Brasil

A marcha das Eleições: A atribulada vida republicana no Brasil

Padre Inácio Medeiros C.Ss.R.

Escrito por Pe. José Inácio de Medeiros, C.Ss.R.

21 ABR 2022 - 07H00 (Atualizada em 02 MAI 2022 - 14H37)

Reprodução/ Getty Images

Com a eleição de 2022, o Brasil escolherá o seu 39º presidente; deles, parte foi eleita pelo voto direto e outros de forma indireta, em 133 anos de República, desde que os militares mandaram para o exílio o imperador Dom Pedro II, pondo em seu lugar o primeiro presidente do regime republicano, o marechal Deodoro da Fonseca, em 15 de novembro de 1889.

Na verdade, a história da vida republicana no Brasil é marcada pela instabilidade e incertezas, e a tentação da ditadura volta e meia nos assombra novamente.

Desde a volta das eleições diretas, com a Nova República de 1985, lá se vão 37 anos em que a grande meta é o fortalecimento de nossas instituições democráticas, das quais o acesso ao voto (1º artigo), a consolidação dos Três Poderes (2º artigo) e o respeito à Constituição (3º artigo) são algumas das marcas mais expressivas.

Hoje recordamos alguns casos que são bem sintomáticos para vermos como a república e a democracia sempre foram meio titubeantes no Brasil, passando por fases bastante complicadas.

Leia MaisA marcha da Eleições: A História do Voto no BrasilDifícil começo

Em nossa trajetória republicana, dois presidentes - Júlio Prestes e Tancredo Neves - não tomaram posse; nove assumiram o poder por via indireta, duas juntas militares estiveram no comando do País, seis vice-presidentes assumiram o poder e cinco interinos ocuparam o cargo.

Tentativa de golpe e renúncia

Os militares, e com eles Deodoro da Fonseca, proclamaram a República em 15 de novembro de 1889. Deodoro chefiou o governo provisório. Em 25 de janeiro de 1891, foi eleito presidente pelo Congresso Constituinte. Ele enfrentou uma grave crise política e econômica, com a resistência no meio militar. Reagindo a uma tentativa do Congresso de limitar seus poderes, tentou dar um golpe dissolvendo o congresso. Renunciou em 23 de novembro, sob pressão da 1ª Revolta da Armada.

Representante da oligarquia cafeeira paulista, Prudente de Morais foi o primeiro presidente eleito diretamente no País. Os primeiros anos de seu mandato foram marcados pelo conflito entre a oligarquia liberal e os republicanos. A tensão culminou em uma tentativa de assassina-lo, o que esfacelou a oposição, abrindo portas para a oligarquia se instalar no poder.

Hermes da Fonseca foi o primeiro militar a chegar à Presidência pelo voto direto. Seu governo ficou marcado por crises sociais, revoltas internas, instabilidade política e econômica.

Por causa das muitas crises e dificuldades, o Brasil viveu um excepcional estado de sítio durante os quatro anos de mandato de Artur Bernardes. Ele prendeu adversários, censurou a imprensa e decretou intervenção federal em alguns estados. Enfrentou com violenta repressão a Coluna Prestes e as revoltas tenentistas no Rio Grande do Sul e em São Paulo. Promoveu reforma na Constituição de 1891, mas, apesar de tudo, conseguiu eleger seu sucessor, Washington Luís, com 98% dos votos.

Aparece a figura de Getúlio Vargas

Júlio Prestes ganha, mas não leva. Ele venceu em 1930, numa eleição marcada por roubos e fraudes, mas não assumiu o governo. Quem o fez, provisoriamente, foi uma junta militar que depôs e prendeu o presidente Washington Luís, durante a Revolução de 1930.

Leia MaisA marcha das Eleições: Os três poderes da RepúblicaDe governo provisório ao Estado Novo, o caráter centralizador, nacionalista e paternalista do governo federal apareceu logo cedo: Getúlio Vargas suspendeu a Constituição e substituiu os governadores dos estados por interventores.

Apesar dos benefícios sociais que concedeu, tinha forte tendência ao fascismo e, durante certo tempo, pendeu para a Alemanha nazista. Ele enfrentou a Revolução Constitucionalista de 1932 e a Intentona Comunista de 1935. Com isso, endureceu a repressão contra os dissidentes do governo, esvaziou a oposição e instalou a ditadura do Estado Novo, permanecendo no poder até 1945. Voltaria eleito pelo voto popular em 1951.

 Jânio Quadros teve uma ascensão meteórica na política, chegando à presidência com a promessa de varrer a corrupção e a desordem. Ele foi conservador na política interna, mas ousado ao se aproximar dos países socialistas no contexto da Guerra Fria, mas renunciou ao ser acusado de planejar um "golpe" para expandir o poder do Executivo.

Depois dele, viria o governo de seu vice-presidente João Goulart, e a crise vivida pelo país seria o ensejo esperado para outro golpe militar com a instauração da ditadura que duraria 21 anos.

Reprodução/ Wikipedia
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A Ditadura Militar

Em 21 anos (1964-1985), cinco militares de alta patente governaram o Brasil com mão de ferro, reprimindo a oposição, cerceando as liberdades individuais e globais, criando o medo e a insegurança geral pela determinação dos famigerados Atos Institucionais. Apesar do tão falado “Milagre Brasileiro” que não foi tudo isso que se diz, a ditadura terminou de forma melancólica em 1985, com o último general presidente saindo às escondidas pelos fundos do Palácio do Planalto, para não entregar a faixa presidencial ao presidente civil eleito.

A Redemocratização do Brasil e a Nova República

Tancredo Neves foi eleito, mas não pode assumir. Ele morreu meses depois das eleições, no dia 21 de abril, numa morte que ainda hoje levanta suspeita. José Sarney assumiu em seu lugar, fazendo promessas e distribuindo benesses e gratificações em troca dos cinco anos de governo, numa época em que o país enfrentava severa crise socioeconômica que levou a inflação à estratosférica marca de mais de 80% ao mês.

Leia MaisA marcha das Eleições: As Constituições do BrasilFernando Collor de Mello, eleito por um partido desconhecido e de aluguel, tornou-se o presidente mais jovem a governar o País e o primeiro a ser eleito pelo voto direto depois do regime militar. Logo que assumiu, decretou o confisco da poupança, mudando a moeda nacional. Apesar de alguns avanços na economia, seu governo ficou conhecido pela relação com o tesoureiro PC Farias e múltiplos escândalos de corrupção, que resultaram em um pedido de impeachment, do qual se livrou graças à sua renúncia.

A primeira mulher presidente do Brasil, sucedendo ao populista Luís Inácio Lula da Silva, logo no início do mandato tentou aumentar a presença feminina nos ministérios, centrando esforços nos programas sociais para mulheres como caminho para alcançar sua principal promessa, a erradicação da miséria. Fez um governo claudicante, entrando para a história como a primeira presidente a deixar o poder depois de um conturbado processo de impeachment.

Escrito por
Padre Inácio Medeiros C.Ss.R.
Pe. José Inácio de Medeiros, C.Ss.R.

Redentorista da Província de São Paulo, graduado em História da Igreja pela Universidade Gregoriana de Roma, já trabalha nessa área há muitos anos, tendo lecionado em diversos institutos. Atuou na área de comunicação, sendo responsável pela comunicação institucional e missionária da Província de São Paulo, atualmente é diretor da Rádio Aparecida

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