Palavra Redentorista

Ação solidária de junioristas assiste moradores de rua em São Paulo

Padre José de Lima Torres, C.S.s.R

Escrito por Pe. José de Lima Torres, C.Ss.R

02 JUN 2021 - 08H41 (Atualizada em 02 JUN 2021 - 09H21)

Arquivo pessoal

“Que maneiro, mano, vocês saíram do quentinho de suas casas para vir ver nós aqui na rua... obrigado mesmo”. Foi o que disse um jovem em situação de rua numa noite fria de quinta-feira, debaixo de um viaduto nos arredores do Parque Dom Pedro, em São Paulo.

Um pouco “animado” por algum entorpecente, ele cumprimentava a todos e esbanjava simpatia; era sua forma de agradecer ao grupo de voluntários da ação solidária. Em um dado momento, sem saber a nossa identidade religiosa, pediu que orássemos por ele impondo-lhe as mãos.

A ação solidária ocorre graças ao empenho dos fiéis da Área Pastoral Redentorista São Paulo Apóstolo, e aquele jovem, como tantos outros, tiveram amenizados o frio e a fome naquela noite. 

O relato acima faz parte das muitas experiências de uma iniciativa da Comunidade do Juniorato Redentorista em São Paulo.


No início da Quaresma deste ano, sentindo-se provocada pela Palavra que convida à oração, à esmola e ao jejum, a Comunidade do Alfonsianum I - São José - tomou uma decisão: no dia 04 de março iniciou um importante movimento de “saída” com o objetivo de levar uma refeição aos irmãos que vivem em situação de rua e conhecer sua realidade.

Num segundo momento, nasceu a ideia de ampliar a Ação incluindo a Área Pastoral de Heliópolis. Mas, como pedir doações em tempos de pandemia a um povo que vive na maior favela de São Paulo? No entanto, ousamos e constatamos ser verdadeiro o que escreveu o músico padre José Raimundo numa de suas canções: “não se deve dizer nada posso ofertar, pois as mãos mais pobres é que mais se abrem para tudo dar”. Pois nos surpreendemos ao convocar os fiéis para esse desafio: cada família ofereceu o seu “pouco” e tudo se transformou no milagre da partilha.

Em média são feitas 115 refeições semanais pela ação. É pouco para o tamanho do problema da fome em São Paulo, mas tem um significado muito eloquente para a nossa vida, é o testemunho de que no meio dos pobres a ação de Deus é abundante!

Nessa empreitada da solidariedade outras pessoas se juntaram a nós. Há até quem já viveu em situação de rua e superou suas limitações e hoje se sente feliz em poder ajudar. Recentemente, religiosos Oblatos de Maria Imaculada estiveram participando conosco nessa parceria.

A ação pastoral tem o objetivo de estimular nos fiéis a sensibilidade para o sofrimento dos irmãos feridos pela sociedade e também atingidos pela pandemia. Os benefícios desta ação atingem tanto os que fazem suas doações quanto os que preparam os alimentos e os que vão para as abordagens nas ruas. Todos se sentem “alimentados” pelo fato de levarem um pouco de paz ao sofrimento humano.

Como disse o confrade alemão padre Winfried Pauly (conferir vídeo de preparação para o 26º Capítulo Geral): “onde eu moro e trabalho molda e determina minhas perspectivas, minha visão de vida. Onde eu escolho para viver, mostra de fato de que lado estou. É um sermão sem palavras”.

Deste testemunho de vida brotam algumas perguntas: como é possível residir em São Paulo e ser coerente com a vida cristã sem se deixar tocar pela realidade dos mais de 30 mil cidadãos sem casa, trabalho e alimento? De que lado da história nós estamos? Como enxergamos a realidade? Essas questões se conectam com as reflexões sobre nossa Missão enquanto Missionários Redentoristas: “testemunhas do Redentor, solidários para a Missão em um mundo ferido”.

Enfim, a Ação Solidária é uma experiência ímpar que nos oportuniza conhecer as feridas da humanidade e suas fragilidades. Ao mesmo tempo fazemos a experiência da fragilidade pela injustiça social promovida pelos poderes econômicos. Afonso de Ligório também conheceu as vítimas da sociedade de sua época; no Hospital dos Incuráveis, nas “Capelas Vespertinas”, ele estava em contato com os “feridos” da sociedade. Sarnelli, seu grande colaborador, exercia seu apostolado nos arredores do Porto de Nápoles para evitar que a juventude se perdesse no mundo da prostituição. Os dois santos conheceram as misérias do seu tempo.

Deus sempre faz o movimento de descida para o chão da vida (Kénosis). A encarnação do Filho foi o movimento de descida para estar com aqueles que tanto ama. É assim que Deus se encontra com a humanidade, saindo, descendo, humilhando-se, esvaziando-se, aproximando-se, amando, conhecendo-nos (Fl 2,6-11). Como missionários do Redentor, façamos também o movimento de descida, nos questionando, como dizia numa tarde o padre José Ulysses, em colóquio com os Junioristas da Província: “Onde Jesus Cristo teria gosto de estar? É lá que eu quero estar”.

Então, podemos rezar, parafraseando o jovem morador de rua: que bom Senhor, tu saíste do céu, de tua casa e vieste ficar conosco! Por isso, queremos fazer o mesmo: desceremos do nosso conforto para estar a serviço da redenção!


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