Ao longo dos séculos XVIII e XIX, vários governos da Europa tentaram eliminar ou ao menos controlar a Igreja, vendo nela um obstáculo à centralização do poder.
Associado a grupos liberais ou à maçonaria, tentavam dominá-la se batendo, sobretudo, contra as ordens religiosas por causa de sua proximidade das pessoas.
Quando o controle se tornava impossível, tomavam uma decisão mais radical com a expulsão de seus membros.
Isso se passou em vários países no tempo da expansão francesa com Napoleão Bonaparte, no período do chamado “Despotismo Esclarecido” e do liberalismo, sendo o que aconteceu no Reino de Nápoles quando o rei produziu um artifício chamado “Regolamento” para fiscalizar a vida da Congregação, na tentativa de “domesticar” os seus membros.
O “Regolamento” régio de 1779, se torna crucial para se compreender a história da Congregação Redentorista em seus primeiros tempos, porque levou à sua primeira divisão, permanecendo em vigor na Sicília e em Nápoles até 1790, vendo o seu impacto na vida e na missão da congregação.
O Regolamento já começou errando, definindo a Congregação como “uma associação de sacerdotes seculares que vivem nas quatro casas existentes no Reino de Nápoles, dedicadas à pregação de Missões em aldeias rurais e para pessoas abandonadas”. A nova legislação se baseia em dois Decretos Reais de 1752 e 1779 que constituíam a base do Regolamento, devendo ser escrupulosamente observados, sob pena de exclusão.
Os membros da Congregação deveriam dedicar-se principalmente à obra das Sagradas Missões, sem aceitar outras ocupações como a direção de seminários ou o encargo de confessores ordinários de monjas. As Missões requeriam a autorização dos bispos locais, não sendo permitido aceitar dinheiro, apenas alojamento, madeira (para as lareiras e fogões) e óleo.
Os missionários deveriam viajar a cavalo e distribuir as sobras de comida aos pobres. Deviam insistir nos deveres das pessoas para com Deus, para com o soberano e o próximo, retornando para uma “renovação espiritual” depois de quatro ou cinco meses da pregação. Nas casas religiosas, alguns membros podiam se dedicar a ouvir confissões, pregar aos domingos e fazer um sermão semanal em honra da Virgem Maria, oferecendo Exercícios Espirituais.
A formação incluiria encontros semanais sobre a prática das Missões e conferências sobre Teologia. Os jovens não podiam trabalhar nas missões até completar trinta anos. A vida dos religiosos deveria ser exemplar, baseada na prática das virtudes cristãs e no exemplo do Cristo Redentor, incluindo confissões semanais ou quinzenais e comunhão regular.
Deveria haver oração diária, oração mental, leitura espiritual, oração do rosário e exame de consciência duas vezes ao dia. O recolhimento interior e o silêncio rigoroso deveriam ser cumpridos religiosamente. Haveria também recreação comunitária, passeios e todos os anos haveria dez dias de exercícios espirituais privados e um dia de retiro por mês.
As virtudes fundamentais a serem vivenciadas são a humildade e o serviço, sem competição pela precedência. Os padres deveriam realizar tarefas domésticas e nenhum religioso deveria aspirar à dignidade ou a cargos externos, sendo proibido o uso de perfumes, roupas de seda, objetos pessoais de ouro ou prata, jogos ou praticar a caça.
Haveria também a prática de Jejuns e penitências corporais e as condições de vida deveriam ser bastante precárias: colchão de palha, roupas simples e quartos pequenos com os poucos móveis essenciais.
As despesas deveriam ser suportadas pela própria casa, incluindo manutenção, obras de construção e funerais. Cada membro deveria contribuir para a caixa comum, entregando as esmolas, anuidades e rendas recebidas e com elas seria mantida a propriedade, podendo contar apenas com o usufruto de seus bens pessoais.
A conduta moral de cada padre deveria ser exemplar, os religiosos não poderiam se intrometer em assuntos públicos ou familiares, cultivando a castidade e usando de muita cautela nos relacionamentos e em relação às cartas.
A obediência se daria em relação aos bispos locais para obter a jurisdição e aos superiores internos para os assuntos próprios da Congregação.
As virtudes da castidade e da obediência são essenciais e deviam ser objeto de um juramento. Os membros do Instituto seriam livres para deixar a Congregação e os superiores poderiam remover os desobedientes ou incorrigíveis.
.:: O que são os votos de pobreza, castidade e obediência? ::.
A Congregação seria sempre dirigida por um Reitor-Mor vitalício, eleito com dois terços dos votos entre os membros com requisitos precisos, governando a vida interna, nomeando os superiores locais e os formadores dos jovens, acolhendo ou demitindo os membros e corrigindo os transgressores.
Deveria contar com seis assistentes e um procurador, mas um assistente supervisionaria a conduta do Reitor-Mor, podendo informar os demais em caso de graves perturbações. Cada casa teria um superior local nomeado pelo Reitor-Mor, com um coadjutor e dois membros consultores. O Superior local deveria assegurar a disciplina, administrar as contribuições e supervisionar as despesas, consultando os demais assistentes para as quantias maiores.
A admissão dos jovens era também rigorosa: o Reitor-Mor examinava a vocação, o talento e a conduta. Após a aceitação, haveria um período probatório em que a pessoa ainda usaria trajes civis, seguido de um ano de noviciado. Depois seguiria o estudo e a formação sob a direção do Prefeito dos Estudantes até a ordenação.
O Regolamento, embora não implicasse em pecado no caso de transgressão, deveria ser escrupulosamente observado. Após sua imposição, Santo Afonso escreveu uma circular dirigida a todos os confrades das casas napolitanas pedindo que o Regolamento fosse aceito por todos.
Numa análise superficial e numa leitura menos atenta às determinações do Regolamento, uma pessoa pode acreditar que ele apenas traduziu aquilo que já era comum à regra do nosso Instituto e à vivência cotidiana de seus membros, quase 50 anos após a fundação da Congregação.
O Regolamento, trazia, porém, em seu bojo, uma descaracterização da Congregação que foi definida como Associação de Sacerdotes Seculares e a colocava totalmente submissa e dependente não apenas do soberano, mas também à ingerência de autoridades locais. Além do mais, substituía os votos religiosos por uma forma de juramento não canônico.
Criou-se, por outro lado, um clima de desconfiança gerador de um grande descontentamento entre os membros do instituto, e diversos chegaram a deixar a congregação. O descontentamento aumentou a partir do momento em que o Regolamento não foi aceito pela Santa Sé e os confrades das casas existentes nos Estados Pontifícios desobrigados de seu cumprimento.
A Santa Sé também entendeu o Regolamento como uma forma de intervenção real na vida da Igreja e da congregação, expressão do cesaropapismo reinante na época, com a diminuição da autoridade do Sumo-Pontífice. Por causa do Regolamento, a Congregação se dividiu e a união somente aconteceria em 1793.
Em 1783 a Santa Sé nomeou o Pe. Francesco de Paola como Superior Geral da Congregação para os Estados Pontifícios e a separação se concretizou, com a reunificação acontecendo apenas 13 anos depois.
Fonte: Instituto Histórico Redentorista
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