Por Luciana Gianesini Em Redação A12 Atualizada em 28 FEV 2020 - 11H19

CF 2020: Caminho de conversão e compaixão, da Quaresma para a vida

"Ser samaritano nos dias de hoje é colocar a compaixão contra a indiferença"

Na semana em que nos preparamos para iniciar a Quaresma, o Redação A12 ao vivo convidou o Padre Pedro Cunha, da Diocese de Lorena (SP), para falar sobre a Campanha da Fraternidade de 2020, que tem como tema: “Fraternidade e Vida: Dom e Compromisso” e lema: “Viu, sentiu compaixão e cuidou dele” (Lc 10, 33-34).

Esta passagem bíblica, em especial, fala da parábola do “Bom Samaritano” e o jornalista Eduardo Gois quis saber do Padre Pedro como este Evangelho pode inspirar a nossa vida, não somente na Quaresma, mas todos os dias.

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Confira a resposta!

Gustavo Cabral
Gustavo Cabral

“Neste ensinamento, nesta parábola, Jesus aponta coisas muito importantes. Primeira coisa: existem pessoas caídas. São pessoas que, na sua vida cotidiana, por um motivo ou por outro, por causa de outras pessoas, por causa da maldade, seja pelo que for, elas caem e ficam caídas. Elas não têm forças para se levantar sozinhas, porque uma coisa é você tropeçar, cair e levantar; outra coisa é você cair e não ter forças para levantar. É o caso daqueles que caíram na mão dos salteadores.

Pois bem: a segunda coisa que Jesus ensina é quem passa por essas pessoas primeiro? Cada um que passa, tem sua preocupação, seus afazeres, suas necessidades... Eles veem. Mas eles colocam outras prioridades na vida deles: chegar a tempo, fazer suas obrigações pré-programadas... Portanto, quem está à beira do caminho fica em segundo plano.

Mas o bom samaritano é uma pessoa que, do ponto de vista religioso, talvez não fosse das mais interessantes e aí é que entra o versículo lema da Campanha: ele olha, ele vê, ele desce de sua montaria, ele toca naquela pessoa, ele sente compaixão, ele pega aquela pessoa, coloca na sua montaria, leva aquela pessoa até uma hospedaria, faz com que, naquela hospedaria, esta pessoa seja cuidada... Ela também tem suas obrigações, ela precisa seguir o caminho, porém ela não deixa aquela pessoa abandonada ali. Mesmo já tendo cuidado tanto dela, diz para o dono da hospedaria assim: ‘Olha, eu tenho que ir, mas o que precisar fazer por essa pessoa, faça. Quando eu voltar, eu passo de volta aqui eu acerto tudo com você”.

Veja: sentir compaixão é sentir misericórdia. E isso não é sentir dó. Quem tem dó, apenas olha. Quem tem compaixão, se curva, estende os braços e cuida. É isto que a Campanha da Fraternidade quer nos inspirar. Não basta a gente olhar de longe a realidade; a gente precisa enxergar de perto e precisa fazer algo por aquilo, enfrentar aquela realidade e realizar concretamente”.



Santa Dulce dos Pobres, protótipo do Bom Samaritano

No cartaz da Campanha da Fraternidade, a grande e inspiradora homenageada foi a irmã Dulce, a Santa Dulce dos Pobres. Nós já falamos dela aqui no Redação A12 em outras oportunidades, principalmente em 2019, mas é sempre bom relembrar essa mulher, porque ela foi e ela é o exemplo mais concreto de caridade e fraternidade.

“Independente de ela ter sido declarada ou não santa, ela era o protótipo do Bom Samaritano. E, no caso da Irmã Dulce, tem uma singularidade realmente, porque ela fazia igualzinho ao Bom Samaritano. Encontrava a pessoa normalmente caída na sarjeta, na rua, fosse por bebida, fosse por droga, fosse pelo que fosse, a primeira coisa que ela fazia: olhava, se aproximava, via, tinha compaixão. Depois, ela pegava e ia cuidar dele.

Ela não deixou de ter compaixão porque não tinha dinheiro para cuidar, não. Ela pegou o doente e levou. Ali, ela cuidava com o que ela tinha, do jeito que ela tinha e foi isso que tornou o que hoje é a obra da Irmã Dulce, mais de 4 milhões de atendimentos por ano. É muita coisa para algo que começou a partir de um galinheiro, né?”, observa Padre Pedro.

:: Confira a página especial do A12 sobre a Campanha da Fraternidade 2020

Conversão, oração, caridade: Dicas para viver melhor o período da Quaresma

Padre Pedro diz que o tempo da Quaresma e da Campanha da Fraternidade é um tempo de conversão. Em função disto, é um tempo profundo de reflexão, onde devemos perceber o que significa converter.

“Veja: no trânsito, existe conversão à esquerda, conversão à direita, seguir em frente... Conversão é quando você está num caminho e percebe que o rumo que você está não é o que você deveria estar e, às vezes, nem o que você gostaria de estar. Então, você vê que o seu objetivo está lá, mas está caminhando por aqui. O que você precisa? Precisa converter-se, precisa pegar aquele outro rumo, explica. “Nesse tempo da Quaresma, primeiro a gente toma consciência de si próprio. Depois, precisa, de fato, tomar o caminho certo”, conclui.

O sacerdote também destaca a oração como um instrumento importantíssimo de conversão. “A oração entra no melhor de nós, mas também faz com que a gente jogue como que uma âncora lá em Deus e se segure n’Ele”.

Outro ponto mencionado pelo Padre Pedro trata da caridade. “Ela é a mãe das virtudes. A Campanha da Fraternidade deste ano nos ajuda nisso... Muitas vezes, a gente não compartilha com outro, porque a gente não enxerga mesmo. Como é um jejum? Não é eu parar de comer; o jejum é dizer assim: ‘Poxa vida, todos os dias da Quaresma eu tomo uma xícara de leite. Nessa Quaresma, eu tenho dinheiro, então eu vou dar uma xícara de leite para o necessitado. O jejum não é para eu passar fome, é para eu também aprender a compartilhar com meu irmão necessitado aquilo que eu tenho, exemplifica.

Shutterstock
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A Campanha da Fraternidade: compaixão contra a indiferença

O sacerdote afirma que “nós temos hoje um mundo carcomido pela indiferença, por que a maioria das pessoas ficou acostumada com isso”. Ele cita como exemplo as imagens de noticiários que vemos todos os dias, de pessoas morrendo de fome, que já não mexem mais tanto com as pessoas.

Padre Pedro retoma também o exemplo de Santa Dulce dos Pobres, que nunca se mostrou indiferente aos mais necessitados. “Irmã Dulce tinha condições não nem físicas, nem estruturais, nem financeiras, nem saúde, mas ela foi indiferente, porque o que estava ao alcance dela, ela fez”, diz. “Então, a indiferença é uma coisa absolutamente contrária à compaixão, porque a compaixão vai de encontro à indiferença, a compaixão rompe com a indiferença, a compaixão explode com a indiferença”, finaliza.

send Confira no vídeo a entrevista na íntegra e compartilhe estes e outros temas abordados pelo Padre Pedro Cunha.


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