“O verdadeiro devoto de Maria não se perde jamais!”
No longínquo século XVIII essa frase ecoava no coração dos napolitanos que ansiosos se punham a ouvir um seu patrício, filho da nobreza da cidade, mas que deixara tudo para dedicar-se à salvação das almas: tratava-se de Santo Afonso Maria de Ligório, considerado junto com S. Luís de Montfort “o doutor marial”. As palavras dessa pregação foram depois transcritas na clássica obra de mariologia redigida pelo santo e intitulada como “Glórias de Maria”.
O peso dessas palavras não vem tanto do fato de terem sido escritas por um santo; é claro que só isso bastaria para fazê-las dignas de atenção, mas, no entanto, o peso maior vem do fato de que elas concordam plenamente com os Santos Evangelhos, em especial com o de São Lucas, chamado de “o evangelista de Maria”, no qual vemos a importância decisiva da Santíssima Virgem na missão salvífica de seu Filho, em especial na realização de seu primeiro milagre (Lc 2, 5).
Séculos antes de Santo Afonso, outro grande devoto de Nossa Senhora, São Bernardo de Claraval, compunha uma oração de singular beleza, ainda hoje muito apreciada: trata-se do “Lembrai-vos”. Nesta oração o santo afirma:
“Lembrai-vos ó piedosíssima Virgem Maria que jamais se ouviu dizer que algum daqueles que têm recorrido à vossa proteção, implorado o vosso socorro e invocado vosso auxílio, fosse por vós desamparado.” As afirmações de São Bernardo se coadunam com aquela que Cristo fez no alto da cruz ao nos dar sua Mãe por nossa Mãe, demonstrando que em tudo Ele se fez plenamente Deus e plenamente homem, inclusive quanto à geração de seu corpo e sua educação, pois quis necessitar de uma Mãe e no-la dá, pois assim como pela encarnação Ele tomou sobre si “nossas transgressões”, conforme lembra o profeta Isaías, tomou também nossas necessidades e as santificou com sua vida.
A obediência de Cristo restaura a desobediência de Adão e a maternidade santíssima de Maria restaura e plenifica toda maternidade. Através de sua maternidade espiritual Maria Santíssima realiza o que S. Bernardo afirma, isto é, nos ampara com tal solicitude a ponto de nos impedir de dizer que alguém que a tenha invocado tenha sido desamparado. Os Padres da Igreja a chamavam de “Nova Eva”, pois se o pecado entra no mundo pela desobediência de uma mulher e de um homem, a salvação expulsa o pecado e vence o tentador pela obediência de uma mulher, que dá seu “Fiat” ao arcanjo enviado por Deus e de seu Filho santíssimo que assume a carne humana e se faz obediente até a cruz.
De um lado e de outro o pecado é vencido. O diabo seduziu Eva e o anjo saudou a Mãe de Deus dizendo: AVE, saudação romana que utiliza as mesmas letras para dizer algo diferente. A mística cristã viu nisso não apenas uma coincidência de letras, mas a Providência Divina mostrando que, se uma desobedeceu, outra veio em sentido contrário e ajudou a resgatar o que estava perdido. Daí o uso invertido das mesmas letras.
São Luís Maria Gringnion de Montfort dizia que “Deus reuniu todas as águas e as chamou mar; reuniu todas as graças e as chamou Maria”. Sobre todas as criaturas humanas ela tem precedência, pois foi concebida sem pecado e escolhida para colaborar mais de perto com a obra da redenção, a ponto de a Igreja reconhecê-la como co-redentora. Devido à sua íntima participação na obra de Cristo muitos doutores da Igreja, incluindo Santo Afonso, São Bernardo e Santo Irineu de Lyon, são da opinião de que todas as graças que recebemos nos vem das mãos puríssimas de Maria.
Até agora a Igreja ainda não definiu a “mediação universal” como dogma de fé, mas já existem petições de muitos bispos, cardeais, sacerdotes e leigos do mundo todo solicitando ao Santo Padre que proclame Nossa Senhora como Medianeira de todas as graças. Para tanto há fundamentos bíblico-teológicos e também um forte apoio da tradição constante da Igreja para fundamentar esta verdade.
