Durante quase um ano, começando em maio de 2020 e finalizando em março de 2021, o Papa Francisco produziu 27 temas para a sua catequese semanal, tendo como referência a “oração”. Nessa riqueza de conteúdo emitida por Francisco, percebemos sentidos diversos da oração, tanto buscando fundamentos no mestre Jesus, como em Maria; acompanhamos a oração da Igreja no seu início, uma caminhada nas referências e personagens bíblicas e, como não poderia deixar de ser, a oração inserida na realidade da vida atual, tendo a pandemia como foco neste tempo que ainda experienciamos.

A oração nasce no segredo de nós mesmos, no interior do “coração”

Na busca de sentido profundo e motivação que nos leva à necessidade da oração, Francisco ‘nos aponta o coração’ e leva-nos a buscar um equilíbrio na relação com o sagrado, dosando emoção e razão. Diz ele:

“As emoções rezam, mas não se pode dizer que a oração é unicamente emoção. A inteligência reza, mas rezar não é apenas um ato intelectual. O corpo reza, mas pode-se falar com Deus até na invalidez mais grave. No entanto, a pessoa toda ora se o seu ‘coração’ reza”.

Leia MaisQual o remédio para curar o coração de uma pessoa infeliz?Papa Francisco: a alegria que nos contagia!E o resultado de sua oração é uma “relação com o Deus de rosto profundamente terno, que não quer incutir medo algum aos homens”. A oração nascida do coração quebra a frieza e timidez na relação com Deus e, sem perder o respeito, ousa a “chamá-lo de modo confidente com o nome de ‘Pai’”.

O mestre Jesus e as características da oração cristã

Durante toda a sua vida pública, Jesus se relaciona com o Pai num clima de oração profunda. O Papa Francisco lembra que “mesmo em momentos de maior dedicação aos pobres e aos doentes, Jesus não negligenciava o seu diálogo íntimo com o Pai. Quanto mais estava imerso nas necessidades do povo, tanto mais sentia a necessidade de voltar para o Pai e para o Espírito”. Fora do seu trabalho pastoral e nas horas solitárias, “na madrugada ou durante a noite, Jesus mergulha na intimidade com o Pai”.

A partir do exemplo de Jesus, podemos obter algumas caraterísticas da oração cristã. Começa pelo desejo de estar com Ele ao começar mais um dia, “algo que se pratica ao amanhecer, antes que o mundo desperte”. Segunda, a oração deve ser “uma arte a praticar com insistência” e com “disciplina”, para que seja assumida como “uma regra de vida”.

A “solidão” é outra característica da oração apresentada por Jesus. E diz Francisco:

“No silêncio podem surgir muitas vozes que escondemos no íntimo, os desejos mais afastados, as verdades que sufocamos”. E, por fim, “a oração de Jesus é o lugar onde percebemos que tudo vem de Deus e para Ele volta. Muitas vezes, acreditamos ser senhores de tudo”.

A oração ajuda-nos a encontrar a correta dimensão na relação com Deus, nosso Pai, e com toda a criação.

Maria, mulher de oração antes mesmo do mundo conhecê-la

Ao destacar a vida de oração de Maria, mesmo antes do mundo conhece-la, o Papa afirma que a Virgem era dócil e disponível, características que a fizeram receptivas à sua relação com Deus.

Diz Francisco:

“Nossa Senhora rezava. Quando o mundo ainda não a conhecia, quando era uma simples donzela, noiva de um homem da casa de David, Maria rezava. E é nessa dimensão orante que lembramos Nazaré e projetamos Nossa Senhora recolhida em silêncio, em diálogo contínuo com Deus, que em breve lhe teria confiado a sua missão”.

E destaca Francisco afirmando que “Maria pertence ao grande exército dos humildes de coração, que os historiadores oficiais não incluem nos seus livros, mas com quem Deus preparou a vinda do seu Filho”.