Por Academia Marial Em Palavra do Associado Atualizada em 19 OUT 2020 - 16H41

Maria, o paraíso de Deus

A grandeza de cada homem/mulher só pode ser medida quando comparada a seu próprio objetivo. Quais poderiam, então, ser os objetivos de uma virgem prometida em matrimônio, vivendo sob o jugo de uma sociedade patriarcal, há mais de dois mil anos numa pequena cidade da Galileia? 

Shutterstock/rudall30
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É razoável pensar que aquela jovem tivesse em seu horizonte modestos planos de se casar, esperando que seu marido fosse um bom homem e que pudesse oferecer a ele uma descendência. Ainda que temente a Deus e a espera do Messias prometido, não devia fazer parte das suas expectativas a visita de um anjo, em especial de Gabriel, portando as palavras de Deus e anunciando tão significativa missão. Neste sentido a anunciação foi para Maria uma grande surpresa.

O sim que brotou em seu peito não trazia a dúvida como companhia, ao contrário, era a pura expressão da certeza. Sua única preocupação era saber como a vontade de Deus poderia se cumprir, uma vez que ela não conhecia homem algum. Seu dever moral para com a sociedade ou mesmo seu futuro marido passaram a ocupar um plano secundário. Para este plano também foram exilados a lei e os costumes, Maria é movido por outra lei, a Divina. Seu ato incompreensível, que só pode ser entendido quando colocado diante da sua fé, foi magnífico a ponto de trazer ao mundo toda graça.

Mesmo sendo Maria escolhida por Deus para ser a Mãe do seu Filho Unigênito, a missão do anjo não incluía informar a sociedade da época sobre sua maternidade divina ou recomendar que os preceitos morais fossem ajustados em favor daquela gestante. Não cabia ao arcanjo convencer aos amigos, vizinho e familiares a apoiar Maria naquela escolha. Nem mesmo José, seu futuro marido, o anjo visitaria naquele momento. Diante do extraordinário que se apresentou, Maria faz uma escolha pessoal e consciente e, mesmo diante de todas as dificuldades que viriam, num ato de fé, opta por caminhar junto a seu Deus.

Mesmo com a concepção divina, sua vida de gestante transcorreu como a de todas as outras mulheres, com muitas dificuldades, ansiedades e angústias. Em sua grandeza não buscou fugir das tribulações, ao contrário, encarou de frente cada uma das suas dificuldades e, ao enfrentar sua condição humana, pode estreitar ainda mais sua íntima relação com Deus. Mesmo quando alertada que uma dor iria ferir sua alma (Lc 2, 35); quando teve de fugir para um país distante para proteger Jesus ou aos pés da cruz, soube crer.

Crer para Maria foi um verbo em movimento, que se traduziu em cuidar, servir e indicar o melhor caminho, ela se fez presente em todos os momentos importantes da vida do seu Filho da mesma forma que, ainda hoje, é presente na vida de todos aqueles que a buscam. Em sua pequenez não pretende reconhecimento ou admiração públicos, antes, é sempre um recanto amoroso que acolhe e dirige para o Pai, como ensina São Luís Maria Grignion Montfort: “Maria não existe senão para Deus e tão longe está de prender uma alma a si mesma que, ao contrário, a lança em Deus e a une com Ele tanto mais perfeitamente quanto mais se une a alma com ela. Maria é o eco admirável de Deus: quando lhe bradamos: Maria, ela só responde, Deus! (2017, P. 22)”

Compreender Maria não é uma simples missão. Sua atitude não está presa ao tempo, mas se norteia na esperança e, num ato de superação, abre um caminho de encontro a eternidade. Ela supera o imediato para se jogar no Absoluto. Seu movimento foi único e pessoal, mas a graça a ela dispensada também alcançou toda criatura sobre a terra. Só é possível compreender Maria olhando para a vida de Jesus e sua missão, ligados por laços de companheirismo e intimidade. Antes mesmo que Maria fosse visitada e pudesse dizer sim ao anjo, Jesus desde a eternidade disse sim a Maria.

Ao abraçar a humanidade e apresentar a todo homem e toda mulher a plenitude de seu amor, Deus preserva a liberdade humana. O sim de Maria inaugura a plenitude dos tempo e, ao abrir caminho, permite que Deus possa descer tão baixo para poder levantar o homem, lá caído pelo seu orgulho.

Maria é a expressão máxima da fé e confiança, ela é o paraíso de Deus. Sua existência jamais esteve ligada as paixões mundanas, efêmeras e passageiras, ao contrário, seus passos foram sempre norteados a um projeto de eternidade, guiados pela sua compreensão transcendental, sua fé. E assim, totalmente conectada ao Absoluto, naquele dia diante do anjo, como que num salto rumo ao desconhecido, rumo ao absurdo, ela diz ‘Eis aqui a serva do Senhor’ (Lc 1, 38). Com seu ato de amor solitário, a Cavaleira da Fé oferece ao mundo o vínculo perfeito de amor entre Deus e seu povo escolhido.

Ricardo Toledo
Associado da Academia Marial

Bibliografia

KEARNS, Lourenço. Devoção a Maria. Aparecida, SP: Editora Santuário, 2017.
MONTFORT, Luís Maria Grignion de. O segredo de Maria. Aparecida, SP: Editora Santuário, 2017.
KIERKEGAARD, Soren. Temor e tremor. Lisboa: Relógio DÁgua Editores, 2009.

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