Maria é a “cheia de graça”, por isso, nada mais comum que todas as graças nos venham por ela. Com a graça da filiação divina recebemos também o dom preciosíssimo da maternidade de Maria santíssima sobre todos nós, já que foi Cristo que nos deu como filhos a Ela e no-la deu como Mãe no momento supremo de seu sacrifício redentor. Nossa Senhora é aquela que incessantemente roga à Deus por nós e nos auxilia, como mãe solícita que é, a sermos obedientes à voz de Deus e restaurarmos tudo em Cristo.
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Um capítulo importante da mariologia são as manifestações de Nossa Senhora ao longo dos séculos através das mais diversas aparições. A doutrina católica sempre foi constante em afirmar que os fiéis estão obrigados a crer somente na Revelação Divina que nos foi confiada através do Depósito da Fé que compreende a palavra escrita (Sagradas Escrituras) e a palavra transmitida verbalmente (Tradição).
Tudo o que estiver fora destas realidades não supõe um ato de fé obrigatório, sem o qual o fiel incorreria em erro grave, ou seja, a Igreja nos dá as Sagradas Escrituras e a Tradição como fontes seguríssimas de fé, mas não nos obriga a crer em outras manifestações, mesmo que comprovadamente de origem divina. Com o fim da Era Apostólica, isto é, com a morte do último apóstolo de Jesus, que no caso foi São João Evangelista, entre os anos 102 e 105 de nossa era, a revelação divina cessou, não sendo, portanto, necessário acrescentar mais nada ao que Deus até então já havia dito.
Desse modo, até mesmo as aparições de Nossa Senhora não constituem artigo de fé. Aliás, as aparições reconhecidas pela Igreja não trazem novidade alguma, são apenas exortações que brotam do próprio Evangelho. Posso ser católico e não aceitar tais manifestações, porém, nesse caso vale o conselho que o Santo Cura D’Ars dava a seus amigos em relação às aparições de La Salette, que na época do santo suscitavam muitas dúvidas:
“É prudente não desprezar o que Deus nos manda, embora Ele não nos obrigue a crer é bom ver nisso (nas aparições de La Salette) uma indicação clara do quanto Deus nos quer bem a ponto de nos mandar sua Mãe para nos fazer colocar em prática seu Evangelho”.
Além do que, a Igreja em sua prudência de mãe e sua sabedoria de mestra jamais aprova uma aparição sem antes observar três pontos:
* O Conteúdo: se o que a suposta aparição afirma não concordar com as Sagradas Escrituras e com a Tradição não pode provir de Deus, pois Ele não engana, nem se engana, portanto, não poderia afirmar uma coisa e depois dizer outra. Se Deus não muda, conforme a Escritura e até mesmo os filósofos pagãos nos dizem, sua palavra também não muda, por isso seria imprudente crer em algo dessa natureza;
* Milagre: as aparições são sempre algo sobrenatural, e como tal, vêm acompanhadas de fatos que suspendem as próprias leis da natureza, demonstrando assim que vem de Deus, pois tudo o que Ele faz é perfeito. Veja-se o fato de Bernadete Soubirous, uma camponesa ignorante e analfabeta afirmar que a Senhora que via na gruta de Massabielle era a “Imaculada Conceição”, termo que jamais ouvira falar antes. Outro exemplo está no fato de o sol ter bailado nos céus de Fátima a 13 de outubro de 1917 na presença de mais de setenta mil pessoas;
* Frutos de conversão: toda aparição de origem divina provoca uma profunda conversão na vida do vidente e de todos quantos se aproximam de sua mensagem. Em geral as aparições marianas trazem um forte caráter penitencial visando a uma profunda conversão da pessoa. Se uma aparição for apenas uma artimanha do diabo jamais provocará conversão, já que levar as pessoas a Deus não faz parte dos interesses de Satanás.
Em certa ocasião um padre de Lisboa visitando a cidade de Fátima disse ao sr. Marto, pai de dois dos pastorinhos videntes e tio de Lúcia:
“Como o senhor permite que o diabo faça tamanho estrago? O senhor deveria fechar essas crianças em casa e parar com isso!”
Ao que o sr. Marto replicou:
“Veja padre, como o diabo está mudado! Agora até faz as pessoas rezarem mais e mudar de vida!”
