mansão dos mortos (Ef 4,8-10)

“Cristo também participou da mesma condição, para destruir, por sua morte, aquele que tem o poder da morte” (Hb 2,14).
No nível do chão, no Átrio dos Apóstolos, no lado direito, temos mais três mosaicos. Como do outro lado, cada um deles se conecta com outras duas cenas no interior da galeria que leva aos confessionários, entrelaçando Antigo e Novo Testamento, lendo um à luz do outro.
Na primeira cena vemos a representação da descida de Jesus aos infernos. Na oração do Credo, rezamos com a Igreja afirmando que cremos que Jesus “desceu à mansão dos mortos”. Esse é o mistério do Sábado Santo, do Filho de Deus que se identifica conosco entrando na morte, a preenche de luz e a vence desde dentro. Vemos o Sheol, o mundo dos mortos, como um grande monstro que engole tudo, mas Cristo bloqueia a boca do monstro com sua cruz e de lá resgata nossos primeiros pais, Adão e Eva, e com eles toda a humanidade. Essa é a cena que a tradição iconográfica desenvolveu no primeiro milênio cristão para representar o mistério da ressurreição: Jesus não ressuscita sozinho, mas nos faz participantes da vida nova que Ele vive junto do Pai, do Espírito vivificador que permeia sua existência. Pela morte, Ele venceu a morte e dá a vida aos que estão nos túmulos.
26. O profeta Jonas dorme dentro de um grande peixe (Jn 2,1-11)

Javé dispôs que um grande peixe engolisse Jonas; e Jonas esteve no ventre do peixe três dias e três noites (Jn 2,1).
Do outro lado da parede, onde está representada a descida de Jesus aos infernos, vemos a passagem que o próprio Jesus cita como o único sinal que será dado para que creiamos nele (Lc 11,29-33): o profeta , que dorme dentro do monstro marinho. Como Jesus, ele entra na escuridão da morte e depois é libertado para a vida nova. “Pois como Jonas esteve três dias e três noites no ventre da baleia, assim o Filho do homem passará três dias e três noites no seio da terra” (Mt 12,40)

Jesus exclamou com voz forte: “Lázaro, vem para fora!” O morto saiu. Suas mãos e pés estavam atados com faixas, e seu rosto coberto por um sudário. Jesus lhes disse: “Desamarrai-o e deixai-o andar”. (Jo 11,43-44)
Na cena em frente ao mosaico que representa o profeta Jonas no ventre do grande peixe, vemos a ressurreição de Lázaro. À medida que Lázaro, escutando o chamado de Jesus, sai do túmulo e deixa as faixas que o envolvem, o próprio Jesus se deixa imobilizar pelas faixas e ingressa na escuridão do túmulo: Ele oferece a própria vida para que nós sejamos salvos da morte. Essa cena está relacionada diretamente com as outras duas anteriores.
28. Jesus Ressuscitado aparece a Santa Maria Madalena (Jo 20,1-18)

Disse-lhe Jesus: “Maria!” Ela, voltando-se, disse-lhe em hebraico: “Rabbuni!”, que significa “Mestre”. Disse-lhe Jesus: “Não me segures, pois ainda não subi para o Pai. Mas vai procurar meus irmãos e dize-lhes: “Subo para meu Pai e vosso Pai, meu Deus e vosso Deus” (Jo 20,16-17).
Essa é a primeira das aparições do Ressuscitado: na manhã do domingo, Maria Madalena vai ao jardim onde fica o túmulo de Jesus e o encontra vazio. Chora e lamenta, pensando que o corpo de Jesus foi levado dali, e até pergunta sobre isso a um homem que pensa ser o jardineiro. É, porém, Jesus, que Maria reconhece quando ele a chama pelo nome. É uma cena sobre a nova criação: no jardim, como em Gênesis, temos o novo homem e a nova mulher, Cristo e Madalena, imagem do discipulado, imagem da Igreja. São a nova humanidade, redimida.

