Por Leonardo C. de Almeida Em Palavra do Associado Atualizada em 07 FEV 2019 - 10H14

“Apóstolos” de Nossa Senhora

Ao visitar o belíssimo Santuário de Nossa Senhora, Mãe dos Homens, encravado na magnífica Serra do Caraça, em Minas Gerais, tomei contato com uma obra do Padre José Tobias Zico, C.M., intitulada “Caraça – Nossa Senhora e a História do Colégio”. No referido livro, ao explanar sobre a venturosa história do surgimento da igreja, do colégio e do seminário do Caraça, iniciada no século XVIII, o autor assim escreve:

“Nossa Senhora quis, como Jesus, escolher seus apóstolos entre a gente boa e simples de nosso povo, que conserva a fé de nossos antepassados, onde Maria tem, em cada peito, um coração de filho e, em cada coração, um altar de eterna gratidão.” (1980, p.13)

Essa poética proposição chamou-me muito a atenção, especialmente quando o padre fala sobre os ditos “apóstolos” de Nossa Senhora, ou melhor, os escolhidos por Ela para cumprir um apostolado mariano e, consequentemente, da Verdade do Evangelho do seu Filho.

Desde a gênese da História da Salvação, o Senhor – Pai Misericordioso – tem escolhido e chamado colaboradores para libertar seu povo de toda opressão e conduzi-lo na santidade por entre os certames deste mundo, rumo à feliz eternidade. Foi assim com Noé, Abraão, Moisés, os profetas, os reis de Israel. A partir da Revelação plenificada em Jesus de Nazaré, Ele, o Cristo, convoca seus doze Apóstolos, colaboradores diretos no anúncio da Boa Nova da Libertação e testemunhas da missão salvífica confiada por Jesus à sua Igreja.

A Mãe de Jesus, dada por Ele a nós como Mãe celestial no drama do Calvário, é também discípula de seu Filho. E, como tal, Ela transmitiu docemente ao mundo e àqueles que A amam o seu testemunho de fé no Ressuscitado. A figura materna e poderosa de Maria, cantada e exaltada por todas as nações, atesta suas palavras proféticas: “Todas as gerações hão de me chamar de bendita” (Lc 1,48).

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Imagem de Nossa Senhora de Fátima (Portugal)


A Ela acorremos noite e dia sem cessar, sentimo-nos atraídos por seu olhar de Mãe e encontramos refúgio, consolo, proteção e cura certeira em seu regaço. Ela nos acolhe de braços abertos, com mãos ternas e seguras, tal como a contemplamos em tantas imagens, tantos ícones, afrescos. E quando nos achegamos a Maria, ouvimos sua voz suave, como nas Bodas de Caná, a nos dizer: “Façam tudo o que Jesus disser” (cf. Jo 2,5). Com efeito, aproximar-se de Maria, tornar-se seu “apóstolo”, isto é, propagador da sua mensagem, do seu amor, da sua devoção, do seu poder intercessor, é tornar-se, inevitavelmente, apóstolo de Jesus, pois Ele é o fundamento de nossa fé, apontado por Maria, sua e nossa Mãezinha.

Maria escolhe os seus “apóstolos”, assim como nos afirma o padre José Tobias, na gente pobre e simples, naqueles que o mundo mais despreza, todavia por quem Deus revela sua predileção e a quem eleva e exalta (cf. Lc 1,52). São inumeráveis os humildes videntes, a quem Maria se manifesta e os quais, por sua vez, fazem-se seus “apóstolos” e servidores, preconizando novas devoções, difundidas para todo o mundo. Recordamos, aqui, os pastorzinhos de Fátima; a frágil Bernadete, em Lourdes; o índio Juanito, em Guadalupe; a jovem noviça Catarina, recebedora da mensagem da Medalha Milagrosa; o Irmão Lourenço, que inicia a construção da igreja do Caraça, MG; e outros tantos nomes que vêm à nossa mente neste instante. Pensemos com carinho em todos eles.

Também há aqueles que, mesmo não sendo videntes, tornam-se “apóstolos” de Maria, por serem os instrumentos ou canais por Ela utilizados para difundir seus apelos maternais, iniciar novas devoções ou erigir santuários em sua honra, onde Deus derrama bênçãos de forma privilegiada e revela sua Palavra libertadora. Trata-se de pessoas apaixonadas por Maria desde sempre, porque já cultivavam um amor místico por Ela, ou de pessoas que assim se tornaram, a partir de alguma experiência de fé. São os destinatários privilegiados de graças concedidas por Nossa Senhora.