O sacerdote envergonhado, entendeu bem o princípio da não-contradição que, sem saber, o sr. Marto usou, ou seja, Deus não se contradiz.
Passemos agora a algumas das mais conhecidas aparições de Nossa Senhora ao longo da história.
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1. Nas terras do Novo Mundo
Corria o ano de 1531 e nada de diferente parecia acontecer na região do monte Tepeyac, no México. Na vida das colônias da América Espanhola quase tudo era igual, a não ser alguma festa litúrgica mais solene, com seu repicar de sinos e andores enfeitados que desfilavam pela ruas poeirentas, quebrando de vez em quando a monotonia dos dias. Fora isso, a rara visita de alguma autoridade ou algum missionário novo que chegava despertavam a atenção da população.
Nessa época os missionários das mais diversas ordens estavam num estado de desânimo muito grande, pois num período de cinco anos fizeram todos os esforços possíveis para tentar converter os nativos daquelas e de outras terras, mas tudo se mostrava ineficaz. O cansaço já começava a roubar-lhes as forças, e se não fosse o mandato de Cristo “Ide e pregai o Evangelho a toda criatura, batizando-as...”, talvez teriam já desistido. Restava-lhes apenas a fé.
Nem tudo estava perdido. Alguns nativos haviam se convertido e eram bastante fiéis no cumprimento de seus deveres cristãos. Um deles, Juan Diego, na manhã do sábado, dia 9 de dezembro daquele ano, saiu de madrugada para participar da Santa Missa e depois também participaria da catequese com os missionários franciscanos. A preocupação, porém, não o deixava sair em paz, já que seu tio Juan Bernardino ficara na aldeia doente. Seu estado inspirava cuidados e Juan Diego pretendia voltar o quanto antes para estar a seu lado.
:: Guadalupe: advento de salvação e bênçãos para um Continente
Ao passar pelo Tepeyac, foi surpreendido por uma suave melodia vinda do alto do morro, que lhe chamou a atenção. Ao voltar-se para ver de onde vinha essa suave melodia, deparou-se com uma linda Senhora que parecia esperar-lhe sobre uma formosa nuvem branca. Em torno dela cores vivíssimas pareciam emoldurar-lhe a silhueta espargindo as cores do arco-íris. Surpreso, o índio aproximou-se e, ao fitar aquela Senhora, esta lhe chamou pelo nome em seu próprio dialeto e revelou quem era, afirmando tratar-se da própria Mãe de Deus.
Num misto de surpresa e temor, Juan Diego a observa extático, ao que Ela solicitou que ele se dirigisse ao bispo Dom Juan de Zumárraga transmitindo-lhe seu desejo de que naquela colina fosse erguido um templo em sua honra, onde poderia socorrer seus filhos prodigamente. Num instante a Virgem já não estava mais ali. Embora titubeando e com medo de ser ignorado, devido à sua condição humilde, Juan Diego dirigiu-se ao palácio do bispo e após longa espera foi recebido friamente. Ao narrar o que sucedera, foi ouvido com descrédito e o bispo lhe solicitou um sinal de que sua fala era verdadeira, o que o desapontou sobremaneira.
Na aparição seguinte, o índio pediu a Nossa Senhora que escolhesse outro mensageiro mais digno de crédito diante do bispo, ao que Ela replicou que possuía muitos devotos da mais alta nobreza que ficariam contentes em servi-la, mas Ela não queria. Seu desejo era que ele desempenhasse o papel para o qual fora escolhido. Na manhã seguinte, como seu tio não melhorara resolveu buscar um padre para lhe administrar os últimos sacramentos. Supondo que a Virgem estaria no Tepeyac, resolveu cortar caminho por um atalho, desviando o olhar do monte.
Ao seguir seu caminho, enquanto passava próximo ao Tepeyac, a Virgem o esperava no atalho e perguntou-lhe: “Aonde vais?” Envergonhado por tentar fugir da Mãe de Deus, pediu desculpas e tentou justificar-se pela doença do tio, mas Nossa Senhora o tranquilizou garantindo-lhe que o mesmo já estava curado. Ordenou-lhe então que subisse ao cume do Tepeyac e colhesse rosas frescas e as levasse ao bispo como prova de que o pedido provinha da vontade de Deus, como o bispo mesmo pedira.