Logo que passei por eles, encontrei o amado de meu coração. Segurei-o e não o deixarei, enquanto não o conduzir à casa de minha mãe, ao quarto daquela que me concebeu (Ct 3,4).
A cena na galeria atrás da aparição de Jesus Ressuscitado a Maria Madalena remete ao Cântico dos Cânticos, o livro do Antigo Testamento que é uma grande canção de amor entre dois namorados. Vemos o casal, vestido para a festa, abraçado. A narrativa do Evangelho de João sobre a ressurreição alude a esse texto: como Madalena, a namorada do Cântico também pergunta onde está seu amado (Ct 3,1-4). Mas se ela segura o amado e não o solta, a Madalena Jesus pede que não o segure: Jesus deve ir para o Pai.

Disse Jesus: “Quem beber da água que eu lhe darei nunca mais terá sede; pois a água que eu lhe darei vai tornar-se dentro dele uma fonte de água corrente para a vida eterna” (Jo 4,14).
A conversa de Jesus com a samaritana, representada na cena diante da cena do encontro da amada com o amado no Cântico dos Cânticos, aprofunda o sentido da esponsalidade entre Cristo e a Igreja: no dom da água viva, do Espírito da comunhão, a humanidade é assumida pelo Filho de Deus e nos tornamos uma só carne com Ele. Isso está representado na fusão entre Jesus e o poço, formando uma só figura.

Disse Jesus: “Ninguém tem maior amor do que aquele que dá a vida por seus amigos” (Jo 15,13).
No último mosaico, no nível do chão, do lado direito, encontramos o martírio de Santo Oscar Romero. O assassinato de Oscar Romero, arcebispo de San Salvador, em El Salvador, ocorrido em 1980, é um fato recente da história da Igreja. O arcebispo tinha se tornado uma presença incômoda para o governo, denunciando constantemente as violações aos direitos humanos perpetradas pelo regime. Enquanto presidia a eucaristia, foi alvejado por um atirador a mando de uma milícia ligada a setores das Forças Armadas do país. Romero foi beatificado em 2015 e canonizado pelo Papa Francisco em 2018.
No mosaico, vemos o corpo de Oscar Romero dobrado sobre o altar, e seu sangue caindo dentro do cálice: é sua própria vida feita eucaristia, ofertada pela vida do mundo.

“Por isso, disse também a Sabedoria de Deus: ‘Eu lhes enviarei profetas e apóstolos: a uns matarão, a outros perseguirão’, para que a esta geração se peça conta do sangue de todos os profetas, que foi derramado desde a criação do mundo, desde o sangue de Abel até o de Zacarias, que foi assassinado entre o altar e o santuário! Sim, eu vos digo, serão pedidas contas a esta geração!” (Lc 11,49-51)
A cena que está por trás da parede que retrata o martírio de Santo Oscar Romero é muito semelhante à primeira: vemos o martírio do sacerdote Zacarias no Templo de Jerusalém, junto do altar, morto entre o altar e o santuário, a quem Jesus se refere ao acusar os mestres da Lei de matarem os profetas (Lc 11,51). De fato, ao lado de Zacarias vemos que quem o apedreja tem nas mãos o bezerro de ouro, conectando essa cena com o mosaico da idolatria do povo de Israel, na Fachada Norte.

Eis que estou à porta e bato; se alguém ouve minha voz e abre a porta, entrarei em sua casa e cearei com ele, e ele comigo. Ao vencedor, eu o farei sentar-se comigo em meu trono, como eu mesmo venci e sentei-me com meu Pai em seu trono (Ap 3,20-21).
A última cena da galeria, na rampa que leva ao subsolo do Santuário, mostra outro altar: a mesa do banquete celeste. Aqui quem se oferece é o próprio Jesus: ele aparece como servente, de avental, mas é ele também a mesa e o alimento. Ele quer que tenhamos vida em abundância, que nos sentemos à mesa dessa festa do amor do Pai e que, já aqui, enxerguemos no nosso cotidiano o seu rosto que vem ao nosso encontro em tudo o que nos rodeia. Essa representação poderia ser caracterizada como a imagem final de tudo que contemplamos na Fachada Sul.

