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Mariofanias – Aparições e Revelações particulares Um olhar sobre o Subsídio Doutrinal 01 da CNBB

Escrito por Academia Marial

12 FEV 2022 - 08H30 (Atualizada em 14 FEV 2022 - 09H11)

As aparições marianas são um tema ainda muito discutido em nossos dias. Tais fenômenos tem grande aceitação por parte de muitos fiéis e há quem defenda estes acontecimentos ímpar na história da humanidade. Um dos mais notórios defensores das aparições marianas na atualidade é o Padre René Laurentin, que realizou importantes pesquisas em torno dos fenômenos marianos e os publicou em livros. Mas há também os que discordam de tais fenômenos afirmando que esses acontecimentos são “frutos dos excessos da devoção popular e da exaltação patológica de supostos videntes” (SILVA,2014,p.11).

Com a missão de promover uma reflexão teológica que ilumine de forma adequada os questionamentos e desafios dos tempos atuais, a Comissão Episcopal Pastoral para a Doutrina da Fé (CED) publicou em 12 de Outubro de 1989 a primeira edição do Subsídio Doutrinal da CNBB (Conferencia Nacional dos Bispos do Brasil), com o tema “Aparições e revelações particulares”. Uma nova edição foi publicada em 28 de junho de 2009 mantendo o texto original, o que indica não haver alterações na posição da Igreja em relação à análise nos dados do problema e, pressupostos, os fatos, a experiência cristã, a análise do problema e critérios de discernimento.

O Subsídio Doutrinal nº1 da CNBB, Aparições e Revelações Particulares”, está dividido em cinco capítulos que oferecem referências para um discernimento pastoral mais amplo com base nos dados da doutrina mais segura da Igreja:

  1. Dados do Problema e pressuposto: um panorama geral da problemática e uma visão de suas possíveis causas;
  2. Os Fatos: apresentação de uma série de “Mariofanias”, reconhecidas e não reconhecidas, em âmbito internacional e nacional;
  3. A experiência cristã: baseia-se na experiência e no seguimento do Filho de Deus, que ilumina a fé de todo cristão, a qual não deve ir em busca de milagres; a ação mediadora de Jesus Cristo se reflete na intercessão dos santos, de modo particularíssimo na Virgem Maria, a única pessoa na história que realizou de modo perfeito a sequela Christi (o seguimento de Cristo); trata também da fraqueza que é inerente à realidade humana e que desta requer sempre uma chamada de conversão;
  4. A análise do problema: promove uma análise que leva em consideração os fatos, a mensagem, o contexto histórico e a função crítica da Igreja;
  5. Critérios de discernimento: critérios que promovem principalmente das normativas do magistério, estabelecidos desde o Papa Bento XIV (séc. XVIII), e ainda em vigor.¹

Os fenômenos das aparições estão enraizados na vida dos cristãos e na cultura de muitos povos, em especial as aparições da Virgem Maria. Tais aparições recebem uma atenção especial, pelo seu sentido eclesial e pastoral.

O que hoje chamamos de “aparição” e “revelações” se entende como experiências de ordem psíquica. Através destas experiências se diz reconhecer coisas “invisíveis” como Deus, os Anjos, os Santos, a Virgem Maria, as almas. São fenômenos extraordinários dos quais se tem inúmeros relatos de experiência. As ciências que estudam tais fenômenos “não têm a pretensão de dizer a última palavra. Querem apenas ser um saber rigoroso que controla as regras da produção do próprio conhecimento. Reconhece desta forma, que existe um imenso “território” a elas inacessível, aberto a outras formas de conhecimento, que ultrapassam os limites do que é cientificamente controlável”.²

As aparições, a seu modo, manifestam a presença de Deus entre os homens enquanto caminha neste vale de lágrimas rumo a Pátria definitiva e chamam a atenção para o Evangelho de Cristo. O Concílio de Trento (1545-1563) estabeleceu o bispo local como a primeira autoridade para julgar a autenticidade de uma aparição mariana, ou seja, reconhecer que as revelações constituem uma chama autêntica de Cristo ou de seus santos para a Igreja. “Deve-se, pois, crer com fé divina e católica em todas as coisas que estão contidas na Palavra de Deus escrita ou transmitida pela Tradição, e que, pela Igreja, quer em declaração solene, quer pelo Magistério ordinário e universal, nos são propostas a ser cridas como reveladas por Deus. Isso significa que o objeto material da fé católica corresponde àquilo que está exposto nas Sagradas Escrituras, nos símbolos apostólicos — os doze artigos do Credo — e no ensinamento perene da Igreja. Duas são as fontes da divina Revelação: a Tradição e as Sagradas Escrituras. Ambas constituem o depósito da fé, cuja tutela e interpretação são de responsabilidade do Magistério da Igreja”.³ As aparições marianas não fazem parte do depósito da fé, sendo assim nenhum católico tem por obrigação aceitá-las com o obséquio da fé. Apesar de nos convidar a "discernir e guardar o que nestas revelações constitui um apelo autêntico de Cristo ou dos seus santos à Igreja". O Catecismo da igreja nos afirma que o papel destes fenômenos "não é 'aperfeiçoar' ou 'completar' a Revelação definitiva de Cristo, mas ajudar a vivê-la mais plenamente, numa determinada época da história".

