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Reflita a Primeira dor de Maria Santíssima

A primeira dor de Maria está relacionada à Profecia de Simeão

Escrito por Academia Marial

25 FEV 2023 - 09H00 (Atualizada em 16 FEV 2024 - 16H41)

“Simeão os abençoou, e disse a Maria, mãe do menino:
“Eis que este menino vai ser causa de queda e elevação de muitos em Israel.
Ele será um sinal de contradição. Quanto a você, uma espada há de atravessar-lhe a alma.
Assim serão revelados os pensamentos de muitos corações.”
 (Lucas 2,34-35)

O Evangelista Lucas ao narrar a apresentação de Jesus, no quadragésimo dia após a sua circuncisão, quando oficialmente recebeu o nome de Jesus (Lc 2,21), e foi recebido na comunidade pertencendo desde então juridicamente ao povo de Israel, nos afirma que Maria e José partiram para o Templo em Jerusalém levando consigo o menino a fim de cumprir a Lei Mosaica da Purificação, Resgate e Apresentação:

“Terminados os dias da purificação deles, conforme a Lei de Moisés, levaram o menino para Jerusalém, a fim de apresentá-lo ao Senhor, conforme está escrito na Lei do Senhor: 'Todo primogênito de sexo masculino será consagrado ao Senhor.' Foram também para oferecer em sacrifício um par de rolas ou dois pombinhos, conforme ordena a Lei do Senhor” (Lc 2,22-24).
 
A Lei de Moisés prescrevia que: “Quando uma mulher der à luz um menino, será impura durante sete dias, como nos dias de sua menstruação. No oitavo dia, o menino será circuncidado. Ela ficará ainda trinta e três dias no sangue de sua purificação. Não tocará coisa alguma santa, e não irá ao santuário até que se acabem os dias de sua purificação." (Lv 12, 2-5)

Embora Maria não estivesse obrigada a cumprir o mandamento da purificação, visto que a concepção do Menino foi por obra do Espírito Santo tornando seu parto extraordinário e fazendo-a imune de toda e qualquer impureza legal, sofrimento físico e corrupção corporal, Maria acompanhada pelo esposo José observam a Lei Mosaica “para dar exemplo de obediência aos preceitos da justiça geral e de humildade”, diz São Tomás de Aquino.

O Papa Emérito Bento XVI afirma que
“Maria não necessita ser purificada depois do parto de Jesus: esse nascimento traz a purificação do mundo. Mas ela obedece à Lei e é precisamente assim que está ao serviço do cumprimento das promessas”. Como autênticos judeus os pais de Jesus sentiam-se alegres e com a sensação de dever cumprido. Terminada a cerimônia de purificação de Maria na porta do Templo, o jovem casal passou pela abertura, que conduzia ao vestíbulo dos Israelitas, para cumprir a Lei do resgate do Primogênito e a Apresentação.

Lucas começa por citar explicitamente o direito de reserva que Deus tinha sobre o primogênito: 'Consagra-me todo primogênito; as primícias de todo seio entre os israelitas, tanto dos homens como dos animais, são minhas' (2,23; cf. Ex 13,2). Mas o fato peculiar da sua narrativa é que ele não fala do resgate de Jesus, mas de um terceiro acontecimento, ou seja, a entrega ('apresentação') de Jesus. Pretende evidentemente dizer: este menino não foi resgatado nem voltou à propriedade dos pais; antes pelo contrário, foi entregue no Templo pessoalmente a Deus, totalmente dado a Ele em propriedade”¹.