Embora fosse inverno e, portanto, improvável encontrar rosas frescas, Juan Diego obedeceu e surpreendeu-se ao encontrá-las tal como a Virgem havia lhe dito. Prontamente as colheu, envolveu em sua tilma e dirigiu-se ao palácio episcopal. Após longa espera, foi recebido pelo bispo, diante do qual abriu sua capa, de onde caíram muitas rosas vermelhas e frescas, como se tivessem acabado de ser colhidas.
Mas o que mais espantou a todos foi o fato de que na tilma do índio a figura da Virgem, tal como ele a vira, aparecera gravada sobre o tecido. Assombrado e arrependido, D. Zumárraga ajoelhou-se ante a sagrada imagem e comprometeu-se a erguer o templo que Maria Santíssima solicitara, invocando-a daí em diante como Nossa Senhora de Guadalupe.
Após a aparição, a evangelização, que antes não dava frutos, começou a prosperar dia a dia, o que fez a Igreja ver nesse fato a mão de Deus atuando através de Maria, carinhosamente chamada pelo papa João Paulo II de “evangelizadora da América”.
No começo do século XV numa pequena vila chamada Caravaggio, próxima à cidade de Milão, vivia uma jovenzinha chamada Gianetta Vacchi. Ela, assim como tantas outras jovens de sua idade, tiveram um destino bastante comum para a época: assim que seus pais julgaram oportuno, trataram de encontrar um noivo para ela e dá-la em casamento. Embora ela não quisesse se casar, acabou cedendo à vontade dos pais. Foi muito maltratada pelo marido, mas tudo suportou sem queixar-se, procurando viver de modo bastante resignado. Desde pequena, Gianetta era muito devota de Nossa Senhora e passava o dia todo em ardorosos colóquios com a Mãe de Deus.
Em dada ocasião, após ser brutalmente espancada pelo esposo, foi obrigada a caminhar mais ou menos uma légua de distância de sua casa para cortar feno. Como estivesse muito machucada e mal pudesse sustentar-se de pé, obedeceu à ordem de seu esposo. Chegando ao local combinado, começou a cortar o feno com a pesada foice que levara. Em meio a esse sofrimento, começou a implorar o auxílio de Nossa Senhora para que conseguisse terminar seu trabalho, o que de fato conseguiu, mas a essas alturas já estava escurecendo e ela sozinha não conseguiria levar tudo em uma só viagem.
Levar em duas viagens seria impossível em meio à escuridão. Sem saída recorreu a Nossa Senhora que é o refúgio dos pecadores. Em seguida apareceu-lhe uma jovem Senhora de aspecto belo, de porte majestoso e nobre. Sua cabeça era recoberta por um véu branco e sobre seus ombros caia um manto azul. Essa Senhora dirigiu-lhe a palavra solicitando que ela se ajoelhasse para escutá-la.
Temerosa de que o marido a punisse ainda mais severamente pela demora, Gianetta tentou retirar-se, mas a jovem Senhora tocou seus ombros, fê-la ajoelhar-se e começou a contar-lhe que o mundo, com suas iniquidades e pecados havia excitado a cólera de Deus, por isso sua justiça sentia-se impelida a puni-los. No entanto, Ela havia intercedido por eles e aplacado a ira de Deus. Em seguida pediu à camponesa que avisasse ao povo para fazer penitência e, em sinal de gratidão, que um sábado fosse dedicado a Ela.
Embora temerosa de que não lhe dessem crédito, a jovem, compreendendo se tratar da Mãe de Deus, confiou, narrou tudo ao povo. Este lhe deu crédito e erigiu um enorme santuário em honra da Virgem de Caravaggio. No local onde Nossa Senhora apareceu, suas pegadas ficaram marcadas no chão e, ao lado, brotou miraculosamente uma fonte na qual muitos doentes até hoje se banham e alcançam a graça da cura de seus corpos.
