O caminho sinodal, proposto pela Igreja como espaço de escuta e participação, está cada vez mais fortalecido graças ao entendimento dos cristãos de que ele se faz necessário para viver em comunhão. Mas esse caminho enfrenta obstáculos, como o clericalismo, que já mencionamos em outro conteúdo, e também a polarização, que falaremos nesse texto.
Quem nos ajuda a refletir sobre o assunto é o professor de Teologia da Pontifícia Universidade Católica do Paraná (PUCPR), Cesar Kuzma.
Em entrevista, perguntamos a ele quais são os exemplos mais evidentes de polarização ou divisão que se manifestam dentro da Igreja, e de que modo essas divisões afetam a comunhão e a missão eclesial.
O professor destacou que os ambientes eclesiais são como a vida em sociedade, ambos debatem os mesmos assuntos, vivem as mesmas dificuldades, divisões, entre outros problemas diários. Isso porque as mesmas pessoas que vivem na sociedade, são as mesmas que congregam nossas paróquias, então “se o ambiente social está radicalizado, este fenômeno ocorre também em espaços eclesiais e pastorais”.
Ele ainda completou sua resposta, dizendo que, em seu entendimento, “não vivemos uma polarização, mas uma radicalização”. E explicou:
“Em nível de sociedade, temos aqueles e aquelas que se colocam dentro dos espaços democráticos e aqueles e aquelas se colocam fora. Isso não é polarização, porque como sociedade só temos o caminho democrático, que é aquele que garante liberdades, direitos e busca o bem comum. Em nível eclesial, existem aqueles e aquelas que se colocam em comunhão com a Igreja e aqueles que rompem esta comunhão. O fenômeno é o mesmo, porque a comunhão é necessária e é ela que nos garante enquanto Igreja. O viver de forma democrática (em sociedade) e o viver em comunhão (na Igreja) não nos isenta de conflitos e opiniões divergentes”.
Kuzma destacou que esses conflitos são necessários para o entendimento, a maturidade e o crescimento de todos como sociedade e irmãos em Cristo, mas o verdadeiro obstáculo está em ter discernimento para dialogar e respeitar todos, sem discurso de ódio, violência ou exclusão.
“Em ambiente eclesial/pastoral, esta radicalização se dá com mais força por aqueles que não aceitam as mudanças que ocorrem na Igreja e se fecham a estruturas de diálogo e de pensamento sinodal”.
Ele ainda citou a força das mídias digitais como um fator que impulsiona de forma positiva e negativa os assuntos eclesiais.
“Podemos dizer que com o advento das mídias digitais e o surgimento de novos atores no campo da difusão das ideias, tudo ficou mais evidente e o impacto da comunicação eclesial se fez mais presente em nossos espaços. Os temas de Igreja passaram a fazer parte de um contexto mais amplo e rapidamente se misturam com outros temas, também relevantes e necessários, como a política e urgências sociais. Mas o grande ponto que podemos destacar neste âmbito e que vem trazendo divisão, é a superficialidade com que os temas são tratados”.
O professor explicou que a superficialidade na hora de produzir e transmitir conteúdos deixa o caminho aberto para “com que erros sejam transmitidos como verdades, a sadia reflexão e a crítica abrem espaço para o rigorismo moral e doutrinal, e isso favorece esta divisão.” E isso influencia muito em como a mensagem é recebida, pois nem todos têm formação adequada para compreender tais assuntos, e nem todos têm discernimento para rebater aquilo que foi dito.
Falamos sobre as divisões que são inevitáveis tanto em sociedade quanto na Igreja, mas é preciso compreender que existem formas de minimizar e até mesmo acabar com essas divisões, e o caminho sinodal é uma delas.
