História da Igreja

A Basílica de São João de Latrão e o Bispo de Roma

Pe Jose Inacio de Medeiros

Escrito por Pe. José Inácio de Medeiros, C.Ss.R.

04 JUL 2025 - 11H12 (Atualizada em 04 JUL 2025 - 15H28)

Reprodução/Wikipedia

Com mais de um mês de pontificado, o Papa Leão XIV desenvolve as primeiras atividades oficiais de seu Pontificado.

Aos poucos, a cidade de Roma e o mundo, mesmo sentindo grande “saudade” do Papa Francisco, pois muitas pessoas continuam a passar e rezar diante do seu túmulo na Basílica de Santa Maria Maior, vão se acostumando com o seu jeito de conduzir o rebanho de Cristo a ele confiado.

As pessoas vão se habituando ao seu jeito educado, um tanto tímido e reservado, mas vão percebendo a tônica de seu pontificado e os temas que lhe são caros, entre eles a preocupação com a paz do mundo e com o fim de tantos conflitos.

Entre os muitos compromissos oficiais, no dia 25 de maio, o Papa Leão celebrou na Basílica de São João de Latrão - que, na verdade, é a sua “catedral” - assumindo oficialmente o título de “Bispo de Roma”, razão pela qual ele é o Papa de todo o “Orbe cristão”.

Entre as igrejas do mundo, a Basílica de São João de Latrão, com o nome de Santíssimo Salvador, dedicada a São João Batista e ao Evangelista São João, tem um significado e um simbolismo muito especiais.

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Expressão da autoridade pontifícia

A palavra latrão é o termo usado para designar o bairro Monti, onde está localizado o complexo arquitetônico formado pela Basílica, pelo Palácio Apostólico, pelo Batistério e por outros edifícios e ambientes.

A palavra deriva do nome da antiga família romana Plautii Lateranus, que possuía terras no local. Hoje, o conjunto fica bem próximo das ruínas da Muralha de Aureliano, que defendia dos ataques a antiga cidade de Roma.

Durante muitos séculos, o Palácio de Latrão foi a residência oficial dos Papas, muito antes do Vaticano se tornar o centro da vida pontifícia e eclesial. Esse mesmo palácio, hoje chamado de “Apostólico”, é a Sede do Vigário de Roma, que acompanha e coordena a vida da Igreja Romana em lugar do Papa, permitindo que ele cuide dos assuntos mais abrangentes da Igreja em todo o mundo.

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A Diocese de Roma possui hoje 337 paróquias. Delas, 336 estão localizadas na própria cidade de Roma e uma, na Paróquia de Santa Ana, na Cidade do Vaticano. A Diocese abrange um território de 881 quilômetros quadrados.

Localizado ao lado da Basílica de São João de Latrão - a catedral de Roma é a "mãe de todas as igrejas" - o Palacio de Latrão foi o coração da administração da Igreja desde o século IV, tempo do imperador Constantino, até mais ou menos o tempo em que a sede da Igreja se deslocou para Avignon, na França, no século XIV.

Reprodução/Vatican Media Reprodução/Vatican Media Basílica de São João de Latrão é um dos ícones históricos do Vaticano


O tempo em que o papado se distanciou de Roma marcou o período que entrou para a história como “Cisma da igreja Ocidental”. Ao retornar definitivamente para Roma, os Papas estabeleceram sua residência no Vaticano, a não ser por breves períodos em que forçadamente tiveram que se ausentar. Foi, por exemplo, o caso do Papa Pio VI, que foi levado para o exílio por causa das invasões de Napoleão Bonaparte, e lá morreu.

Depois que Roma foi ocupada pelos franceses após o assassinato do general L. Duphot e a proclamação da República Romana (1798), o Papa Pio VI foi deposto como soberano temporal.

Naquele tempo, o Papa era o supremo governante dos Estados Pontifícios. Ele foi levado primeiro para Sena, depois para a Certosa de Florença e em 1799 para Valence, onde foi declarado prisioneiro de estado e morreria nessa condição em 29 de agosto de 1799.