Na tarde do dia 14 de setembro de 1846, os jovens pastorinhos de gado Maximino e Melânia, como todos os dias, se dirigiram ao escarpado monte denominado colina de La Salette. Era o dia da Exaltação da Santa Cruz, véspera da festa de Nossa Senhora das Dores. A colina onde apascentavam seu gado estava nos limites do pequeno município de Isére, próximo dos Alpes, situado na região sul da França.
Nesses campos se cultivavam margaridas, miosótis e lírios alpinos que compunham uma poética paisagem, que ainda hoje pode ser contemplada pelos visitantes do lugar.
Após o almoço, os dois pastores se deitaram um pouco para a sesta e, dominados pelo cansaço, adormeceram. Algum tempo depois, a menina despertou e chamou seu companheiro, a fim de procurar e reunir o gado disperso pelas pastagens. Subiram o escarpado monte até darem de frente com um pequeno planalto que fica defronte a um lugar denominado Vale da Fontinha, onde avistaram as vacas todas deitadas na encosta do morro.
Tranquilos por verem o rebanho reunido, resolveram voltar para apanhar seus embornais, quando subitamente Melânia vê uma luz tão forte como o sol. Espantada, chamou Maximino, que também presenciou o fenômeno. Sem que esperassem, o clarão se entreabriu e ambos viram no centro uma bela Senhora sentada sobre uma pedra, que apoiava seus cotovelos sobre os joelhos e escondia seu rosto por entre as mãos, demonstrando uma grande tristeza. Ela parecia chorar copiosamente.
Diante disso, os jovens pastores se inquietaram bastante, mas a bela Senhora acalmou-os dizendo-lhes que tinha uma grande notícia a anunciar-lhes. Assim que a ouviram, se tranquilizaram e correram para junto Dela, aproximando-se bastante. Ela trazia na cabeça um rico diadema e no peito tinha um crucifixo, no qual se viam as armas da Paixão que estavam afixadas em suas extremidades.
Ela chorava sentida enquanto lhes falava que “o braço de seu Filho estava muito pesado por causa do pecado dos homens e Ela não poderia segurá-lo, vendo-se forçada a deixá-lo cair”. Na sequência profetizou dias amargos para a França e para toda a humanidade. Pediu aos pastores que rezassem bastante, não se esquecendo de Deus jamais, nem que fosse rezando um Pai-nosso e uma Ave-Maria. Depois disso, Ela contou um segredo a cada um dos dois e afirmou que somente a conversão dos pecadores poderia evitar as desgraças que ameaçavam a França e o mundo.
A Virgem Santíssima encerrou sua aparição com estas palavras: “Pois bem, meus filhos, haveis de comunicar isto a todo o povo”. Depois disso a Rainha do Céu dirigiu-se ao planalto onde tinham avistado o gado e, nesse ínterim, observaram que Ela não andava pisando sobre a terra, mas que flutuava de forma que seus pés apenas roçavam relva. Deslumbrados com a aparição correram atrás dela, sendo que Melânia se adiantou e passou à frente Dela, enquanto Maximino correu e a alcançou postando-se ao seu lado direito.
Como que compadecida pela piedade dos videntes, ainda esperou um instante e depois de ficar parada suspensa no ar foi se elevando lentamente ao céu. Maximino apressou-se em ajuntar pequenas flores que haviam tocado os pés da bela Senhora, mas tão logo as recolhia elas desapareciam. Terminada a aparição narraram a seus patrões e depois às autoridades religiosas e civis tudo quanto ouviram e, por isso sofrearam muito. No entanto, já no dia 21 de setembro ocorria a primeira romaria à colina e inúmeros milagres comprovaram sua veracidade, levando a Igreja a reconhecê-la como uma autêntica manifestação de Deus.
Curiosamente, tudo o que acontece de bom ou de ruim na França repercute no resto da Europa e do mundo. Um célebre autor do século XIX dizia que isso se deve ao fato de ser a França a “filha primogênita da Igreja”, sendo assim, o dragão de que fala o Apocalipse (Ap 12) tem grande interesse no fato de levá-la a perder-se, pois conquistando a irmã mais velha a sedução das demais nações torna-se menos complicada.
