Mariofanias - Nossa Senhora das Dores de Kibeho - Nyina wa Jambo - Mãe do Verbo

Nossa Senhora das Dores de Kibeho - Nyina wa Jambo - Mãe do Verbo
Ruanda, Africa (1982)

Coleção: Mariofanias
Categoria: Estudos
Autor (ES): Vinícius Aparecido de Lima Oliveira / Jonas da Costa Reis
Festa: 28 de Novembro
Aparições: Várias aparições (28 de Novembro de 1981 à 28 de Novembro de 1989)
Videntes: Alphonsine Mumureke, Nathalie Mukamazimpaka e Marie Claire Mukangango
Investigado: Abril de 1982
Aprovação: 29 de Junho de 2001 por Augustin Misago de Gikongoro, Bispo

Ruanda é o palco de um dos acontecimentos mais dramáticos do século XIX, mas é também o coração acolhedor de uma mensagem trazida do céu pela Santa Mãe de Deus. Ruanda ficou mundialmente conhecido a partir dos conflitos étnicos que começaram na década de 60 entre Hutus e Tutsis. “No final do século XVIII, o Ruanda era já um reino centralizado presidido por reis Tutsi, em que os Hutus eram a parte dominada apesar de serem a maioria da população. Em 1899 o país tornou-se uma colônia alemã, mas com a derrota dos germânicos na Primeira Guerra Mundial passou a ser controlado pela Bélgica (1919). Em 1959, o rei Mutara III morreu e foi substituído por Kigeri V. No entanto, os Hutus alegaram que o rei não tinha sido escolhido de forma lícita e começaram os confrontos entre os dois povos: Tutsi e Hutu. Em 1961, a Bélgica declarou o fim da monarquia e Gregoire Kayibanda foi designado Presidente da nova república. No ano seguinte, o Ruanda tornou-se oficialmente independente”.¹

Com a derrubada da monarquia por parte dos Hutus, muitos Tutsis tiveram que fugir para países vizinhos, incluindo a Uganda. “Um grupo de exilados tutsis formou um grupo rebelde, a Frente Patriótica Ruandesa (RPF), que invadiu Ruanda em 1990 e lutou continuamente até que um acordo de paz foi estabelecido em 1993. Na noite de 6 de abril de 1994, um avião que transportava os então presidentes de Ruanda, Juvenal Habyarimana, e do Burundi, Cyprien Ntaryamira, ambos hutus, foi derrubado. Extremistas hutus culparam a RPF e imediatamente começaram uma campanha bem organizada de massacre. A RPF disse que o avião tinha sido abatido por Hutus para fornecer uma desculpa para o genocídio. Com organização meticulosa. As listas de opositores do governo foram entregues às milícias, juntamente com os nomes de todos os seus familiares. Na ocasião, carteiras de identidade apresentavam o grupo étnico das pessoas, então milícias montaram bloqueios nas estradas onde abateram os Tutsis, muitas vezes com facões que a maioria dos ruandeses têm em casa.²

Os acontecimentos de Ruanda tem uma ligação íntima com uma mensagem profética dirigida pela Santa Mãe de Deus a três jovens moradoras de Kibeho: Alphonsine Mumureke, Nathalie Mukamazimpaka e Marie Claire Mukangango. A sessenta quilômetros de Dali, está Kibeho, uma pequena vila situada ao sudoeste de Ruanda na província Intara do Sul. O povoado de Kibeho pertence à arquidiocese de Butare, segunda maior cidade de Ruanda. Além da igreja católica situada no local existe também a escola das irmãs de caridade ruandesas Benebekira. O relógio na parede do refeitório da escola religiosa Benebekira marcava 12:35 do dia 28 de Novembro de 1981 (sábado) quando uma voz celestial foi ouvida por Alphonsine Mumureke, de 17 anos. Alphonsine servia as amigas no refeitório quando ouviu:

- “Minha filha, minha filha...”

Alphonsine conta os detalhes: ”Eu fui para o corredor e vi uma Senhora muito bonita. Ajoelhei-me, fiz o sinal da cruz e perguntei: “Quem sois?”. A Virgem Maria disse em dialeto ruandês: ‘Eu sou a Mãe do verbo’ (NDI NYINA WA JAMBO). ‘Na religião o que proferes?’. Eu disse: ‘Eu amo a Deus e a sua Mãe, que nos deu um Filho que nos redimiu’. A Virgem Maria respondeu: ‘Se é assim, eu vim para te acalmar, porque ouvi as tuas preces. Eu gostaria que os teus amigos tivessem fé, porque eles não acreditam com força suficiente’. 'Mãe do Salvador, se sois realmente vós que nos viestes dizer que temos pouca fé, vós nos amais. Eu estou realmente cheia de alegria que vós me tenhais aparecido’”.³

Os que presenciaram a cena de êxtase de Alphonsine testemunharam que a jovem ao longo da aparição teria conversado com a Virgem em francês, inglês, Kinyarwanda e outras línguas desconhecidas. Após o fenômeno, as testemunhas relataram que Alphonsine teria permanecido em êxtase por mais 15 minutos e como a mesma estivesse paralisada tentaram removê-la do local mas todos os esforços foram em vão.

