Brasil

Distantes sim, ausentes não!

Professores sinais de vida e de esperança em tempo de medo e de aflição

Joana Darc Venancio (Redação A12)

Escrito por Joana Darc Venancio

21 JUL 2021 - 13H31 (Atualizada em 21 JUL 2021 - 13H52)

Juliya Shangarey/ Shutterstock

Todos fomos atingidos pelas súbitas mudanças impostas pela pandemia. Alguns setores e profissionais foram mais intensamente desafiados e obrigados a encontrarem soluções rápidas para os grandes desafios. Um desses setores foi a Educação. De uma hora para outra, a presencialidade do cotidiano escolar se transformou em realidade remota, on-line e à distância.

Os professores não tiveram tempo para as adequações. Não houve escolha: tiveram que se lançar no novo contexto, mesmo inseguros. Uma reinvenção da ação docente? Sim, uma reinvenção, assim como deve ser com quem escolheu ser professor.

No entanto, cabe também uma reflexão acerca da superação do determinismo. Por que? De repente, os professores tiveram que sair da rotina de um cotidiano comum, já conhecido e experimentado, para uma rotina cheia de incertezas, de dúvidas, desconhecida e não experimentada.

A Educação não deve ficar retida pelas certezas do determinismo, mas manter abertas as interrogações que impulsionam a criação e recriação de sua própria existência e da existência de seus sujeitos. A pandemia forçou um tempo do indeterminismo, de incertezas e de medo. Os professores tiveram que ser portos seguros em mar revolto, mesmo estando eles também inseguros, com medo, angustiados e sem a devida preparação e treinamento. Foi uma resposta nítida e convincente ao determinismo, que está enraizado em muitas situações da ação docente. Ou rompiam com o determinismo ou se entregavam a ele, negligenciando a missão de manter viva a chama da esperança pela ação docente.

Papa Paulo VI, na Declaração Gravissimum Educationis sobre a Educação Cristã, reflete que:

É bela, portanto, e de grande responsabilidade a vocação de todos aqueles que, ajudando os pais no cumprimento do seu dever e fazendo as vezes da comunidade humana, têm o dever de educar nas escolas; esta vocação exige especiais qualidades de inteligência e de coração, uma preparação esmeradíssima e uma vontade sempre pronta à renovação e adaptação.

O determinismo faz com que nos bastemos em nós mesmos. Ele bloqueia as interrogações que poderiam fomentar e recriar a condição de nossa condição de sujeitos, e impede que tenhamos “vontade sempre pronta à renovação e adaptação”. Voltando aos professores, podemos interrogar: Se os professores estão convictos de suas ideias, por que razões haveria de fazer interrogações?

Leia MaisNinguém escapa da educação: escolha educar para o bemEducação a distância também é obra educativaEducação da vontadeOs professores que não ignoram as perguntas se colocam diante do desconhecido, como alguém disposto a aprender com a dúvida e com a inquietação, reconhecendo que a interrogação é parte significativa da prática educativa. A interrogação permite desembarcar num espaço desconhecido, mas repleto de possibilidades. A pandemia provou isso. O pensador Philippe Perrenoud, no livro “10 Novas Competências para Ensinar”, define competências como “(…) capacidade de mobilizar diversos recursos cognitivos para enfrentar um tipo de situação.”

A grande maioria dos professores mobilizou todos os recursos, inclusive os afetivos, não deixando romper a “rede de pessoas” que é ato educativo. A Congregação para a Educação Católica no Instrumentum Laboris: Educar hoje e amanhã, uma paixão que se renova, elucida que:

O ensino e a aprendizagem representam os dois termos de uma relação que não é só entre um objeto de estudo e uma mente que aprende, mas entre pessoas. Essa relação não pode basear-se unicamente em contatos técnicos e profissionais, mas deve nutrir-se de estima recíproca, de confiança, de respeito, de cordialidade. A aprendizagem, num contexto em que os sujeitos percebem um senso de pertença, é bem diferente de uma aprendizagem que se dá numa moldura de individualismo, de antagonismo ou de frieza recíproca.

Distantes sim, ausentes não! Educar é sempre uma experiência imprevisível. Seria uma irresponsabilidade e uma hipocrisia fazer, da dúvida e das incertezas, justificativas para o não comprometimento. Os professores foram corajosos e foram sinais de vida e de esperança em um tempo de medo e de aflição. A educação nos possibilita a experimentar o imprevisível, geralmente soterrado pelas nossas respostas e convicções cimentadas e deterministas. Esse pode ser um passo para pensar o sujeito da educação e também as razões pelas quais decidimos experimentar o desafio de educá-lo.

Obrigado, professores!

Escrito por
Joana Darc Venancio (Redação A12)
Joana Darc Venancio

Pedagoga, Mestre em educação e Doutora em Filosofia. Especialista em Educação a Distância e Administração Escolar, Teóloga pelo Centro Universitário Claretiano. Professora da Universidade Estácio de Sá. Coordenadora da Pastoral da Educação e da Catequese na Diocese de Itaguaí (RJ)

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