Herodes enviou um guarda com a ordem de trazer a cabeça de João. O guarda foi e o decapitou na cadeia. Depois trouxe a cabeça num prato e a deu à moça, e essa a entregou à mãe (Mc 6,27-28).
O mesmo que aconteceu com Cristo acontece também com seu Corpo, a Igreja. Rumo ao cumprimento, o eschaton, a Igreja é o prolongamento de Jesus na história. É isso que vemos retratado na face oriental da Fachada Sul (lado direito), que está voltada para o Monumento de Nossa Senhora do Perpétuo Socorro. Todos os mártires dessa Fachada olharão na hora de seu sofrimento para o mesmo ponto: Cristo em sua Ascensão, que estão no topo frontal da Fachada Sul. Também Cristo passou pela Páscoa e todos eles estão em Cristo Jesus. Por meio dele, conseguem ver a esperança da glória futura.
Na primeira cena que vemos no alto, Herodes está sentado no trono, representado de perfil, e Salomé dança. Ele está seduzido por ela, mas nem se interessa por ela, está confundido pelo demônio, representado sobre o trono. O diabo está de cabeça para baixo, pois ele vê as coisas de maneira invertida, e brinca com as mãos de Salomé, assim como faz com a mulher de Potifar na Fachada Norte.
Essa falsa sedução faz Herodes matar João Batista, cuja cabeça está nas mãos de Salomé, sobre uma bandeja. João foi morto por denunciar o casamento ilegal entre Herodes e a mãe de Salomé, Herodíades. Foi essa última quem instigou a filha a pedir ao rei a cabeça de João. Mesmo decapitado, o profeta não é abandonado por Deus. Um fluxo de ouro, retratado no mosaico, desce do céu, toma a cabeça e a leva de volta ao céu, ao Pai.
O rei também “mandou matar à espada Tiago, irmão de João” (At 12,2), representado decapitado abaixo do trono real. Os Atos dos Apóstolos narram que essa morte agradou ao povo (At 12,3) e tal fato também está representado no mosaico. Eles aplaudem Herodes que, para ficar no trono, precisa de aprovação. Todos os espectadores estão dentro de um fluxo obscuro e, o último, está sentado sobre seus pés nesta escuridão. Não há nada debaixo dele, simbolizando que o poder deste mundo passa, é destruído.

Enquanto Pedro era mantido na prisão, a oração da Igreja se elevava a Deus por ele sem cessar (At 12,5).
Vendo que a morte de Tiago agradou ao povo, Herodes também manda prender Pedro, representado nessa cena sendo conduzido para a prisão. O local é representado aberto e totalmente escuro.
O chefe da prisão acorrenta Pedro, que abre seus braços como Cristo. Isso significa que ele acolhe esse desígnio, não se rebela contra ele. Atrás dele, um romano o empurra com mangas brancas, simbolizando que o fato de ser jogado na prisão não está fora da vontade de Deus: o branco é a cor que remete à ação do Espírito Santo. Acontece com Pedro o que aconteceu com seu Mestre.
Toda a cena é dominada por grades, recordando a prisão. Dentro dela, um forte sol resplandece. “Deus é luz e nele não há trevas” (1Jo 1,5). Levando a mensagem do Senhor para os calabouços, os cristãos iluminaram a escuridão.

O carcereiro tomou-os consigo na mesma hora, em plena noite, lavou-lhes as chagas e logo recebeu o batismo com todos os seus (At 16,33).
Entregue às autoridades, São Paulo é açoitado e preso. Foi colocado junto de Silas, seu companheiro de pregação, em um calabouço vigiado. Após súplicas e cânticos, um terremoto abala os alicerces da prisão e abre as celas dos presos, quebrando-lhes as correntes. O carcereiro fica impressionado e pede a São Paulo o batismo.
Na representação da cena, o apóstolo tem em suas mãos a Sagrada Escritura, batizando o chefe da prisão. Atrás do neófito, despojado dos símbolos romanos, vê-se a porta que se abre, mas não a partir da prisão, e sim de fora, recordando a pedra que rolou da tumba de Jesus. Os cristãos, ao entrarem na prisão, não apenas abriram a prisão e saíram, mas, por meio do batismo, abriram as portas para uma vida nova. Os cristãos transformam um ambiente fechado na morte em uma porta aberta para o outro lado da vida.