Assim pensava esse autor, e não sem razão, pois grandes mudanças políticas, econômicas e religiosas se faziam sentir em toda a França e Deus não estava alheio a isso, tanto que, em 1830 e depois em 1846, mandara sua Mãe à Terra, mais especificamente à França, para pedir a conversão dos pecadores e uma vida de penitência. Mas os homens não deram tanta importância a essas mensagens e, em 1858, Maria Santíssima, por desígnio de Deus torna a aparecer, dessa vez numa pobre gruta.
Em 1854, em meio a uma série de protestos e convulsões sociais, o Beato Pio IX proclamava o dogma da Imaculada Conceição, que definia o privilégio singular da isenção de todo pecado em Maria. Tal privilégio foi recebido por Ela em vista da missão que desempenharia na Redenção do gênero humano junto de seu Filho. Na época da proclamação, tal dogma ainda despertava dúvida em alguns teólogos e carecia de uma elucidação maior nas pregações e no ensinamento em geral que os fiéis recebiam.
Nesse cenário é que a 11 de fevereiro de 1858, quatro anos depois da proclamação do dogma, que Bernadete Soubirous com mais duas meninas foram apanhar lenha às margens do rio Gave, no rigoroso inverno do sul da França. Uma das meninas era sua irmã e outra uma vizinha. Quando passava defronte as rochas da gruta de Massabiele, também conhecida como Gruta dos Porcos, de súbito ouviu um assobio, como que de uma rajada de vento. Quase que mecanicamente olhou para o alto do rochedo e, em sua reentrância, observou a silhueta de uma jovem Senhora de grande beleza e rodeada de grande esplendor.
Ela trazia sobre seu corpo um longo vestido branco e um véu de mesma cor. Na cinta trazia uma faixa azul, os pés estavam ornados com rosas amarelas e nas mãos trazia um rosário, o qual desfiava entre seus dedos. Extasiada, Bernadete ajoelhou-se e tirando seu terço do bolso do avental começou a rezá-lo. Ao terminar a última Ave-Maria, a Senhora desapareceu. A essa aparição se seguiram mais dezessete.
Já na segunda aparição, grande era o público que comparecia para observar o fenômeno e ver a vidente, que em seus êxtases saía de si a ponto de o médico de Lourdes, Dr. Dozous, um agnóstico, observar que por ordem de Nossa Senhora, numa das aparições a vidente colocou a chama de uma vela que trazia consigo sobre sua mão, durante dois minutos, sem que esta se queimasse ou apresentasse qualquer sinal de queimadura.
Durante as várias aparições solicitou que os pecadores fizessem penitência, que rezassem e que buscassem os sacramentos. Ela também pediu que Bernadete solicitasse aos sacerdotes que lhe erigissem uma capela naquele lugar e que realizassem procissões naquele local. Obedecendo a uma ordem de Maria Santíssima, Bernadete cavou o chão seco da gruta donde brotou uma fonte que jorra ainda hoje e à qual se atribuem uma série de curas.
Em março, Bernadete, por conselho do pároco de Lourdes, solicitou à Rainha do Céu: “Podeis dizer-me quem sois?” e estendeu um papel com uma pena e tinta, na intenção de que Ela lhe respondesse tal questionamento por escrito. Nossa Senhora sorriu-lhe e nada respondeu, mas na festa da Anunciação a vidente repetiu o pedido, ao que Nossa Senhora uniu suas mãos e lançando para o céu seu doce olhar disse: “Eu sou a Imaculada Conceição!” Assim, a Rainha do Céu ratificava a proclamação de Pio IX acerca de seu privilégio único.
Ainda durante as aparições, inúmeros foram os milagres que ocorreram. No entanto, autoridades civis e religiosas muito perseguiram a vidente e sua família, não obstante, até mesmo a esposa de Napoleão III, imperador da França, recorreu a água milagrosa de Lourdes para obter a cura de seu filho, o que de fato ocorreu. Isso fez com que a devoção a Vigem de Lourdes ganhasse ainda mais crédito diante do povo. A 11 de janeiro de 1862 o bispo de Tarbes autorizou o culto a essa invocação de Nossa Senhora, que rapidamente se espalhou por vários países.
