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Dúvidas Religiosas

Existe impeachment para o papa?

Pe Jose Inacio de Medeiros

Escrito por Pe. José Inácio de Medeiros, C.Ss.R.

16 JUL 2025 - 14H13 (Atualizada em 17 JUL 2025 - 14H17)

Vatican Media / Reprodução

Os brasileiros que nasceram a partir da metade do século XX puderam acompanhar todas as mudanças políticas acontecidas nas últimas décadas.

A partir da instauração da chamada Nova República (1985) tivemos o afastamento de dois presidentes: Fernando Collor de Mello, o primeiro presidente eleito por voto direto após o Regime Militar sofreu o impeachment com dois anos de governo (1992) e a presidente Dilma Rousseff, primeira mulher a governar o Brasil, também foi afastada do poder em agosto de 2016.

O mesmo fato já havia acontecido e pode acontecer em outros países como parte do jogo democrático. Se um presidente não cumprir algum aspecto da lei maior do país, pode sofrer um processo jurídico, perdendo o poder. Em agosto de 1974, diante da iminência do impeachment, Richard Nixon renunciou antes de ser cassado pelo Congresso Norte-Americano. Em alguns países da América Latina, também já aconteceu o impeachment.

Esse fato leva as pessoas a perguntarem: existe a possibilidade do impeachment de um papa? Ele pode ser afastado do poder?

Na Igreja o impeachment não existe

No Código de Direito Canônico, conjunto de normas legais que regem a Igreja Católica, não existe nenhuma cláusula que trate do assunto. Um papa pode se afastar voluntariamente do ofício, como aconteceu com Bento XVI que renunciou ao pontificado, mas a possibilidade de uma Papa ser afastado não existe.

É interessante lembrar que o Vaticano é um país como tantos que existem, mas não funciona como uma democracia representativa, na qual os representantes são eleitos para compor as diversas casas do poder legislativo e executivo, seja ao nível municipal, estadual como federal, onde vereadores, deputados e senadores podem votar para retirar um governante do poder. Na Igreja, que se assemelha mais a uma monarquia, o bispo de Roma tem o “poder pleno e supremo”, não estando sujeito às leis de perda de mandato como as autoridades do poder civil.

No Código de Direito Canônico da Igreja, existe a previsão da possibilidade de renúncia, e a única condição para renunciar ao pontificado é que essa decisão seja tomada livremente, sem pressões externas. Por isso, se houvesse protestos de católicos ao redor do mundo pedindo a saída de um papa, o pontífice não poderia renunciar porque não conseguiria sustentar que essa tenha sido uma resolução espontânea e livre.


Exemplos do passado

Cinco diferentes bispos de Roma caíram entre os séculos IX e XI, por causa de conflitos políticos entre grupos diferentes dentro da Igreja. Ao longo da Idade Média surgiram também pelo menos 40 "antipapas", pessoas que desafiavam o pontífice oficial, reivindicando o título de líder máximo do catolicismo para si.

No início da Idade Moderna a Igreja viveu um período de crise interna conhecido como Cisma da Igreja do Ocidente que durou de 1378 a 1417. Nesse período a Igreja se dividiu, chegando a ser governada por 03 papas – um em Roma, outro em Avignon (França) e outro em Pisa (Itália) – cada um reivindicando a autoridade, o que acabou provocando grande confusão e forte instabilidade na Igreja e na cristandade ocidental.

Para tentar suplantar a divisão da Igreja, com dois papas simultâneos, foi convocado um Concílio a ser realizado em Pisa, no ano de 1409. Este concílio depôs os dois papas e elegeu João XXIII, que estabeleceu sua corte em Pisa. A situação se complicou ainda mais porque os dois papas não aceitaram a deposição e continuaram brigando pelo poder. O Cisma do Ocidente continuou com três papas simultâneos até ser resolvido no Concílio de Constança, em 1417.


Da divisão à conciliação

O tempo do Exílio em Avignon e do Cisma da Igreja Ocidental trouxe muitos prejuízos para a Igreja Católica, que ficou dividida entre os partidários deste ou daquele papa, com sua lealdade variando conforme as alianças políticas e regionais.

Questionando a autoridade do papado criou uma crise de legitimidade, contribuindo no enfraquecendo da Igreja e da fé, sobretudo, dos mais fracos, abrindo caminho para o início do Movimento Protestante que já estava tendo seus primeiros expoentes.

A Igreja, porém, não ficou inerte, tendo sido feitas várias tentativas de resolver o cisma, sobretudo, pela convocação do concílio em Pisa (1409) e Constança (1414-1418) que conseguiu depor os papas rivais, elegendo Martinho V como o único papa reconhecido pela Igreja.

Aqueles que reivindicavam o pontificado, como João XXIII, foram excluídos pela Igreja, não fazendo parte da lista oficial dos 266 homens que sucederam a Pedro como Vigário de Cristo aqui na terra.

Felizmente, desde o século XV não mais aconteceram tentativas de deposição do Papa, e com o Código de Direito Canônico, cuja atual edição é do tempo do pontificado de João Paulo II (1983) a possibilidade de deposição ou impedimento de um papa nunca mais vai acontecer.

add_box 6 Papas com mais idade a governar a Igreja Católica

Escrito por:
Pe Jose Inacio de Medeiros
Pe. José Inácio de Medeiros, C.Ss.R.

Missionário redentorista que atua no Instituto Histórico Redentorista, em Roma. Graduado em História da Igreja pela Universidade Gregoriana de Roma. Atuou na área de comunicação, sendo responsável pela comunicação institucional e missionária da antiga Província Redentorista de São Paulo, tendo sido também diretor da Rádio Aparecida.

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