A pedra que os pedreiros rejeitaram veio a ser a pedra principal (Sl 118,22).
Mais abaixo, na face oriental da Fachada Sul, vê-se um altar e, diante dele, um monograma de Cristo. Os quatro ângulos desse altar trazem quatro mártires. À direita, em cima, São João Batista; à esquerda, também no alto, São Tiago; abaixo dele, São Pedro; à frente de Pedro, São Paulo. Aos seus pés está o instrumento do martírio: todos com a espada e Pedro com a cruz. “O sangue dos mártires é a semente dos cristãos” (Tertuliano, Apologético, 50,13).
O altar é uma pedra só, representa toda a Igreja, constituída sobre uma pedra angular. No Novo testamento, diz-se que Cristo é a pedra angular que foi rejeitada. Portanto, esta cena faz ver que a Igreja, o altar, é realmente Corpo do Cristo.
O pão e o vinho, representados sobre o altar, nos recordam que em cada Eucaristia a Igreja vive essa realidade do altar, do Corpo de Cristo. Por isso, não está ligada a este mundo, mas é aquela que dá vida ao mundo não vivendo segundo ele, mas segundo a Páscoa, no altar habitado por todos os cristãos.

Maltratado, deixou-se humilhar e não abriu a boca; como cordeiro levado ao matadouro, como ovelha muda diante dos tosquiadores, não abriu a boca. (Is 53,7)
Já na arcada da Fachada Norte Jesus é retratado com a imagem do Cordeiro, visto junto ao Ancião de muitos dias. Ele carrega sobre si todos os pecados do mundo, referenciando sua missão como o Santíssimo Redentor. Aqui na fachada Sul, o profeta Isaías, que é representado nesta cena, apresenta no rolo um trecho de sua profecia que prefigura o sacrifício pascal de Cristo, oferecido na cruz como cordeiro imolado pelos nossos pecados, “como ovelha muda diante dos tosquiadores”. Seu sacrifício é a causa de nossa salvação.
As cenas acima dessa mostram que o sacrifício do Senhor continua também na vida dos Apóstolos e da Igreja. Aqueles que aceitam o convite de Jesus, tomam sua cruz e seguem o Cristo (Mt 16,21-27), podem participar do banquete do Cordeiro. Esses vivem a verdadeira comunhão com Deus no seu Reino.

“Vou enviar-vos o que meu Pai prometeu. Ficai, porém, na cidade, até que sejais revestidos da força do alto” (Lc 24,49).
A cena que vemos em todo o alto na frente da Fachada Sul representa a Ascensão de Jesus aos céus e o dia de Pentecostes. Trata-se na verdade de um conjunto de 13 cenas que formam um imenso painel.
Após sua ressurreição, Jesus foi elevado ao céu e sentou-se à direita de Deus (Mc 16,19). Mas não deixou seus discípulos abandonados. Como Ele havia prometido, enviou, na festa de Pentecostes, o Espírito Santo para ficar sempre com seu povo.
Teologicamente, esses dois acontecimentos – a Ascenção de Jesus e a descida do Espírito Santo – estão unidos. A iconografia presente no alto de toda a frente da Fachada Sul nos faz ver bem essa verdade teológica. Não é possível viver a vida de filhos de Deus se não for pelo Espírito Santo.
Cristo está no topo da Fachada, pois é Ele que une todos os textos bíblicos, desde o Antigo até o Novo Testamento. E a Ascensão é o último ato que nos faz entender o motivo da descida de Jesus, pois “Aquele que desceu é o mesmo que também subiu acima de todos os céus a fim de completar todas as coisas” (Ef 4,10).
Ele mostra suas feridas, pois se fez verdadeiramente homem e leva para o céu a humanidade consigo. Mas, ao mesmo tempo, o Espírito Santo desce para que nós possamos viver essa Ascensão, ascender com Ele porque temos a mesma vida. Ele mostra a ferida de seu lado, tem uma mão chagada que abençoa e com a outra apoia o livro com o Alfa e o Ômega.
Cristo está sobre dois anjos. Um deles possui uma mão que indica e o outro tem uma mão velada, demonstrando que está tocando em algo que não é apenas aquilo que se vê. Maria está sentada sobre seus pés, demonstrando serenidade e acolhimento. Sinal de que Cristo sobe, mas deixa a Igreja serena, que acolhe e está totalmente disponível.
Em cada lado dessa cena central encontramos os Apóstolos, 5 do lado esquerdo e 7 do lado direito. Cada um dos 12 Apóstolos na cena de Pentecostes possui uma cor diferente de túnica, pois a túnica exprime a vida íntima do filho com Deus e todos são filhos de modo pessoal. Mas o manto tem a mesma cor, pois é o manto de Cristo. O Espírito Santo garante a pluralidade e, Jesus, a unidade. Somos filhos no Filho.
A fisionomia dos apóstolos se refere à fisionomia apostólica mais antiga, em vigor no Ocidente e no Oriente. Cada apóstolo foi representado realizando um sacramento ou atividade da Igreja. Dessa forma, eles estão assim representados da esquerda para a direita:

