Recentemente, circulou na internet um vídeo curto que mostrava um sacerdote levando o Santíssimo Sacramento pelas ruas de uma cidade. Os detalhes do vídeo mostram que se tratava da Santa Comunhão, seguramente levada a uma pessoa enferma ou moribunda.
Na cena, o Padre é acompanhado por um acólito que protege o Santíssimo Sacramento com o pálio (objeto no formato de uma “sombrinha” arredondada). O interessante é que a passagem do Cristo Eucarístico era assinalada pelo toque de uma sineta, o que chamava a atenção das pessoas que imediatamente tiravam os seus chapéus e se ajoelhavam em sinal de respeito e adoração.
Nos tempos antigos, quando o Viático era administrado a um católico em perigo de morte, tendo a eucaristia como alimento espiritual para sua última jornada em busca da vida eterna, isso se fazia de uma forma pública, e não privada como acontece hoje em dia quando os ministros da eucaristia de uma comunidade assistem ordinariamente os doentes em suas casas, ou com os padres que visitam e ministram os últimos sacramentos aos moribundos.
A palavra, derivada do latim "viaticum", significa "provisão para o caminho", simbolizando o sustento espiritual para a passagem desta para a vida eterna.
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No Brasil, nos acostumamos também a ver as ruas de muitas cidades forradas com tapetes coloridos, feitos dos mais diferentes materiais, sobretudo na festa de Corpus Christi.
Em certos lugares, na impossibilidade de se enfeitar as ruas, os corredores da igreja são enfeitados para a passagem da Procissão Eucarística.
Mas esta não é a única ocasião em que isso acontece com a utilização de tapetes em diversos formatos ou materiais, todos conduzindo, porém, a um mesmo significado mais profundo.
Qual o sentido dos tapetes coloridos e em quais cerimônias a Igreja pode ou deve utilizá-los?
Tradição dos tapetes nas procissões de Corpus Christi
Na Roma antiga, as legiões não podiam entrar na cidade, ficando aquarteladas fora de sua área central. As legiões somente podiam entrar na cidade em ocasiões de perigo ou acompanhando um general que voltava vitorioso de uma campanha militar.
Nessa ocasião festiva, as ruas por onde o cortejo deveria passar eram enfeitadas com flores e tapetes colocados no caminho do militar vitorioso e as pessoas jogavam pétalas de flores sobre ele.
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Em países governados por monarquias, como a Inglaterra, por exemplo, poderia acontecer também que nas ocasiões festivas, como de sua coroação, o caminho por onde o rei ou rainha fosse passar era também enfeitado com flores, bandeiras e galardões.
No tempo da realeza francesa, salões da corte imperial, corredores e o chão dos salões do Palácio de Versalhes eram revestidos de tapetes e tapeçarias de alto valor.
Com o crescimento do cristianismo e com a predominância da religião na vida das pessoas e da sociedade, esse mesmo costume foi adotado pela Igreja invertendo o seu significado, passando a dedicar a Jesus Cristo - rei dos reis e senhor dos senhores - a suprema reverência.
A impossibilidade de se usar tapetes ou tapeçarias nas ruas como homenagem a Jesus, levou as pessoas a se utilizarem de outros materiais. Entre nós, o costume de usar tapetes coloridos em cerimônias religiosas, especialmente na festa de Corpus Christi, tem origem na tradição portuguesa, trazida ao Brasil durante a colonização.
Tradicionalmente os tapetes são feitos com materiais como serragem, areia, flores, sal grosso, cascas de ovos, pó de café e outros elementos que conferem cor e textura.
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Nos últimos anos, algumas paróquias vêm substituindo estes materiais, que são depois descartados, por roupas e alimentos que após a procissão são doados aos necessitados na forma de cestas básicas ou vestuário.
Confecção de tapetes no Corpus Christi
Na cidade de Ibitinga, interior de São Paulo, conhecida como “a capital do bordado” o chão é coberto pelas obras produzidas pelas famílias e empresas da cidade. O ato de fraternidade contribui também para produzir menos resíduos, o que ajuda na preservação do meio ambiente e no crescimento da consciência ecológica.
O comprimento dessas procissões varia de acordo com cada cidade ou paróquia, indo desde poucas centenas de metros até alguns quilômetros. Os tapetes, em geral, decoram o caminho por onde será transladado o Santíssimo Sacramento e as pessoas somente podem neles pisar depois de sua passagem.
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Em muitas localidades é também usual a decoração de portas, janelas e sacadas das casas por onde o cortejo passará com elementos de motivação religiosa.
A confecção dos tapetes mobiliza muita gente, une a comunidade, agrega valores de sociabilidade e união, se transformando ainda num importante valor folclórico e cultural. Em alguns casos as procissões de Corpus Christi atraem multidões, sendo declaradas como patrimônio imaterial da cidade ou do estado.
Na Igreja Católica a prática da confecção de tapetes coloridos e dos enfeites das casas foi se transformando ao longo dos tempos. Mas sempre com o sentido de simbolizar a recepção a Jesus, suprema majestade, remetendo ao momento celebrado no Domingo de Ramos em que o povo cobriu as ruas com ramos e mantos para a passagem do Messias.
Além da procissão de Corpus Christi, os tapetes coloridos em diferentes formatos também são usados no Domingo de Ramos, celebrando a entrada triunfal de Jesus em Jerusalém. Podem ser vistos também em procissões de Páscoa, como na cidade de Caculé, na Bahia, ou nas festas dos padroeiros.
Em Roma, existem muitos “artistas de rua” que apresentam seus trabalhos aos turistas pintando calçadas ou muros, fazendo a reprodução de verdadeiras obras de arte que depois são apagadas.
Eles aproveitam momentos litúrgicos importantes, como a Festa dos apóstolos Pedro e Paulo, para apresentar seu trabalho pintando as ruas próximas da Basílica de São Pedro, no Vaticano.
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Assim como acontecia na Idade Média em que a passagem de procissões religiosas, incluindo aquelas que acompanhavam Jesus Eucarístico, eram sempre um evento de grande importância e impacto social, com essas pessoas se envolvendo e demonstrando sua fé até mesmo com comportamentos mais “extravagantes”.
Ainda hoje as procissões e seu colorido têm um grande significado na vida das pessoas e das comunidades eclesiais, mesmo em países já marcados por um maior secularismo.
Assim como antes, quando as pessoas participavam ativamente das procissões, acompanhando a imagem de Jesus, do santo(a) padroeiro(a) ou de outros sinais religiosos, cantando hinos, rezando e demonstrando devoção, hoje também essas mesmas atitudes podem ser vistas em diferentes ocasiões festivas da Igreja.
Por exemplo, no dia de Corpus Christi de 2025, em que o Papa Leão XIV conduziu com toda solenidade o Santíssimo Sacramento cruzando toda a extensão da Via Merulana, importante via que liga as basílicas de São João de Latrão e Santa Maria maior, passando diante da Casa Geral dos Missionários Redentoristas.
Os comportamentos mudam, as atitudes variam, mas o significado mais profundo é aquilo que permanece.
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