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Aparecida, Mãe na Terra e no Céu

Escrito por Leonardo C. de Almeida

02 OUT 2020 - 09H22 (Atualizada em 26 JAN 2024 - 11H01)

Gustavo Cabral/A12

O nome de Maria ecoa pelo mundo todo, expresso em milhares de títulos pelos quais a Mãe do Senhor é invocada. Imagens, ícones, afrescos, vitrais e gravuras buscam representar bem essas invocações marianas, cada qual com sua identidade iconográfica. A imaginária mariana é de uma diversidade impressionante. Nessa riqueza de representações, está retratada Maria, Mãe e Senhora da comunidade eclesial.

Na Virgem de Nazaré, encontramos uma referência do seguimento de Jesus Cristo e um alento para nossas dores em momentos doridos, quando podemos contar com seu consolo e intercessão.

Leia MaisSanto Ildefonso, o bispo devoto de Nossa Senhora Devotos de Nossa Senhora recebem flores no Santuário NacionalMãe educadora, Maria nos toma pelas mãos e ensina-nos a percorrer os caminhos do Filho amado, Senhor da vida. Na verdade, a Igreja busca imitar Maria, pois ambas têm a mesma vocação. O Vaticano II insiste que, em Maria, o povo de Deus se inspira para cumprir sua missão no mundo.

Embora datada de 1717, a devoção a Nossa Senhora da Conceição Aparecida nos ajuda a compreender e experimentar a riqueza que o Concílio nos apresenta sobre Maria, especialmente na Lumen Gentium, na qual encontramos todo um capítulo dedicado à Virgem Mãe de Deus e da Igreja.

Honrada como excelsa Rainha do céu e da terra, desde sempre amada pelo Senhor e predestinada como Mãe Imaculada da nova Criação, Maria de Nazaré foi mulher, filha, esposa e mãe de família. Simples e humilde discípula de seu filho Jesus, Nossa Senhora não foi poupada dos sofrimentos humanos: experimentou as dores e os sofrimentos da sociedade de seu tempo.

Não se trata de tirar Maria de nossos altares e andores, mas de entender que a Virgem gloriosa que ali contemplamos pisou o mesmo chão que o seu povo, viveu as mesmas alegrias e aflições e, por isso, demonstra apreço e sensibilidade pela humanidade sofredora, de quem, aos pés da cruz redentora, tornou-se Mãe solícita.

Ora, Maria, tal qual o povo de Deus, esteve sujeita às vicissitudes da vida humana, só não vivendo o pecado e, por isso, não conhecendo a corrupção da morte.

Como Mãe da Igreja, Maria adquire um “rosto universal”, uma maternidade que se estende e abarca todos os povos, inclusive a nós, brasileiros. Em suas aparições ou manifestações, nos seus mais variados títulos e invocações, Ela confirma a Verdade revelada em Jesus Cristo: suas mãos maternas guiam, educam, regem e ajudam.

Em momentos críticos da História, Maria, como Mãe, vem em socorro da humanidade sofredora e aponta-nos a libertação que foi conquistada por seu Filho Redentor.

Thiago Leon
Thiago Leon


Olhando para as diversas representações de Nossa Senhora – seja de episódios bíblicos de sua vida terrena, seja de aparições ou manifestações na vida da Igreja – suas mãos são muito significativas. A título de exemplo, na imagenzinha bendita da Senhora da Conceição, Aparecida das águas, invocada como Rainha e Padroeira do Brasil, as suas mãos estão unidas, sinal de uma postura orante.

Nesse sentido, chama-nos a atenção o fato de as mãos serem a única parte da imagem original de Aparecida que não se partiu após o atentado que a fragmentou em 1978: Maria continuamente nos convida à oração e reza por nós! As mãos orantes também observamos nas imagens de Guadalupe, da Rosa Mística, da Virgem dos Pobres, de Lourdes, de Fátima...

Ainda quanto à oração, a Senhora, por suas mãos, oferece-nos alguns instrumentos importantes que ajudam no itinerário da espiritualidade: Nossa Senhora do Carmo nos dá o escapulário; Nossa Senhora do Rosário nos convida a recitação dos mistérios contemplados em cada terço que carrega.

A Mãe do Senhor, na verdade, motiva-nos a buscarmos as coisas do Alto: veja-se a Senhora da Assunção, com seus braços elevados para os céus; Nossa Senhora da Escada, que carrega a escada que conduz para a eternidade; a Mãe das Candeias ou da Candelária portando uma vela, símbolo que remete à Luz da Vida.

As mãos de Maria ainda oferecem alívio e proteção: Nossa Senhora dos Remédios nos concede a cura e a saúde; Nossa Senhora das Graças (ou da Medalha Milagrosa) tem mãos dispensadoras de dádivas celestiais; a Senhora das Dores mostra-se solidária às nossas penúrias, com mãos banhadas em lágrimas; a Mãe das Mercês deseja nos abraçar, com seus braços abertos e mãos acolhedoras e firmes, que rompem as amarras que detêm os cativos; a Senhora da Defesa afugenta o mal; a Virgem Desatadora dos Nós tem mãos habilidosas que nos livram das enrascadas da vida temporal e espiritual.

Com efeito, quão generosas e disponíveis as mãos de Maria para o serviço! São mãos lindas, fortes e delicadas concomitantemente. Como se diz no linguajar popular, “mão na massa”, “mãos à obra”. Traduzindo para uma linguagem mais adequada: mãos na missão! Mãos que sinalizam a adesão de todo o ser de Maria à vontade do Pai desde sempre.

São mãos que servem os sofredores, os pobres, os humildes, os aflitos: eis Maria na Visitação e nas Bodas de Caná! Mãos calejadas que trabalham e labutam: eis Maria na casa de Nazaré com seu Filho e seu Esposo.

Mãos que jamais se comprimiram movidas pela aflição, pela desesperança, pelo aparente fracasso ou por aquilo que foge à lógica humana: eis Maria na Anunciação, aos pés da cruz e à espera da ressurreição do Filho após a primeira Sexta-feira Santa da História; mãos que motivam e incentivam: eis Maria, após Pentecostes, encorajando os apóstolos na Igreja nascente.

Enfim, recordar Nossa Senhora Aparecida é falar de sua bondade maternal de Maria que vem em nosso auxílio, que peregrina com o povo brasileiro porque também Ela já foi imigrante, sofreu a perda do Filho, sentiu a opressão de uma sociedade que julga e exclui, cuidou do seu lar e da sua família em tantos momentos de atribulação social, política e pessoal.

Foi do agrado de Deus e de Maria que a imagem “aparecida” das águas fosse encontrada por três pescadores humildes e aflitos, num momento tristemente histórico de um Brasil escravocrata, assim, destronando os poderosos e elevando os humildes (cf. Lc 1,52). Não é mera coincidência ou acaso, são os desígnios divinos para o seu povo, atualizando, em nossa história, o episódio da “visitação” de Nossa Senhora.

Na imagem de Aparecida, entendemos que Maria, grávida, aponta-nos para o Filho que traz em seu ventre, razão de sua vida e de nossa alegria. É o maior presente que Ela, como Mãe, oferece-nos.

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