Maria obedecendo ao preceito deste terceiro ato, apresenta e oferece o menino Jesus a Deus Pai. “Mas a Virgem o ofereceu de um modo diferente do das outras mães. Essas ofereciam os filhos, mas sabiam que esta oblação era uma simples cerimônia da lei, de modo que por meio do resgate os tornavam seus, sem receio de tê-los de oferecer à morte. Maria, pelo contrário, ofereceu o Filho à morte realmente. Estava certa de que o sacrifício que então fazia da vida de Jesus, tinha de se consumar no altar da cruz. Ora, amando vivamente seu Filho, sacrificou a si própria a Deus, ao oferecer-lhe a vida de Jesus”²

Na apresentação os pais deveriam realizar uma oferta de holocausto que consistia na oferta de um cordeiro de um ano, e, em sacrifício pelo pecado, um pombo novinho ou uma rola. Na impossibilidade de adquirir o cordeiro, acrescenta o Levítico, oferecer “um par de rolas ou dois pombinhos” (Lc 2,24). O oferecimento de um par de pássaros indicava a condição de pobreza da família impossibilitada de oferecer um cordeiro.

Maria e José mesmo estando na condição de pobreza não deixam de apresentar ao Senhor o “verdadeiro Cordeiro” que estava destinado a um holocausto de valor definitivo.
Assim como a Lei da Purificação não se aplicava a Maria, a Lei do Resgate também não se aplicava a Jesus, verdadeiro cordeiro de Deus que vinha para tirar os pecados do mundo.

Impelido pelo Espírito Santo, o velho Simeão, apresentado no Evangelho como um homem simples, justo e piedoso (Lc 2,25) toma lugar na cena da apresentação do Menino e tomando-o nos braços pronuncia com voz profética: “Os meus olhos viram a vossa Salvação”. Pelos olhos da fé, o velho Simeão não viu "um menino; um pequenino, frágil e simples menino. Mas n’Ele viu a Salvação, porque o Espírito Santo lhe fez reconhecer,  naquele terno recém-nascido, o Messias do Senhor (LC 2, 26). Ao tomá-lo nos braços, percebeu, pela fé, que n’Ele Deus cumpria as suas promessas. E assim ele, Simeão, já podia partir em paz: vira a graça que vale mais do que a vida (Sl 63/62,4), e nada mais esperava”. (Papa Francisco)

Simeão os abençoou, e disse a Maria, mãe do menino: “Eis que este menino vai ser causa de queda e elevação de muitos em Israel. Ele será um sinal de contradição. Quanto a você, uma espada há de atravessar-lhe a alma. Assim serão revelados os pensamentos de muitos corações.” (Lc 2,34-35).

A queda e elevação resumem-se de forma maravilhosa no Sermão da Montanha, onde a teologia dos contrários nos mostra a impenetrabilidade de Deus. Os pobres, os que choram, os mansos, os que têm fome e sede de justiça, os puros de coração, os misericordiosos, terão a sua recompensa. No Magnificat, Maria confirma antecipadamente esta profecia, quando diz: “Derrubou do trono os poderosos e exaltou os humildes. Saciou de bens os indigentes e despediu de mãos vazias os ricos."

Acolheu a Israel, seu servo, lembrado da sua misericórdia, conforme prometera a nossos pais, em favor de Abraão e sua posteridade, para sempre. Mas este menino também seria sinal de contradição. Contradição contra a estrutura reinante, contra a opressão, contra a acepção de pessoas, contra a corrupção reinante, contra a miséria, contra a desigualdade social... José e Maria admiravam-se de todas estas coisas.

Não entendiam. Guardavam em seus corações”.³ “Maria compreendeu que Jesus devia ser conduzido ao Templo, não para O resgatar como aos outros primogênitos, mas para ser oferecido a Deus em verdadeiro sacrifício. Assim o expressa a Carta aos Hebreus: entrando no mundo, diz: "Não quiseste sacrifício nem oblação, mas formaste-Me um corpo; os holocaustos e sacrifícios pelo pecado não te agradaram. Então Eu disse: Eis-Me que venho, segundo está escrito de Mim no rolo do livro, para fazer, ó Deus, a Tua vontade" (Hb 10, 5-7)”4

A espada de dor que há de traspassar a alma de Maria de Nazaré tem um só motivo que são as dores da condenação à morte de seu Filho Jesus. “Virá um tempo – diz São Bernardo – em que Jesus não será oferecido no Templo nem entre os braços de Simeão, mas fora da cidade e entre os braços da cruz. Virá um tempo em que não será redimido com o que é alheio, antes redimirá os outros com o seu próprio sangue, porque Deus Pai o enviou em resgate do seu povo”.5