Quando retornou ao seu estado normal, a vidente relatou o que ouviu da Senhora de Luz e ainda acrescentou: A Virgem não era branca como ela é geralmente vista nas imagens sagradas. Eu não podia determinar a cor da sua pele, mas era de uma beleza incomparável. Ela estava descalça e tinha um vestido branco sem costura e um véu na cabeça. Suas mãos estavam entrelaçadas sobre o peito e seus dedos apontados para o céu. Quando a Santíssima Virgem estava prestes a partir, eu rezei três Ave-Marias e a oração ‘Vem, Espírito Santo’. Quando ela partiu, eu vi a sua ascensão ao céu como Jesus o fizera”.4

Mesmo diante dos fatos os professores e freiras não acreditaram nos relatos da vidente e afirmaram que a mesma estava doente. No dia seguinte a aparição ocorreu novamente e em Dezembro daquele mesmo ano as aparições ocorriam quase todos os sábados do mês. Os colegas de Alphonsine eram verdadeiros incrédulos e a vidente virou motivo de piadas na escola por conta das aparições. Diante de tanta zombaria, durante uma aparição, Alphonsine pede a Virgem Maria que apareça também as suas amigas para que todos acreditem. O pedido da vidente foi atendido pela Virgem e em janeiro de 1982, Nathalie Mukamazimpaka também pôde contemplar a beleza da Mãe de Deus. As aparições a Nathalie duraram quase dois anos. Outra jovem, Marie Claire, que era a mais incrédula das jovens antes das aparições, pode também contemplar a beleza da Virgem a partir de 15 de Setembro de 1982. Em 27 de Março de 1982, a Virgem Maria disse a Marie Claire: “Quando me mostro a alguém e falo com eles, quero voltar para o mundo inteiro. Se estou me voltando para a paróquia de Kibeho, não significa que estou preocupado apenas com Kibeho ou com a Diocese de Butare ou com Ruanda, ou para toda a África. Preocupo-me e volto-me para o mundo inteiro. O mundo é mau e corre para a sua ruína. Está prestes a cair no seu abismo. O mundo está em rebelião contra Deus. Muitos pecados estão sendo cometidos . Não há amor nem paz. Se você não se arrepender e converter seus corações, todos cairão em um abismo." Outros três videntes tiveram a graça de ver a Virgem Maria em Kibeho são eles: Agnes, Stephanie e Emanuel. Os videntes em destaque não tiveram suas partes na aparição aprovada pela santa igreja por contradições. As aparições ocorreram de forma pública para as três videntes no pátio do colégio e de forma particular em seus quartos.

Em 1982, o Bispo Jean Baptiste Gahamanyi nomeou uma comissão médica especial para cuidar do caso, e tempos depois uma comissão teológica, que investigou os relatos das videntes. A partir dos resultados das investigações, Jean Baptiste Gahamanyi autorizou a devoção pública à Virgem de Kibeho. Neste mesmo ano um fato curioso marcou a vida de Alphonsine. A mesma relatou que nos dias 20 e 21 de Março teria feito uma viagem mística com a Virgem Maria. Antes de adormecer por dois dias, Alphonsine informou que ficaria em um estado como se estivesse morta. Porém não deveriam preocupar-se pois ela estaria apenas a dormir. A vidente teve o acompanhamento de médicos da Cruz Vermelha, sacerdotes, enfermeiros, religiosos durante o êxtase. Todos relataram que no tempo em que esteve a dormir profundamente, seu corpo sofria variações de temperatura, corpo pesado e muitos arrepios como quem estivesse a ver coisas que a alegravam e assustavam. Quando despertou do sono profundo todos entenderam a partir de seus relatos que a mesma teria vivido realidades do céu, do purgatório e do inferno. Nathalie Mukamazimpaka viveu uma experiência semelhante em 30 de Outubro de 1982.

Muitas foram as aparições onde a Virgem pedia oração e conversão, porém a aparição de 15 de Agosto de 1982 deixava um alerta de que algo aconteceria em Ruanda e que mudaria a vida de todos. “Maria apareceu para as três videntes juntas e lhes mostrou cenas impressionantes que enchiam de dor seu imaculado coração. “um rio de sangue, pessoas que se matavam umas às outras, cadáveres abandonados sem alguém que os enterrasse, uma árvore toda em fogo, um abismo escancarado, um monstro, cabeças decapitadas”. E contaram ter ouvido dos lábios da belíssima Senhora, envolta num traje esplendoroso, frases do tipo: “Os pecados são mais numerosos que as gotas do mar. O mundo corre em direção à ruína. O mundo está cada vez pior” As imagens eram a antecipação da guerra civil deflagrada entre abril e julho de 1994, quando Ruanda viveu seu próprio genocídio”.5 Esta aparição possibilitou a veracidade e autenticidade dos acontecimentos em Kibeho e saber que quem aparecia as jovens era a Virgem Mãe das Dores.

