Palavra Redentorista

O Espírito Santo no pensamento de Santo Afonso

Escrito por Pe. Rimar César Diniz, C.Ss.R.

31 MAI 2020 - 06H30 (Atualizada em 20 MAI 2021 - 11H47)

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A reflexão sobre a terceira pessoa da Santíssima Trindade aparece de modo transversal no pensamento e na espiritualidade de Santo Afonso. Homem de profunda oração, ardor missionário e zelo pastoral, ele foi um ‘profeta’ fervoroso do amor de Deus, criativo e dinâmico, em tempos de legalismos e rigorismo moral.

Advogado da consciência e incansável defensor da dignidade humana, ele compreende que o amor é um dos atributos primordiais do Espírito Santo e princípio fundamental para o desenvolvimento pessoal e comunitário.

O Espírito Santo é o amor entre o Pai e o Filho; é amor gerador de vida em abundância. Nas Sagradas Escrituras, em todas as passagens referentes à vida, Ele está presente: na criação (cf. Gn 1,2b); na origem do humano (cf. Gn 2,7); na concepção de Jesus (cf. Lc 1,35); na origem da Igreja (cf. At. 2,1-11).

Em consonância com a Tradição bíblica e a doutrina da Igreja, Santo Afonso enfatiza a presença viva e atuante do Espírito Santo como o amor absoluto de Deus que reveste, de modo incondicional, todo ser humano. E sob esse fundamento trinitário está a Teologia Moral afonsiana, uma proposta para o crescimento pleno da comunidade Humana.

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De seus escritos, na obra “Meditações para todos os dias do ano”, Santo Afonso apresenta uma novena ao Espírito Santo. Nela, ele desenvolve, de forma evolutiva, a eficácia do amor de Deus na transformação pessoal e comunitária. Para isso, ele associa, pedagogicamente, o amor de Deus a alguns símbolos:

1 - o amor é fogo – o fogo tem o potencial de queimar as inutilidades e purificar o terreno para o plantio;

2 - o amor é luz – a luz dissipa as trevas e é fundamental para a geração de vida;

3 - o amor é água – a água é substância incondicional a todo ser vivente;

4 - o amor é orvalho – o orvalho exerce a função de fertilizar e germinar a semente;

5 - o amor é repouso – toda vida carece de repouso para desabrochar e florescer;

6 - o amor é virtude – a virtude é fruto da exercício constante para gerar fortaleza;

7 - o amor é morada – a morada é o lugar da segurança, condição para o desabrochar da vida;

8 - o amor é vínculo – gerar vínculos é estabelecer corresponsabilidade e fraternidade pela vida;

9 - o amor é tesouro – tesouro é símbolo da busca incansável pela plenitude.

Para Santo Afonso, uma das atividades fundamentais para o desenvolvimento humano é a oração. Por meio dela, alcançamos a consciência da presença iluminadora do Espírito Santo e crescemos na compreensão e na prática do amor. Todavia, o amor a que ele se refere é dom gratuito, aquele que se ocupa, de maneira incondicional, da singularidade da pessoa em si, e não se frustra com suas características ou limitações.

É comum pessoas dizerem: “seu eu mudar de vida Deus vai me amar”. Não! Essa ideia reforça a imagem de um Deus que se condiciona. Deus, no entanto, ama sem impor condições. A mudança de vida deve ser uma atitude interior livre, que resulte no desejo em corresponder ao amor de Deus.

Nas Sagradas Escrituras, um texto impactante é aquele que se refere a um tipo de pecado que não tem perdão. E esse pecado é ‘blasfemar’ contra o Espírito Santo (cf. Mc 3,28-30).

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Blasfemar contra o Espírito Santo é negar que Deus é capaz de amar. É se fechar a qualquer possibilidade ou novidade que a vida possa oferecer. A negação do amor de Deus encerra em si as possibilidades do perdão, porque Deus, em sua liberdade, não obriga ninguém a reconhecê-lo como amor. Pessoas feridas por uma história de dor e de decepções podem se fechar no âmago da própria dor e negar as possibilidades do amor. Citando Santa Teresa, Santo Afonso afirma: “a cruz é dura para quem a arrasta, não, porém, para quem a abraça”.

Abraçar a própria cruz é um gesto de maturidade e de correspondência ao amor de Deus. Trata-se de mergulhar na dinâmica do Santo Espírito, despindo-se das ‘máscaras’ que nos desfiguram e dos preconceitos que nos distanciam uns dos outros, para assumir nossa própria história enquanto caminho de redenção. Ademais, o amor de Deus é dom que se abre e se expressa em doação.

A redenção, conforme pensa Santo Afonso, é comunitária. Em tempo de crises, como o atual, é oportuno tomarmos consciência de nossa corresponsabilidade na defesa da vida, dos direitos individuais e da justiça, no âmbito social, político e econômico, fazendo do amor um gesto concreto de solidariedade universal.

Fr. Rimar César Diniz, C.Ss.R.
Juniorista em Tirocínio Missionário na Argentina

Oração de Santo Afonso ao Espírito Santo

Ó Santo e Divino Espírito, não quero mais viver para mim mesmo; em Vos amar e agradar quero empregar tudo o que me resta da vida. Com este fim Vos peço que me concedais o dom da oração mental. Vinde a meu coração, ensinai-me vós mesmo a praticá-la como se deve. Dai-me a força de não deixá-la por tédio no tempo da aridez; dai-me o espírito de oração, isto é, a graça de sempre orar e de fazer aquelas orações que sejam mais agradáveis ao vosso divino Coração. – Por meus pecados me havia perdido; mas por tantos sinais de vossa ternura, reconheço que quereis a minha salvação e santificação. Quero santificar-me para Vos agradar e amar mais a vossa infinita bondade. Amo-vos, ó meu soberano Bem, meu amor, meu tudo, e porque Vos amo, dou-me todo a Vós. – Ó Maria, minha esperança, protegei-me.


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