Por Academia Marial Em Palavra do Associado Atualizada em 12 AGO 2019 - 11H45

Nossa Senhora de Santa Cabeça

Eduardo Gois
Eduardo Gois
A imagem da Cabeça da Santa foi encontrada por dois pescadores por volta de 1829 ou 1830

Não se trata de Nossa Senhora da Cabeça, que é outro título de Nossa Senhora, bastante popular em algumas regiões do Brasil desde a época da colonização, cujos primórdios históricos remontam ao ano de 1227, na Espanha, e que é celebrado a 12 de agosto. Tratamos aqui, na verdade, de Nossa Senhora de Santa Cabeça, ou seria melhor dizer: Santa Cabeça de Nossa Senhora. Para quem desconhece essa devoção, pode, num primeiro momento, soar estranha essa invocação. Consiste no culto a uma miraculosa cabeça de uma imagem de Nossa Senhora, preservada até hoje num resplendor sustentado por dois anjos em seu Santuário na cidade paulista de Cachoeira Paulista, pertencente à Diocese de Lorena.

A região do Vale do Paraíba é de uma fecundidade devocional impressionante. Haja vista as importantíssimas devoções nacionais oriundas de lá: Nossa Senhora da Conceição Aparecida, Rainha e Padroeira do Brasil, e Santo Antônio de Sant’Anna Galvão (Frei Galvão), o primeiro santo brasileiro. Em meio às serras da zona rural do município de Cachoeira Paulista foi erigido o Santuário para honrar uma cabeça de Nossa Senhora a quem recorrem milhares de romeiros durante todo o ano. Eles fazem romarias até o pequeno Santuário, onde deixam seus ex-votos, banham-se e bebem da água que jorra da fonte tida como milagrosa que brotou ao lado da igreja e amarram fitinhas numa armação junto ao templo, como que confiando suas vidas e intenções à Senhora da Santa Cabeça.

Leia MaisA bendita Cabeça da Santíssima Virgem Maria teria sido encontrada no ano de 1829, durante uma pesca no rio Tietê. Não se sabe como teria ido parar lá, de qual imagem teria feito parte e o seu escultor. Os pescadores ofertaram a imagem a um negociante que passava por ali rumo ao Rio de Janeiro. Esse, por sua vez, ao passar pela região de Silveiras – SP, ofereceu a Cabeça como presente a Joana de Oliveira. Essa piedosa senhora mudou-se para o bairro de Jataí, região próxima de onde está o atual Santuário, levando consigo a imagenzinha, que começava a ficar afamada entre os vizinhos devido a seus prodígios. Uma multidão começou a acorrer à casa de Joana para agradecer os benefícios recebidos por intercessão da Santa Cabeça de Nossa Senhora.

Com o aumento da fama da imagem, o vigário da região sugeriu que fosse erigida uma capela para veneração pública da Cabeça de Nossa Senhora. A capelinha, ficando pequena para acolher tantos devotos, foi substituída por uma capela maior e, finalmente, pela igreja atual, inaugurada em 26 de agosto de 1928. Em 2010, o Bispo de Lorena, Dom Benedito Beni dos Santos elevou-a a Santuário.

Por feliz coincidência, a Santa Cabeça de Nossa Senhora foi, assim como a imagem de Aparecida, pescada por humildes pescadores; além de ter sido encontrada no Tietê, rio abençoado que já nos forneceu outras preciosas imagens milagrosas, como a do Senhor Bom Jesus de Pirapora, cujo Santuário foi recentemente assumido pelos missionários redentoristas. (Cabe aqui lembrar, então, que temos uma “dívida” com o Tietê, tristemente poluído em alguns trechos). Também essa de Cachoeira Paulista não é a primeira devoção popular voltada a uma cabeça de imagem. Segundo a tradição, a própria cabeça, original da imagem do Senhor Bom Jesus de Pirapora, é venerada num Santuário no bairro do Cabuçu, em Guarulhos.

Deus, na sua simplicidade, revela-nos a sua grandeza. Pelas mãos dos pequenos e humildes do seu povo, os pobres, é que nos são manifestados os sinais da misericórdia celestial e da intercessão da sua Mãe bondosa. Na Cabeça de uma imagem fragmentada da Virgem Santíssima, aparentemente sem mais utilidade e beleza, o Senhor quis deixar um canal de sua graça salvífica e instruir-nos a ter, como Maria, pensamentos semelhantes aos de Jesus. Mais do que livrar seus devotos dos males físicos e psíquicos da cabeça, Nossa Senhora quer sinalizar, por meio da imagem de Santa Cabeça, que nossos raciocínios, mente e pensamentos devem se pautar pela lógica do Evangelho libertador, o qual nos convida à conversão e à vigilância por meio da prática da solidariedade e da luta contra todo tipo de opressão e perseguição dos irmãos. Ter a cabeça voltada para o Alto consiste nisto: ouvidos atentos aos apelos de Deus nos sofredores; bocas cantando, profeticamente, as maravilhas e a justiça divinas; olhos com solicitude fraterna para o mundo que padece. Sejamos, assim, pela intercessão da Mãezinha do Senhor, sempre livres das doenças da cabeça, especialmente do mal do pecado, de forma que nosso agir seja expressão daquilo que pensamos e cultivamos no coração: “Tende em vós os mesmos sentimentos de Cristo” (Fl 2,5).

Leonardo C. de Almeida
Associado da Academia Marial de Aparecida

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