Por Alessandro Barbosa Em Palavra do Associado Atualizada em 17 ABR 2020 - 17H59

Maria, mãe do Crucificado

O quarto evangelho nos apresenta Maria presente, também, na cena de Jesus junto à cruz. Sofrimento, abandono e dispersão dos seguidores de Jesus foram fatos que Maria [Mulher] testemunhou de perto.

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Em João 19, 25-27, o texto narra o encontro de Jesus e sua mãe na cruz. Eles não estavam sozinhos. Outras três mulheres-discípulas, inclusive a tia de Jesus, permanecem lá, junto com o discípulo amado.

“Perto da cruz de Jesus, permaneciam de pé a sua mãe, a irmã de sua mãe, Maria, mulher de Clopas, e Maria Madalena. Jesus, então, vendo a mãe e, perto dela, o discípulo a quem amava, disse à mãe: 'Mulher, eis teu filho! Depois, disse ao discípulo: Eis tua mãe!'. E a partir dessa hora, o discípulo a recebeu em sua casa”.

Ao contrário de outras passagens onde encontramos Maria “tomando frente” em algumas questões, desta vez Maria se apresenta sem o referencial de qualquer sinal extraordinário. Ao contrário, pois o momento da cruz é causa de dor e desafia a fé até mesmo dos mais próximos de Jesus. E é neste cenário que encontramos essa MULHER firme, de pé, junto da cruz. Sofrendo as dores da espada da incompreensão e da maldade humana, tal qual uma mãe que hoje, sofre as injustiças que assolam nossa sociedade geradora de injustiça.

Olhando, então, pois, para Maria reconhecemos nela a representação dos que perseveram na fé e no Caminho mesmo diante de tantas dificuldades, persistindo e se mantendo de cabeça erguida (v. 25).

A cena da crucificação de Jesus também poderia nos levar a refletir sobre a importância e a coragem das mulheres daquele dia e, desta forma, nos conduzir a uma profunda discussão em relação ao machismo que ainda existe na Igreja e na sociedade contemporânea, que insiste em menosprezá-las.

Maria recebendo o discípulo amado como seu filho (v. 26), declara na intimidade do seu coração que acolhe todos os que foram confiados a Jesus – os que permanecem e os que fogem – ao seu lado, mostrando o caminho que aponta sempre para o Salvador da humanidade (Jo 3,37).

João apresenta a morte e a ressurreição de Jesus como um único acontecimento, em duas partes. Agora chegou a hora (Jo 17,1)! Como um grão jogado na terra (Jo 12,24), Jesus morre para ressuscitar; Termina sua obra nesse mundo (Jo 17,4) e volta para os braços do Pai (Jo 17,3). Ele deixa a comunidade de seus amigos-sucessores entregues ao ânimo do Espírito Santo.

Nesse contexto, nós entendemos a força do encontro de Maria com o discípulo amado, ao pé da cruz. O evangelista não está preocupado em dizer quem iria acolher a mãe de Jesus (uma vez que Jesus nem a chama de mãe, mas de mulher, como nas bodas de Caná). Neste momento o que se deseja é deixar impresso no coração de todos os cristãos que Maria não é somente a mãe que concebeu, gestou, nutriu e deu à luz Jesus. Ela está muito além dos laços de sangue.

Esse mistério nos mostra que, por meio de Jesus, Maria é adotada como Mãe dos cristãos de todos os tempos. E ao ouvir o pedido de seu Filho na cruz, ela adota todos nós como seus filhos legítimos e assim, assume para sempre a missão de interceder por cada um de nós, sobretudo nos nossos árduos “momentos de cruz”.

Assim como o discípulo amado, estejamos também nós, firmes e fortes diante de nossas cruzes, respondendo com nossas vidas e testemunhando que acolhendo Maria como nossa mãe, também acolhemos uns aos outros como nossos irmãos, permitindo que ela (Maria – Mulher - Discípula) realize seu papel de intercessora e geradora de filhos para o Reino de Deus, sobretudo neste tempo de Pandemia mundial, quando somos privados do calor dos irmãos, do convívio fraterno e eclesial, quando somos submetidos à apreensão da infecção por doença contagiosa e à solidão do isolamento social.

Que a Mãe do nosso Salvador interceda por nós, seus filhos, principalmente os que carregam a cruz dos dias de hoje.

Alessandro Barbosa
Teólogo e Pós Graduado em Mariologia
Membro associado da Academia Marial – Santuário Nacional de Aparecida

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