Bernadete fez-se religiosa na Ordem da Visitação de Nossa Senhora, viveu santamente e acolheu os sofrimentos cotidianos como oportunidades de santificação. Mesmo dentro do convento, foi muito humilhada e sofreu bastante por conta dos favores espirituais que recebeu. Teve uma grave ferida em seu flanco que foi escondida por muito tempo e que causou-lhe muitos sofrimentos.
Aos 36 anos de idade rendeu sua alma a Deus. Morreu em fama de santidade, sendo posteriormente canonizada na década de 1930. Quando da abertura do processo de canonização, exumaram seu corpo e o encontraram incorrupto, exalando um suave odor. Tempos depois, seu corpo foi exposto numa urna-relicário de cristal, a qual se encontra até hoje na “Capela Branca” de Nevers.
Após o evento de Lourdes, a conversão tão suplicada por Maria Santíssima, como algo agradável para aplacar a justiça de seu divino Filho, parecia ainda algo distante de acontecer. Certamente muitas pessoas corresponderam aos apelos de Nossa Senhora, mas não poucos os desprezaram. Mas quando somos infiéis é que mais Deus se mostra fiel.
Por isso, num ímpeto de misericórdia, na aurora do século XX, novamente enviou sua Mãe com um novo apelo de conversão, dessa vez mais claro e ameaçador; porém, não entendamos essa ameaça num sentido de punição, mas sim de alerta para a urgência de se viver no cotidiano o Evangelho anunciado por Jesus.
Desta vez, os escolhidos da Mãe de Deus eram três crianças: Francisco e Jacinta Marto, que eram irmãos, e Lúcia de Jesus, prima dos mesmos. A treze de maio de 1917, quatro anos após o início da Primeira Guerra Mundial, que devastou parte da Europa, a Virgem Santíssima, cumprindo sua missão de mediadora, uma vez mais se dirigiu à humanidade apontando-nos o que não agradava ao bom Deus.
O mistério que as aparições marianas evocam é justamente aquele que demonstra um Deus amoroso que cuida da Igreja e do mundo, tal qual um Pai zeloso pelas necessidades de sua casa, mandando-nos sua Filha, Esposa e Mãe para nos transmitir seus desejos.
Foi o que aconteceu em Fátima, pequena localidade situada próxima à Serra D’Aire, no centro de Portugal. Após o almoço, enquanto apascentavam os cordeiros de propriedade de suas famílias, as três crianças se puseram a rezar o terço. Em seguida se assustaram com um clarão parecido com relâmpagos, e na sequência, observaram que sob uma pequena azinheira estava pousada a silhueta claríssima de uma bela Senhora vestida de branco, com um véu longuíssimo que se estendia até seus pés; nas mãos trazia um terço e seu pescoço era adornado por uma corrente de ouro, arrematada por um pingente que tinha a forma de um globo de ouro liso. Trazia as mãos juntas no peito em oração.
Segundo a descrição das crianças, seu olhar era afável, seu semblante não estava triste, mas também não sorria, tinha um aspecto grave e seu olhar parecia expressar uma suave repreensão. Era uma Senhora “vestida de sol”, pois irradiava uma luz mais intensa que qualquer tipo de luz. A luz que a envolvia se espargia por todos os lados e era tão forte que fez com que Lúcia comparasse a aparição a um copo de cristal atravessado pelos raios do sol. As bordas de seu manto eram douradas e suas vestes pareciam feitas de luz.
Nas aparições, somente Lúcia falava com Nossa Senhora. Jacinta ouvia tudo, mas não lhe falava diretamente e Francisco nem ouvia, nem falava com Nossa Senhora, apenas a via. Desde a primeira aparição, os pedidos de conversão, o conselho de sempre rezar o terço, a necessidade de orar pela Igreja e necessidade de uma conversão sincera foram se evidenciando. A aparição ocorreu num período de forte perseguição ao clero em Portugal e, além disso, as idéias ateístas propostas no século XIX pululavam por todo o canto.
A tentativa de implantar o comunismo e outras idéias nefastas, como aquelas do marxismo, contaminavam muitas mentes em todos os cantos do mundo, em especial na Rússia. Nesse contexto conturbado, a Virgem Maria transmite a seus três pequenos confidentes o quanto essas doutrinas ofendiam ao Coração de Jesus.