Local de acontecimentos e de bênçãos

A residência dos Papas em Latrão incluía, além da Basílica e do Palácio, diversos espaços cerimoniais, capelas e a famosa “Loggia delle Benedizioni" - a "loggia das bênçãos".

Muitas pessoas erroneamente chamam esse local de “balcão”, que voltou a ser usada depois de bastante tempo pelo Papa Leão para abençoar o povo reunido na praça da basílica.

Esta varanda dava para a praça de Latrão e era o local de onde o papa abençoava os fiéis nas principais festas, especialmente após sua eleição. Era uma versão original do que mais tarde se tornaria a “bênção urbi et orbi”, que agora é dada da varanda central da Basílica de São Pedro, no Vaticano, onde o Papa recém-eleito foi apresentado para a multidão.

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A loggia de Latrão era um símbolo da autoridade pontifícia e também um espaço ou uma plataforma litúrgica onde, do alto, os Papas recém-eleitos eram apresentados ao povo romano com o tradicional "Habemus Papam", séculos antes do Vaticano se tornar o local desse ritual.

Quando os Papas retornaram a Roma, após o exílio em Avignon, acabaram se estabelecendo definitivamente no Vaticano, que era mais defensável e mais próximo do túmulo de São Pedro.

Em algumas ocasiões, como aconteceu com o Papa Clemente VII, o Papa precisou fugir do Vaticano e se refugiar no Castelo Sant’Angelo, escapando das tropas do Imperador Carlos V que invadiram e saquearam a cidade. Com isso, durante vários meses, teve que morar no fortificado castelo que recebeu o embelezamento e as melhorias necessárias que hoje podem ser visitadas.

Ressaltando a importância de Latrão, ali aconteceram diversos concílios ecumênicos da Igreja (1123, 1139, 1179, 1215, 1512-1517) que tomaram decisões importantes para a instituição.

Além destes, houve outras assembleias em Latrão, mas que não entraram na relação dos concílios ecumênicos, como o de 769, que foi um sínodo para lidar com a eleição de antipapas e a condenação de decisões de um concílio anterior. E também o de 649, que condenou a heresia do monotelismo, uma cristologia defendida por alguns cristãos orientais.

Reprodução/Vatican Media Reprodução/Vatican Media Interior da Basílica de São João de Latrão


Em Latrão tivemos acontecimentos de extrema significância para a Igreja. Foi ali que, por exemplo, o Papa Inocêncio III recebeu São Francisco de Assis e seus companheiros. Por isso, em Latrão, diante da basílica, há um monumento que marca o local onde São Francisco e seus irmãos foram recebidos pelo Papa para a aprovação das suas constituições, em 1209.

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Latrão dá nome também ao Concordato que foi assinado pela Igreja e pelo Estado Italiano em 1929, renovado depois em 1988, já no pontificado de João Paulo II, regulando suas relações. Mas a lista de fatos e eventos registrados em Latrão vai muito além dessas poucas sinalizações.

Apesar da perda de visibilidade, Latrão continua sendo a catedral do papa, e a loggia que foi restaurada nos tempos modernos, permanece como um sinal visível das antigas raízes da Igreja em Roma.

A criação da Congregação Redentorista por Santo Afonso e seus companheiros se deu no dia 9 de novembro, justamente no dia em que se celebra a dedicação da igreja dedicada ao Santíssimo Salvador. Por esta razão, nossa congregação foi chamada originalmente de “Santíssimo Salvador”, mudando depois com a sua aprovação para Santíssimo Redentor.

Hoje, poucos peregrinos percebem que a primeira varanda papal não estava no Vaticano, mas em Latrão, o coração histórico da Roma dos Papas, dos santos e dos pecadores.

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Escrito por:
Pe Jose Inacio de Medeiros
Pe. José Inácio de Medeiros, C.Ss.R.

Missionário redentorista que atua no Instituto Histórico Redentorista, em Roma. Graduado em História da Igreja pela Universidade Gregoriana de Roma. Atuou na área de comunicação, sendo responsável pela comunicação institucional e missionária da antiga Província Redentorista de São Paulo, tendo sido também diretor da Rádio Aparecida.

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