Aqui lembramos os vários tropeiros que, munidos de alguma imagem de Nossa Senhora, fundaram inúmeras capelas e vilas por este país; os humildes pescadores de Aparecida; o escravo Zacarias, libertado dos grilhões pela Senhora de negra cor; o cavaleiro que se converte após ser impedido de profanar com seu cavalo a capela de Aparecida; Anchieta, que trouxe a Itanhaém a devoção à Senhora da Conceição e escreveu nas areias da praia o “Poema à Virgem”; Frei Galvão, “escravo” da Imaculada Conceição; a pobre Nhá Chica, cuidada desde criança pela mesma Senhora da Conceição; os Padres Vitor Coelho e Donizetti, difusores da devoção à Rainha e Padroeira do Brasil; Padre Cícero, devoto da Virgem das Dores; Monsenhor Celso, fiel guardião da Virgem do Rosário e da Senhora da Luz dos Pinhais em Curitiba...

Matheus Andrade
Matheus Andrade
Uma procissão saindo do Santuário levou os homens do Terço a percorrerem as ruas da cidade de Aparecida, rumo ao Porto Itaguaçu.



Quando pensamos nos vários títulos e nas diversas invocações de Maria Santíssima, a Virgem da Penha, uma das primeiras devoções chegadas ao Brasil, chama-nos a atenção por sua vívida história que atravessou séculos, continentes e realidades aparentemente não favoráveis ao prosseguimento dessa devoção.  E quem seriam os “apóstolos” de Nossa Senhora da Penha? Indubitavelmente, o seu primeiro “apóstolo” foi o monge Simão Vela, que encontrou a primitiva imagem da Virgem na Serra da Penha de França, na Espanha, em 1434.

Nas suas pegadas, no Brasil, temos Frei Pedro Palácios, fundador do Convento da Penha, em Vitória – ES, no ano de 1560; seguido pelo Capitão Baltazar, que ergue a igreja da Penha na Capital do Rio de Janeiro em 1635, famosa por sua grande escadaria escavada na rocha. Finalmente, em São Paulo, o desconhecido e misterioso viajante francês, de quem tanto se fala e que teria trazido, em 1667, a imagem milagrosa ora venerada na Basílica e que originou o Santuário, o bairro e essa devoção à Padroeira da Metrópole.

Bendito seja Deus por esses nomes! E também pela lista infindável de tantos outros “apóstolos” e “apóstolas” de Nossa Senhora, reconhecidos pela Igreja ou anônimos! Estamos falando das testemunhas do poder de Maria, contempladas e agraciadas pela intercessão e pelos méritos de Nossa Senhora, pessoas depositárias de graças divinas das mais diversas e impressionantes à lógica humana – conforme atestam as paredes forradas de ex-votos das Salas dos Milagres de todos os santuários marianos.

Thiago Leon
Thiago Leon
Sala das Promessas no Santuário de Aparecida.



Nesse sentido, há também muitos “apóstolos” da Virgem que, na discrição, rezam o Rosário com frequência, realizam trabalhos pastorais e sociais de visita aos enfermos, aos presos, aos mortos e aos enlutados, participam de movimentos eclesiais marianos, como o Terço dos Homens e das Terço das Mulheres, Mãe Peregrina, Congregação Mariana, Legião de Maria, etc.

Certa vez, durante uma homilia na Festa do Senhor Bom Jesus, ouvi o padre pregador dizer assim: “Meu irmão, minha irmã, o Bom Jesus não precisa de devotos. Ele precisa de continuadores de sua missão!”. Certamente isso se aplica também a Maria. Claro que toda forma de piedade e devoção filiais são agradáveis aos corações de Deus e de Nossa Senhora, mas Eles contam, sobretudo, com cristãos e cristãs legítimos e corajosos, que assumam, com garra e coerência, o seu compromisso batismal, tornando a sociedade mais justa, fraterna e cheia de paz.

Tornar-se “apóstolo” de Maria é, enfim, ter a certeza de se estar inserido no apostolado de Jesus Cristo. Não se trata de colocar Maria acima do Salvador. Pelo contrário! Onde está Maria está, primeiramente, Jesus. Muito menos estamos falando de “escravidão”, “submissão passiva”, “subserviência” a Ela, mas de assumir, ativamente e com gratuidade e alegria, o protagonismo do cristão no mundo em que se vive, especialmente na promoção da vida e da dignidade humanas, da não violência, de políticas públicas favoráveis aos mais excluídos e sofredores e de preservação do meio ambiente, sempre a partir de uma comunhão plena com Jesus e sua Mãe. E você, já é um “apóstolo” de Nossa Senhora?

Leonardo C. de Almeida
Associado da Academia Marial de Aparecida

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