“O caminho sinodal ajuda a superar isso, primeiramente porque ele não é algo que surge da vontade de um ou de outro, mas como um impulso do Espírito. Ele é o agente da missão e o princípio da sinodalidade. Ele é quem traz a unidade, e se não há unidade, não há Espírito, e se não há Espírito, não há Igreja. Depois, seguindo pelo impulso do Espírito, o caminho sinodal nos obriga a uma atitude quenótica, para nos colocarmos no lugar do outro, na posição do outro, nos convida a escutar e a estarmos próximos. Cada realidade é única e ela precisa ser escutada. O caminho sinodal e a própria vivência da sinodalidade não tiram a Igreja de conflitos. Eles existem porque são humanos. A diferença está na maneira e com que maturidade nós nos colocaremos diante dos conflitos e que passos daremos em direção para aquelas pessoas que pensam diferente de nós.”
O professor destacou três características de Igreja Sinodal, que o Papa Francisco tanto enfatizava e que ele acredita que sejam necessárias para ajudar nesse processo de superar essas tensões e divisões já existentes.
“Primeiro, ele dizia que uma Igreja sinodal é uma Igreja da escuta. Escutar requer abertura, requer disposição, requer amor e doação ao outro, para que ele seja sujeito desta ação.
Em segundo lugar, ele falava de uma Igreja da proximidade, isto é, uma Igreja que se faz samaritana e que se importa com todos aqueles e aquelas que encontra pelo caminho. Estar próximo é uma atitude autenticamente cristã, ela é importante e necessária.
Por fim, ele falava que a Igreja sinodal precisa ter a coragem de rever e transformar as estruturas, para elas sejam sinodais e sejam abertas a tudo e a todos.”
E completou:
“Não são caminhos fáceis, mas eles são necessários. Isso implica repensarmos as nossas próprias vocações, ministérios, nossos espaços, o pensar a dimensão formativa e a caminhada espiritual da Igreja, bem como nos pede o Documento Final do Sínodo.”
Kuzma explicou que os conflitos e confrontos fazem parte da natureza humana e das construções sociais, e que surgem por diversos motivos, mas o problema está quando eles acontecem com agressividade.
“O problema se dá quando eles decorrem de uma agressividade que visa antes de tudo impor uma ideia ou uma visão e que não está aberto ao espaço do outro. Se há disposição de construir junto, o conflito de ideias, de visões teológicas e de Igreja, também visões de mundo e de posição política não são problemas, mas parte de um caminho de discernimento e de construção coletiva, em vista de um consensus da fé. Quando não há esta abertura, parte-se para a radicalidade, para a anulação do outro, e isso nada tem a ver com espaço de fé, nem mesmo de uma relação humana e fraterna.”
Ele ainda destacou passos importantes para não mergulhar nesses conflitos agressivos e que não apresentam benefícios para a sociedade, nem para a Igreja.
“A primeira coisa a se fazer é não prolongar o conflito. Depois, entender o espaço do outro. Por que tal pessoa é agressiva? O que viveu em nível pessoal e de fé? Se falamos em caminho sinodal, este caminho é de acolhida, escuta e acompanhamento. Curar feridas, curar vidas, faz parte deste caminho. Talvez nossas estruturas atuais não tenham esta característica, o que indica que precisamos transformá-las.”
Ao final da entrevista, o professor trouxe uma reflexão sobre o caminho sinodal no qual estamos buscando vivenciar todos os dias como a Igreja de Cristo e destacou que esse caminho precisa ser construído por todos.
“Estamos vivendo algo novo na Igreja e este momento é um tempo de graça, um tempo do Espírito. O processo sinodal, para o qual nos provocou o papa Francisco, propõe uma Igreja que esteja atenta aos apelos do nosso tempo, para que ninguém fique de fora e para que possamos construir uma casa que seja comum. O caminho sinodal não é algo que vem pronto, ele necessita ser construído, e por todos e todas.
As nossas estruturas ainda não são sinodais, então, elas precisam ser transformadas, e isso requer um esforço e empenho de todos. Não há fórmula pronta, mas sim esperança para percorrer o caminho. Que possamos viver esta abertura, esta novidade e que este legado de Francisco e que agora continua com o Papa Leão XIV, também encontre em nós um impulso, uma abertura, um sentimento de serviço. A Igreja somos nós, e com o caminho sinodal isso ficou bem claro. Sinodalidade é espaço de esperança.”
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