Deve-se, no entanto, ter o máximo empenho pastoral para aplicar, à devoção mariana, aqueles critérios essenciais lembrados pelo Papa Paulo VI, na Marialis Cultus:

  • A) Na devoção mariana, “a característica trinitária e cristológica e intrínseca e essencial”. De fato, em Maria “tudo é relativo a Cristo e dependente” (n. 25), e deve realçar igualmente “a pessoa e obra do Espírito Santo” (n. 26).
  • B) A piedade mariana deve manifestar, de modo claro, “o lugar que ela ocupa na Igreja” (n. 28): “depois de Cristo, o mais alto e o mais perto de nós” (LG, n. 54). 4

Mesmo não fazendo parte do depósito da fé, as aparições marianas, tem grande potencial de evangelização intimamente ligado à religiosidade popular o que auxilia no ânimo dos cristãos e contra a descrença na mensagem cristã. “Entre as expressões desta espiritualidade contam-se: as festas patronais, as novenas, os rosários e via crucis, as procissões, as danças e os cânticos do folclore religioso, o carinho aos santos e aos anjos, as promessas, as orações em família. Destacamos as peregrinações onde é possível reconhecer o povo de Deus no caminho. (...) O olhar do peregrino se deposita sobre uma imagem que simboliza a ternura e a proximidade de Deus. O amor se detém, contempla o silêncio, desfruta dele em silêncio. Também se comove, derramando todo o peso de sua dor e de seus sonhos. A súplica sincera, que flui confiadamente, é a melhor expressão de um coração que renunciou à auto-suficiência, reconhecendo que sozinho, nada é possível. Um breve instante sintetiza uma viva experiência espiritual” (Doc. Aparecida – 259).

Nessa tarefa, duas coisas devem ser pastoralmente evitadas: Primeiro, não se afastar de Cristo; segundo, não abafar o Espírito, que sopra onde quer. Para isso, o magistério da Igreja, por um lado, não pode dar a impressão de basear sua fé em fenômenos tão controvertidos e em testemunhos tão frágeis. Por isso, ela deve manifestar-se, muitas vezes, incrédula em relação a eles, para que a verdadeira fé em Cristo não sofra prejuízos. Todavia, por outro lado, não pode deixar de exercer aquele necessário discernimento dos dons e carismas, distribuídos pelo Espírito Santo no meio do povo de Deus. Em ambos os casos, vale a advertência do apóstolo Paulo: “Quando éreis gentios, éreis irresistivelmente arrastados para os ídolos mudos. Por isto, eu vos declaro que ninguém, falando com o Espírito de Deus, diz: anátema seja Jesus! E ninguém pode dizer: ‘Jesus é Senhor’ a não ser no Espírito Santo” (1Cor 12,2-3).5

“Há dois mil anos que a Igreja é o berço onde Maria depõe Jesus e O confia à adoração e à contemplação de todos os povos, que jamais deixam de invocar a Mãe de toda a misericórdia. Sob a sua proteção, os homens encontram sempre refúgio e coragem. Efetivamente, Maria brilha como sinal de esperança segura e de consolação aos olhos do Povo de Deus peregrino (LG 68), no meio das dificuldades deste mundo. É a Mãe da Igreja a caminho, que Ela continua a gerar, convidando incessantemente os homens a acolherem a promessa de Deus como Ela mesma fez e, com o auxílio do Espírito Santo, a serem missionários do Evangelho." (Etienne Nguyên Nhu Thê)

Vinícius Aparecido de Lima Oliveira
Associado da Academia Marial de Aparecida

Bibliografia:

1. SILVA, Dom Rafael Maria. Guadalupe, Aparecida, Lourdes: três Mariofanias, uma mesma mensagem; – 1ed. São Paulo: Editora Mensageiro de Santo Antônio,2014.
2. Conferência Nacional dos Bispos do Brasil / Aparições e Revelações Particulares. Brasília, Edição CNBB. 2009.
3. CONTEÚDO aberto. In: Padre Paulo Ricardo.org – Aparições marianas: o que são e qual o seu papel na vida cristã? Disponível em: < https://padrepauloricardo.org/blog/aparicoes-marianas-o-que-sao-e-qual-o-seu-papel-na-vida-crista>. Acesso em: 15 jan 2022.
4. Conferência Nacional dos Bispos do Brasil / Aparições e Revelações Particulares. Brasília, Edição CNBB. 2009.
5. Conferência Nacional dos Bispos do Brasil / Aparições e Revelações Particulares. Brasília, Edição CNBB. 2009.

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