O ano era 1929 e a cidade era Aparecida. Um Congresso Mariano, há muito tempo desejado pelos Missionários Redentoristas e pelo então arcebispo de São Paulo, Dom Duarte Leopoldo e Silva, saiu do papel e reuniu muitos sacerdotes, teólogos, historiadores e bispos na cidade de Nossa Senhora.
A pequena igreja de São Benedito, projetada e construída pelo Pe. Antônio de Lisboa, C.Ss.R., sediou as conferências do primeiro grande evento de estudos mariológicos ocorridos em Aparecida. As missas eram celebradas na Basílica Velha, com grande zelo litúrgico, e atraíam centenas de devotos de Nossa Senhora. A cidade estava movimentada e todos os olhares se voltavam para a imagenzinha encontrada no Rio Paraíba.
Desse congresso, resultou a deliberação de se pedir ao papa que proclamasse oficialmente o padroado de Nossa Senhora Aparecida sobre o Brasil.
Que o povo já a tinha por Padroeira, isso é evidente, porém, os bispos viram a necessidade de legitimar esse sentimento geral através de um reconhecimento pontifício, afinal, o próprio Cristo havia afirmado acerca da autoridade do papa de que tudo o que ligasse na terra seria ligado no céu e tudo o que fosse desligado na terra, seria também desligado no céu (Mt 18, 18).
Dom Sebastião Leme, cardeal arcebispo do Rio de Janeiro, capital federal àquela altura, tomou à peito esta causa e foi amplamente apoiado pelo pároco e reitor da Basílica Velha, o redentorista alemão Pe. Antão Jorge Heichenblaikner C.Ss.R. O pedido foi encaminhado pelo Cardeal Leme e o Papa Pio XI deu seu aceite ao mesmo, assinando um solene decreto que constituía Nossa Senhora Aparecida como Padroeira principal do Brasil.
Era o dia 16 de julho de 1930, festa de Nossa Senhora do Carmo. É curioso pensar que de um evento de estudos tenha surgido esse desejo de legitimação do padroado, confirmado no dia 16 de julho de 1930 e em 16 de julho de 1985, o “Cônego Machadinho”, inspirado pelo desejo de promover estudos mariológicos a partir da Basílica de Aparecida tenha tido a inspiração de fundar a Academia Marial de Aparecida... Os caminhos da Providência Divina se entrelaçam.
Embora o papa houvesse assinado o decreto em 1930, os bispos brasileiros optaram por preparar uma solenidade digna de sua Padroeira e fixaram a proclamação oficial do decreto pontifício para o dia 31 de maio do ano seguinte, no encerramento do mês mariano, e assim se fez. Dada a magnitude do evento, que foi comparado pelo vice-provincial dos redentoristas, Pe. Francisco Wand C.Ss.R., à primeira missa celebrada na Terra de Santa Cruz, afirmando que o padroado de Nossa Senhora estava nas páginas douradas da história nacional, para tal ato, o arcebispo de São Paulo, Dom Duarte, Pe. Antão e muitas autoridades eclesiásticas, civis e militares, na tarde do dia 30 de maio de 1931 dirigiram-se à Basílica Velha, de onde a veneranda imagem da Virgem Imaculada foi retirada de seu nicho e entre choros, gritos e aplausos foi levada com grande comoção e piedade até à estação ferroviária de Aparecida para ser conduzida à capital do Brasil. Na estação, esperava o trem com um vagão-capela preparado para a Padroeira e, afixado à sua frente, ia um painel de madeira artisticamente pintado, representando a imagem da Padroeira e as armas de sua basílica em Aparecida.
Pelas cidades por onde o Trem da Padroeira passava muita gente se aglomerava às margens dos trilhos para saudar sua Mãe e Rainha e, talvez, fazer algum pedido ou registrar algum agradecimento à sua passagem.
No dia 31, Nossa Senhora foi recebida com honras de chefe de estado na Estação Dom Pedro II; entre aplausos e o ressoar dos sinos de todas as igrejas da capital temperado pelo estrondoso foguetório que a recepcionou foi conduzida em carro aberto até à portada da igreja de São Francisco de Paula. Em torno de um milhão de pessoas a esperavam. Dadas as dificuldades de transporte da época, uma multidão dessa proporção nunca tinha sido registrada anteriormente em nenhum evento da história brasileira. Foi cantada a Missa Solene seguida de grande procissão até à Esplanada do Castelo, onde Dom Sebastião Leme procedeu à leitura do decreto papal seguida da consagração de nossa nação à Senhora Aparecida. 25 bispos, centenas de padres, religiosos e religiosas, 1 milhão de fiéis, o corpo diplomático, o núncio apostólico Dom Aloísio Masela e o presidente da república, Getúlio Vargas estavam presentes.
No 90º aniversário desse evento tão significativo para nossa gente, fazemos eco das palavras firmes e sempre atuais do Cardeal Leme: “Senhora Aparecida, o Brasil é vosso! Rainha do Brasil, abençoai a nossa gente. Paz ao nosso povo! Salvação para a nossa Pátria! Senhora Aparecida, o Brasil vos ama, o Brasil, em vós confia! Senhora Aparecida, o Brasil vos aclama, Salve Rainha!”
Luiz Raphael Tonon, leigo consagrado da Comunidade Católica Pantokrator, casado, pai de dois filhos, historiador e ex-seminarista redentorista (Instagram: @raphael.tonon).
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