Pediu reparação! Exortou à penitência! Pediu a conversão dos corações! Demonstrou o poder da oração do Rosário! Pediu a consagração da Rússia! Profetizou uma grande perseguição à Igreja e ao papa, mas também profetizou o triunfo de seu Imaculado Coração, que deve esmagar tudo o que ofende a Nosso Senhor!
Como em todas as aparições, houve aqueles que acreditaram, mas também aqueles que duvidaram e combateram tais manifestações. Nossa Senhora, vendo tais coisas, anunciou à Lúcia que no dia treze de outubro faria um milagre para que todos acreditassem. Ateus, agnósticos, curiosos e católicos devotos mesclados a católicos desconfiados compareceram nesse dia na Cova da Iria.
Uns para lá foram na certeza de verem um fiasco que precipitaria toda essa história no ridículo. Outros, movidos pela fé, para lá foram na certeza de estar um pouco mais próximos da Mãe de Deus. Em meio a uma chuva torrencial, as três crianças chegaram à Cova da Iria, prostrando-se no lamaçal em que aquele lugar se havia convertido. Lúcia convidou a multidão a fazer o mesmo.
Ao meio-dia iniciou-se a aparição. Aqueles que estavam mais próximos da azinheira narraram que ao começar a aparição, embora nada vissem, ouviam um zunido como que de um enxame de abelhas dentro de um cântaro vazio, som este que perdurava enquanto não cessasse a aparição. Num dado momento, a Senhora do Céu e da Terra estendeu seu braço e como que rasgou o céu fazendo aparecer o sol que surgiu em meio à chuva torrencial. A Virgem desapareceu e Lúcia pediu que todos olhassem para o sol, e então a multidão viu o sol como um imenso disco de prata, que brilhava com intensidade nunca antes vista.
Subitamente, o sol começou a bailar de um lado para outro, girando numa intensidade muito grande. Em seguida, por três vezes ficou animado de um movimento sempre mais rápido e pareceu tremer, sacudir-se e precipitar-se em ziguezague sobre a multidão aterrorizada. Por volta de setenta mil pessoas assistiram ao milagre no local e muitas outras o viram até a quarenta quilômetros de distância.
Durante o milagre, muitas pessoas aterrorizadas rezavam em alta voz o ato de contrição. Os videntes nada viram do milagre, pois durante todo esse tempo viram sucessivamente Nossa Senhora das Dores e o “Senhor dos Passos” (Jesus carregando a Cruz). Em seguida, viram Nossa Senhora do Carmo e São Jose com o Menino Jesus ao colo.
Os apelos de Nossa Senhora foram claros e as consequências do não cumprimento de seus pedidos foram por Ela anunciadas de antemão, demonstrando-nos a que ponto a misericórdia divina chegou, revelando-nos de modo tão claro a vontade de Deus. Nossa Senhora revelou três segredos aos pastorinhos, sendo dois deles logo revelados e o último reservado até o ano 2000, quando o papa João Paulo II o leu, sem publicar, no entanto, a explicação que Nossa Senhora deu desta visão.
A Igreja, em sua prudência, julgou que, por ora, a essência do terceiro segredo basta para o conhecimento dos fiéis e, talvez em tempos mais oportunos também publique a explicação da visão do terceiro segredo.
O essencial da mensagem, portanto, é a necessidade de conversão, a busca de Deus, a necessidade do rosário, a oração pelas necessidades da Igreja e a certeza de que, no fim, o Imaculado Coração de Maria triunfará!
Oração em homenagem a Nossa Senhora das Dores
Ó Nossa Senhora das Dores! Ó dores da maior bondade que estão guarnecidas no brilho do sol que é Cristo, luminosidade irradiada em todas as direções e dores em torno das quais giram todas as partes do mundo.
Salve Rainha, a realeza da Virgem Maria
A doutrina da Realeza de Maria pertence à mais antiga Tradição da Igreja, um legado que foi sendo enriquecido, ao longo dos séculos, pelos pontífices.
Maria, Mãe e consolo dos sacerdotes
A Mãe eucarística ama nos padres o Filho Sacerdote que se configuraram a Ele pelo Sacramento da Ordem, como Cristo Cabeça, na oblação pela salvação de todos.
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