São Tiago, o maior: Filho de Zebedeu e Salomé, era pescador e irmão do também apóstolo São João. Ele aparece duas vezes na Fachada, sempre como mártir decapitado. Foi o primeiro Apóstolo a ser martirizado, no ano 44, mostrando que é recebendo o dom da vida que se torna o dom da vida. Ele está olhando para a árvore, segurando sua cabeça como quem descansa.

São Tomé: Essa é uma cena de catequese e quem ensina é o próprio Apóstolo. Ele está com a Escritura nas mãos, onde se lê “Meu Senhor e meu Deus”, palavras proferidas pelo Apóstolo depois de seu encontro com o Ressuscitado. Ele teve uma experiência, como também a catequese deve ser uma experiência iluminada pela Tradição. Ouvindo o Apóstolo estão três das raças que constituem o povo brasileiro: africana, indígena e europeia

São Mateus: É o apóstolo que faz ver o anúncio. Em suas mãos está uma citação de seu Evangelho, retratando a adoração dos Magos (Mt 2,1-12). Ela foi escolhida para retratar que o anúncio é dirigido aos que buscam: os Magos não eram judeus, mas eram buscadores sinceros e acolheram o anúncio.

Simão Zelota: Esse Apóstolo administra a Unção dos Enfermos. É um sacramento para o perdão dos pecados e que confirma, a partir do seu ponto mais frágil, sua pertença ao Corpo de Cristo. No momento da fragilidade do corpo, a Unção recorda que somos parte do Corpo de Cristo e que a morte não tem poder sobre nós, pois ela é vencida por Jesus.

São Judas Tadeu: Celebra a Eucaristia. Por isso, é representado segurando o pão e o vinho.

São Paulo: Traz em suas mãos dois anéis e um rolo aberto, onde está representada a união de Cristo com sua Esposa, a humanidade. Portanto, simboliza também o sacramento do matrimônio.

São Tiago, filho de Alfeu: Representa o sacramento da Ordem. No mosaico, podemos vê-lo durante a ordenação de um bispo, sucessor dos Apóstolos. A ordenação episcopal, com o derramamento do óleo sobre a cabeça do eleito, foi escolhida para essa representação por se tratar da plenitude do sacramento da Ordem.

São João, evangelista: Imagem da Tradição Apostólica, ele escreve com uma mão e, com a outra, indica a Arca da Aliança e as duas testemunhas, representadas abaixo sob a arcada, indicando que é a Tradição Apostólica que nos ajuda na compreensão do mistério da fé.

Santo André: Ele possui uma rede, pois verdadeiramente é um pescador, um verdadeiro evangelizador. Acolheu o convite e tornou-se pescador de homens (Mt 4,19). Seus peixes não estão mortos, mas vivos, salvos das ondas do mar da morte. Ele lançou as redes e, por isso, foi crucificado como Cristo.

São Filipe: Ele batiza um neófito, inserindo-o na Igreja. Por isso tem o olhar e a ação voltados para dentro da Fachada. Já o que recebe o Batismo tem os olhos fechados, símbolo iconográfico de quem recebe. O batizado acontece dentro de um cálice porque o próprio Cristo, por diversas vezes, coloca junto o cálice e o batismo (Mc 10,35-45). O apóstolo já tem as roupas prontas para fazer ver que a pessoa sai da fonte batismal ressuscitada para uma vida nova, revestida de Cristo.

