Notícias

Santo Afonso Maria de Ligório: doutor do justo equilíbrio

O fundador da Congregação do Santíssimo Redentor foi um advogado brilhante e conhecia o equilíbrio entre a misericórdia e o rigor que imperava em sua época

Escrito por Pe. José Inácio Medeiros, C.Ss.R.

07 OUT 2025 - 17H37 (Atualizada em 07 OUT 2025 - 19H48)

Reprodução

Vivemos um tempo de forte polarização e radicalismo e isso tem gerado grande instabilidade nas relações humanas em todos os níveis.

A Pós-Modernidade tem se caracterizado como uma época de extremos que coloca o diálogo e a compreensão mundial em risco.

Essa polarização e extremismo, que também se manifestam fortemente no campo da teologia e no interior da Igreja, fazem com que a pessoa que pensa ou age diferente seja vista como um inimigo a ser evitado.

A realidade de extremismos em que vivemos em nossos tempos, se manifestando no agir humano pessoal e comunitário, mostra mais uma vez a atualidade da doutrina moral de Santo Afonso.

Ele é chamado justamente de “O Doutor do justo equilíbrio”, conforme aparece no livro do historiador e biógrafo redentorista francês, Pe. Theodule Rey-Mermet, CSsR.

Do medo à confiança na benignidade de Deus

Santo Afonso de Ligório foi chamado de "Doutor do justo equilíbrio" por causa de sua Teologia Moral, que se distingue por ter encontrado um equilíbrio entre os extremos do rigorismo e do laxismo, baseando-se na misericórdia e na compreensão da fragilidade humana.

Em seu tempo, muitos confessores, levados pelo rigorismo, obrigavam os penitentes a se absterem dos sacramentos da penitência e da eucaristia.

Outros, levados por um exagero do laxismo, desobrigavam as pessoas de qualquer norma em seu agir moral.

Inicialmente, Afonso de Ligório era também um defensor do rigorismo, corrente que exigia a adoção da mais rígida opinião moral em caso de dúvida. Essa corrente ficou conhecida como "probabiliorismo" em contraposição ao "tuciorismo".

Segundo a doutrina do probabiliorismo, fundada em conceitos filosóficos, teológicos e morais, o conhecimento humano tem um caráter de probabilidade ou possibilidade e jamais de certeza.

O espírito humano só consegue captar proposições prováveis, não completamente seguras, sendo a verdade inalcançável.

A corrente também afirmava que, em questões morais, em que a certeza fosse impossível, qualquer norma de procedimento poderia ser adotada, contanto que fosse considerada provável por percepção clara dos princípios envolvidos, mesmo que outra opinião pudesse parecer ser mais provável.

Chamado de tuciorismo por causa do termo latino “tutior” que significa “mais seguro”, esse ramo da teologia moral afirmava que, na presença de dúvidas morais, a pessoa deveria seguir sempre a solução ou opinião mais certa e favorável à lei.

Conhecido pelo rigorismo, era oposto ao probabiliorismo que admitia a tese apoiada do seguimento de uma opinião provável, embora não necessariamente a mais certa.

Em caso de dúvidas, a pessoa seria obrigada a escolher o caminho ou solução que oferecesse maior segurança e que estivesse mais em conformidade com a lei moral.

A longa experiência de missionário e confessor entre os “cabreiros”, camponeses e moradores dos arrabaldes de Nápoles levou Santo Afonso a uma mudança radical em seu pensamento.

Ele percebeu que uma abordagem baseada quase que exclusivamente no medo era contraproducente para os fiéis, que muitas vezes eram mal formados e pouco esclarecidos, lutando ainda com a "fragilidade da atual condição humana".

Uma teologia que brota da realidade humana

A experiência com os “cabreiros” e deserdados das periferias de Nápoles provocou o nascimento da principal obra de Afonso de Ligório, a Theologia Moralis, na qual propôs um "meio-termo justo" entre um legalismo desumanizante e a tolerância irresponsável.

Para não propor uma teologia infundada que pudesse levar as pessoas ao erro, Afonso pesquisou muito e fundamentou sua obra em milhares de autores.

.:: Obras de Santo Afonso alcançaram mais de 70 idiomas ::.

Com isso, ele se tornou um ferrenho oponente do "adiamento da absolvição" e da recusa da comunhão, uma vez que o Sacramento da Penitência é a principal porta pela qual o penitente pode se encontrar com a misericórdia de Deus.

A famosa máxima resume sua abordagem, ao afirmar: "Olhando para a fragilidade da atual condição humana, nem sempre é verdade que a coisa mais segura é dirigir as almas pelo caminho mais estreito".

A doutrina moral de Santo Afonso que foi reconhecida pela Igreja, ao ponto de declará-lo como Patrono dos Confessores e Moralistas.

Essa questão resultou no sistema chamado de "equiprobabilismo", que permite seguir uma opinião moralmente provável em favor da liberdade humana, mesmo que haja uma opinião contrária igualmente provável, quando uma lei não é suficientemente certa para poder obrigar.

O historiador redentorista Rey-Mermet pontua que a teologia de Afonso, definida por ele como "vivida" e nascida diretamente da experiência do confessionário, teve um enorme impacto, ao ponto de Afonso ser considerado aquele que fez "a mancha de óleo do rigorismo fluir de volta ao catolicismo".

Sua abordagem pastoral, marcada pela razão, experiência e liberdade, dominou a prática confessional e moral da Igreja Católica durante séculos. (Cf. Rey-Mermet, o santo do século das luzes).

Fonte: Instituto Histórico Redentorista

Seja o primeiro a comentar

Os comentários e avaliações são de responsabilidade exclusiva de seus autores e não representam a opinião do site.

0

Boleto

Carregando ...

Reportar erro!

Comunique-nos sobre qualquer erro de digitação, língua portuguesa, ou de uma informação equivocada que você possa ter encontrado nesta página:

Por Pe. José Inácio Medeiros, C.Ss.R. , em Notícias

Obs.: Link e título da página são enviados automaticamente.

Carregando ...