Todo ano, no dia 6 de agosto, a Igreja celebra a festa da Transfiguração do Senhor, uma data em que somos apresentados ao mistério da vida de Jesus, que fala diretamente ao coração dos fiéis, porque revela quem Ele é e o que Ele deseja para nós.
A festa começou a ser celebrada no Oriente ainda no século V, lembrando a dedicação das basílicas do Monte Tabor, local do acontecimento. Foi estendida a toda a Igreja pelo Papa Calisto III, em 1457, após uma vitória contra os turcos, interpretada como fruto da luz de Cristo que guia o seu povo.
Mas o foco principal não é a data, e sim o acontecimento. No Evangelho de Lucas (9,28b-36), Jesus sobe a uma montanha com Pedro, Tiago e João. Ali, enquanto rezava, transfigura-se:
“Seu rosto mudou de aparência e sua roupa ficou branca e brilhante”.
Ao lado dele, aparecem Moisés e Elias. O momento culmina com uma voz vinda da nuvem dizendo: “Este é o meu Filho, o Escolhido. Escutai-o!”
Subir ao monte tem um sentido especial na Bíblia. É lugar de encontro com Deus. Lembremos do Monte Sinai com Moisés (Êx 24) ou do Monte Horeb com Elias (1Rs 19). Ali, Deus se revela de modo único. Jesus, ao se transfigurar, mostra que é a própria presença divina no meio de nós, a plenitude da Lei (representada por Moisés) e dos Profetas (representada por Elias).
A Transfiguração mostra que Jesus é mais do que o mestre que os apóstolos conheciam: Ele é o Senhor da glória (1Cor 2,8), aquele que brilha com o esplendor de Deus (2Cor 4,6). É um momento de luz, mas também de preparação para a Cruz. Moisés e Elias falavam com Ele sobre “a sua partida”, ou seja, sua Paixão, Morte e Ressurreição.
Pedro, tomado pelo impacto da cena, diz: “Mestre, é bom estarmos aqui!”. Quantas vezes também desejamos parar o tempo nas experiências de oração ou de consolo espiritual! Mas Jesus não permite que se ergam tendas. O chamado é voltar ao cotidiano, transformados pela escuta da Palavra de Deus.
A Transfiguração é, portanto, um convite à escuta ativa. A voz do Pai é clara: “Escutai-O!”. Ouvir Jesus é o que define o verdadeiro discípulo. Não basta emocionar-se, é preciso obedecer com esperança, como recorda o teólogo Bruno Maggioni. A fé cristã exige coragem para transformar a escuta em ação.
A nuvem que cobre os discípulos é símbolo da presença divina, como no Antigo Testamento. Em Êxodo (40,34), a nuvem encheu o tabernáculo. Agora, ela desce sobre Jesus, revelando que Ele é o novo lugar da presença de Deus entre os homens.
Esse momento também ecoa a promessa de Deuteronômio: “O Senhor suscitará um profeta... é a ele que ouvireis” (Dt 18,15). Jesus é esse Profeta esperado, e a Palavra definitiva do Pai (cf. Jo 1,14).
A espiritualidade do Bom Jesus, muito difundida no Brasil, especialmente em Santuários como o de Tremembé no estado de São Paulo ou da Lapa na Bahia, se conecta diretamente com a Transfiguração. O título “Bom Jesus” remete ao Cristo vivo, sofredor e glorificado. A Transfiguração antecipa o Cristo Ressuscitado, mas que passa pela Cruz.
Na imagem do Bom Jesus, vemos Cristo coroado de espinhos, ensanguentado, mas sempre com um olhar compassivo. É o mesmo Deus Homem que se transfigurou no Monte Tabor. Isso mostra que o esplendor de Deus não nos poupa do sofrimento, mas nos ilumina para atravessá-lo com esperança.
Senhor Bom Jesus em destaque
A Transfiguração é uma experiência de luz, mas que nos prepara para o caminho da Cruz. Por isso, essa festa nos convida a buscar tempo para a oração, a escuta e a intimidade com Deus, sem perder de vista que a missão se vive no dia a dia.
Assim como os discípulos, somos chamados a ver a glória de Jesus, escutá-lo com o coração atento e, fortalecidos por Ele, continuar nosso caminho rumo à plenitude da vida.
:: Transfiguração do Senhor sobre o Monte Tabor com Santa Sofia
Fonte: Vatican News
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