São Bartolomeu: Ao lado do Batismo, ele unge uma criança com a Crisma, símbolo do dom do Espírito Santo ao novo batizado (CIC 1241). Essa unção mostra que o ungido está sob o fluxo do Espírito Santo, pois é parte da Igreja, Corpo de Cristo.

São Pedro: Representa o sacramento da Reconciliação. Cristo disse a Pedro que ele deve confirmar seus irmãos na fé. Dele depende a unidade da Igreja. Nos encontramos na unidade se somos reconciliados. O galo que está em seu pé é recordação da misericórdia de Jesus por Pedro, que o negou, mas que recebeu do próprio Cristo um olhar de misericórdia (Lc 22,54-62). Tem uma perna que sobe e uma que desce, representando a humanidade se reconciliando. Por isso, na face Leste da Fachada há uma ovelha ferida, para quem Pedro, na parte frontal, estende as mãos. Outra já está no seu pescoço, símbolo do pastoreio daquele que governa a Igreja.

“Por que procurais entre os mortos aquele que está vivo? Ele não está aqui, mas ressuscitou” (Lc 24,5-6).
Após o anúncio da ressurreição feito às mulheres pelo anjo (Lc 24,1-8), Pedro e João correram até o local da sepultura e encontram o túmulo aberto, apresentado nessa cena (Jo 20,3-9). No alto da arcada da Fachada Sul, sua representação remete-nos à Arca da Aliança, com dois anjos em suas extremidades. Eles apontam para as faixas, assim como na Natividade. Elas indicam que Jesus não ficou preso na morte: “Ele não está aqui, mas ressuscitou” (Lc 24,6). Só podemos ver isso porque deixamos a Terra e todo o resto passará para o Céu.
A tampa que foi retirada retrata com um fundo branco os instrumentos da Paixão: a cruz, a lança e a esponja. São elas os meios usados em sua execução, o instrumento que feriu seu coração logo após sua morte – de onde jorrou sangue e água (Jo 19,33-37) – e a esponja onde lhe deram de beber fel (Mt 27,34), respectivamente. Essa é a memória da verdadeira Passagem, feita da morte para a vida.

Faltando o vinho, a mãe de Jesus lhe disse: “Eles não têm mais vinho”. Respondeu-lhe Jesus: “Mulher, que importa isso a mim e a ti? Minha hora ainda não chegou”. Sua mãe disse aos serventes: “Fazei tudo o que ele vos disser” (Jo 2,3-5).
O primeiro milagre de Cristo ocorre em um casamento, na região de Caná, na Galileia, “e lá se encontrava a mãe de Jesus. Também Jesus foi convidado para a festa junto com seus discípulos” (Jo 2,1-2). Ali, Jesus transforma a água em vinho, permitindo que a festa continue e os noivos não sejam decepcionados.
Esse acontecimento é representado no mosaico da arcada da Fachada Sul, segundo a reflexão de São Tiago de Sarug. Sobre o véu, estão pintados o esposo e a esposa. Isso porque São Tiago diz que Moisés não viu homem e mulher se tornarem uma só coisa, mas sim Cristo e a humanidade, sua Esposa. Maria é representada, portanto, ao lado de Cristo como imagem da Igreja. Nas núpcias de Cristo com sua Igreja, a Santa Missa, comemos de sua carne e bebemos seu sangue. Do lado aberto de Jesus Ela recolhe a vida. Do mesmo modo, é sua Esposa que o “gerou”.
Quando as núpcias terminam, chega São Paulo, vê essa pintura sobre o véu e o afasta, mostrando que homem e mulher são uma pintura, mas Cristo crucificado e sua Esposa são a verdadeira vida; aqueles são figura, estes são a realidade. “Grande é este mistério; digo-o, porém, a respeito de Cristo e da Igreja” (Ef 5,32). O próprio Paulo serve o vinho enquanto nas jarras há água. As jarras são seis, representando que a Lei de Moisés não serve mais, está vazia e não purifica mais. É o próprio Jesus que vai purificar, unindo ao seu corpo a Igreja.