Em 15 de Agosto de 1988, o Bispo local aprovou as aparições de Nossa Senhora em Kibero. No ano seguinte, em 28 de Novembro de 1989, Alphonsine viu a Virgem Maria pela última vez - exatamente oito anos após a primeira aparição. Marie Claire viu a Virgem pela última vez em 15 de Setembro de 1982 e Nathalie em 03 de Dezembro de 1983. O Papa São João Paulo II visitou Ruanda em 1990 e “exortou o povo Ruandês a se recorrer à Virgem Maria como sua protetora e guia; ao mesmo tempo recomendou ao povo o espírito de reconciliação evitando as lutas políticas e étnicas” (Papa João Paulo II). Em 28 de Novembro de 1992 iniciou a construção do Santuário de Nossa Senhora das Dores de Kibeho no local das aparições. Em 1994, a visão de 15 de Agosto de 1982 era vista como uma profecia do genocidio etnico que ocorreria entre Hutus e Tutsis. Deste genocidio a vidente Marie Clarie foi uma de suas vítimas. Em 29 de Junho de 2001, durante a Santa Missa Solene dos Apóstolos Pedro e Paulo na Catedral de Gikongoro, Dom Augustin Misago apresentou a declaração de autenticidade das aparições. Em 2003 o Santuário de Nossa Senhora das Dores no local das aparições foi consagrado tornando-se um lugar de renovação da fé e casa do perdão. Em 8 de Setembro de 2006 por ocasião do 25° aniversário das aparições que começaria em 28 de Novembro, Dom Misago transmitiu uma mensagem aos fiéis: “para celebrar dignamente o Ano Jubilar, devemos realizar atos concretos à luz da mensagem de Kibeho”. Entre eles, ele sugere: “rezar durante o ano por todas as intenções do Papa; aumentar a participação na Missa e recepção da Comunhão; receber o sacramento da reconciliação”. O bispo também pede “esforçar-se pela reconciliação com os inimigos; pedir perdão às pessoas que ofendemos; respeitar os outros; ser tolerante na família, com os vizinhos, no trabalho, nas reuniões e outros eventos sociais”. A esses gestos ele acrescenta "trabalhar com coragem para promover a verdade e a justiça para todos, particularmente nas condições atuais dos tribunais Gacaca" - tribunais populares encarregados de julgar pessoas acusadas de envolvimento no genocídio de 1994 - "que devem ser bem conseguiram garantir que não se tornassem fóruns de injustiça e vingança, cobrindo a lei."6 ‘Com a confirmação das profecias de Nossa Senhora das Dores de Kibeho a veracidade das aparições de Maria ficou irrefutável. Mesmo assim, nossa Mãe do Céu quis mostrar mais a força das suas mensagens. No dia 31 de maio de 2003, ano da consagração do Santuário à Nossa Senhora das Dores de Kibeho, na presença de vários enviados do Papa João Paulo II e de todos os bispos ruandeses, além de muitos fiéis, se repetiu o fenômeno da “dança do sol”, como em Fátima, no dia 13 de outubro de 1917 e foi filmado e fotografado por repórteres profissionais e amadores’. (Vania Reis). Nas aparições de Kibeho a Virgem nos alertou sobre os perigos de nos afastarmos de Deus e do não arrependimento de nossos pecados. Se não voltarmos ao bom caminho corremos o risco de deixar este mundo sem experimentar o amor e a união entre os povos.

Vinícius Aparecido de Lima Oliveira
Associado da Academia Marial de Aparecida

Bibliografia:
1. Ruanda: uma história atribulada, APN, 2004. Disponível em: . Acesso em: 7 de Setembro de 2022.
2. Entenda o genocídio de Ruanda de 1994: 800 mil mortes em cem dias, BBC NEWS Brasil, 2014. Disponível em: . Acesso em: 7 de Setembro de 2022.
3. GARCIA, Solange. VENDRAMIM, Tatiana. SACCHI, Even. OLIVEIRA, Enio Marcos. Maria entre nós - As aparições marianas, a devoção a Nossa Senhora em seus vários títulos e o esplendor do Santo Rosário. Primeira Edição. Petrópolis: Editora Vozes, 2022. pág. 21
4. Idem
5. Nossa Senhora de Kibeho, Santinhoz, 2013. Disponível em: . Acesso em: 7 de Setembro de 2022.
6. Nossa Senhora de Kibeho. The Miracle Hunter, 2022. Disponível em: . Acesso em: 7 de Setembro de 2022..