São Lourenço Justiniano nos afirma que a alma de Maria foi concebida como um espelho claro da paixão de Cristo e uma imagem perfeita de sua morte. “Assim como, na Anunciação, quando Ela concebeu, o êxtase – ao contrário do amor humano – foi, primeiro, na sua alma, e, depois, no seu corpo, assim, na sua compaixão, as dores do martírio penetram primeiro a sua alma, para depois terem ressonância no seu corpo, como eco de todos os golpes com que a carne de Seu Filho foi flagelada, com que as Suas mãos e os Seus pés foram trespassados”.6

“Maria tomará parte nas contradições que o Salvador encontrará; os sofrimentos de Jesus serão os seus, ela terá o coração transpassado pela mais viva dor. Se o Filho de Deus não tivesse vindo, não se teria conhecido a profunda malícia do orgulho que se revolta contra a mais alta verdade. Os pensamentos ocultos da hipocrisia e do falso zelo serão revelados quando os fariseus pedirem a crucifixão daquele que é a própria santidade. A plenitude da graça em Nosso Senhor tem dois efeitos aparentemente contrários: a mais perfeita paz e a inclinação a oferecer-se para o sacrifício dolorosíssimo como vítima redentora, para cumprir do melhor modo possível a sua missão de Salvador. Igualmente, a plenitude de graça em Maria tem dois efeitos aparentemente contrário: de um lado, a mais pura alegria nos dias da Anunciação e da Natividade, e, de outro, o desejo de se unir o mais generosamente possível aos sofrimentos de seu Filho por nossa Salvação. Assim, na apresentação no Templo, ela já o oferece por nós; a alegria e o sofrimento se unem muito intimamente no coração da Mãe de Deus, que desde já é a Mãe de todos os acreditaram nas palavras de seu Filho”.7

Toda a oposição contra a pessoa de Jesus atinge Maria Santíssima, como uma espada que atravessa o seu coração Imaculado. Ao contemplar o sofrimento de Maria aos pés da Cruz aprendemos Dela a verdadeira compaixão, que acolhe como seu o sofrimento alheio. Desta forma como Serva do Senhor, Maria de Nazaré, “avançou pelo caminho da fé, mantendo fielmente a união com seu Filho até a cruz” (Lumen Gentium, 58).

Bibliografia:

1.RATZINGER, Joseph. Jesus de Nazaré : a infância de Jesus. 2. ed. - São Paulo : Planeta, 2016.
2. LIGÓRIO, Afonso maria. Glórias de Maria. 3 ed. - Aparecida, SP : Editora Santuário,1989.
3.MACÊDO, Antonio luiz. A Espada de Dor (Lc 2,22-35). Catequese Católica, 2022. Disponível em: <https://catequizar.com.br/espada-de-dor-lc-222-35/ >. Acesso em: 04, Janeiro de 2022.
4.LOARTE, J.A. Vida de Maria (8): Apresentação de Jesus no Templo. Opus Dei, 2022. Disponível em: <https://opusdei.org/pt-br/article/vida-de-maria-viii-apresentacao-de-jesus-no-templo/> . Acesso em: 04, Janeiro de 2022.
5.São Bernardo, Sermão 3, do Menino, de Maria e de José; PL 183, 370-371
6.SHEEN, Fulton J. As Dores de Nossa Senhora : Profecia de Simeão. Associação Devotos de Fátima, São Paulo, 2022. Disponível em: <https://www.adf.org.br/home/as-dores-de-nossa-senhora-profecia-de-simeao/> . Acesso em: 04, Janeiro de 2022.
7. GARRIGOU-LAGRANGE, Réginald. A Mãe do Salvador e nossa vida interior. 1 ed. - Campinas, SP : Ecclesiae, 2017.

Olhar de maria
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