Ouviram então uma voz forte gritar-lhes do céu: “Subi aqui!” E subiram para o céu numa nuvem, aos olhos de seus inimigos (Ap 11,12).
O capítulo 11 do livro do Apocalipse nos apresenta a figura de duas testemunhas de Cristo, que são precisamente seu prolongamento. Elas recebem de Deus todo o poder possível para se defender, mas não o fazem.
São mortos e seus cadáveres ficam expostos na praça da cidade, sobre a besta de sete cabeças e dez chifres, símbolo do poder e da força. Os povos veem seus corpos e festejam. Eles estão em posição de crucifixão, unidos, como que dormindo. Eles são elevados, pois aqueles que são de Cristo, com Ele entram no santuário, onde já não existe a manipulação do mal. Eles sobem e a nuvem os leva para cima, para Deus.

Quando, pois, este corpo corruptível se tiver revestido de incorruptibilidade e este corpo mortal se tiver revestido de imortalidade, então se cumprirá a palavra da Escritura: “A morte foi tragada pela vitória. Onde está, ó morte, tua vitória? Onde está, ó morte, teu aguilhão?” (1Cor 15,54-55)
A Igreja crê, desde tempos imemoriais que a Virgem Maria, tendo terminado sua vida, foi elevada aos céus de corpo e alma. Confirmando essa crença, em 1º de novembro de 1950, o Papa Pio XII proclamou o dogma da Assunção da Virgem Maria, proclamando que “a imaculada Mãe de Deus, a sempre virgem Maria, terminado o curso da vida terrestre, foi assunta em corpo e alma à glória celestial” (Munificentissimus Deus, 44).
Essa realidade é tratada abaixo do grande vitral, sob a Arca da Aliança aberta. A Virgem Santíssima deixa a vida terrena e seu Filho Ressuscitado aparece. Mas não aparece sozinho, o que é evidenciado pelas inúmeras auréolas que estão representadas a seu redor.
Cristo pega em suas mãos a vida de Maria, representada pela criança que está em seu colo, e diz: “Tu me deste da vida humana e eu te dou, como Sumo Sacerdote, a vida da glória. Tu agora podes entrar no Reino, pois me fizestes entrar na Terra”.
Duas linhas descem e abraçam Maria e aqueles que estavam com Ela. Maria é inclusa neste abraço que desce do Filho, a fim de que vejamos que “ela é consolo e esperança para o vosso povo ainda em caminho” (Prefácio da solenidade da Assunção de Nossa Senhora).
“Vi uma grande multidão que ninguém podia contar, de toda nação, tribo, povo e língua. Estavam de pé diante do trono e diante do Cordeiro, vestidos de branco e com palmas na mão” (Ap 7,9).
Os dois grandes braços da colunata da Basílica nos acolhem e introduzem-nos no mistério da comunhão dos santos e da Igreja. No alto dos 26 arcos frontais encontramos mosaicos sobre este mistério. Os primeiros rostos que vemos são os de brasileiros que nos antecederam na fé e foram reconhecidos como santos, como Santo Antônio de Sant’Ana Galvão, Santa Paulina e os mártires de Cunhaú e Uruaçu. Mais à frente, encontramos grandes figuras da história da Igreja, como São Francisco de Assis, São Bernardo de Claraval, Santa Teresa de Jesus e Santa Teresa de Calcutá. Os santos que vemos mais próximos ao prédio da Basílica nos fazem mergulhar na tradição cristã: são os Padres e Madres da Igreja, como São Basílio, Santa Macrina, Santo Agostinho e Santo Atanásio.
Intercaladas com os rostos dos santos, vemos se desenrolar as cenas da criação e o modo como a humanidade trabalha a criação, tornando-a cultura e tornando-a liturgia, celebração do nome santo de Deus. Tudo começa com a luz, como um rastro dourado sobre a escuridão. De um lado da colunata, vemos a criação dos luminares; do outro, vemos a luz do círio pascal. Numa parte, vemos a criação e a separação das águas; na outra, vemos a água que é fonte de vida para o homem e a mulher. De um lado, vemos a criação das plantas e vegetais; do outro, vemos a colheita do trigo e da uva. À esquerda, vemos a criação dos animais; à direita, o peixe e o pelicano, símbolos de Cristo. Lá, vemos a criação do homem e da mulher; aqui, vemos sua união em uma relação de amor mútuo.
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Por Redação, em Arte que Evangeliza