Por Leonardo C. de Almeida Em Artigos Atualizada em 15 JUN 2021 - 11H43

Mãe da Misericórdia, da Esperança e conforto dos migrantes

Conforto Dos Migrantes

No episódio da Visitação, narrado por Lucas (cf. Lc 1,39-56), Isabel, ao perceber que João estremeceu em seu ventre a partir da saudação de Maria, ficou cheia do Espírito Santo e entrou na presença do Senhor: Isabel viu e sentiu em Maria a presença do Altíssimo! Maria é, pois, a nova Arca da Aliança, que contém a Palavra de Deus que irrompe na História. Ela é o “novo e verdadeiro lugar” onde devemos procurar Cristo.

Assim, a Igreja, ao longo dos séculos, com piedade e amor filial à Mãe do Senhor, reconheceu n'Ela um modelo e um refúgio. Nesse sentido, Ambrósio de Milão chama Maria, o Tipo e a Figura da Igreja: representação viva do povo de Deus, nos seus traços de esposa virginal e maternidade fecunda. Assim, os fiéis de todas as nações não cessam de recorrer a Maria, encontrando, em seus braços maternais, misericórdia, esperança e conforto – invocações recentemente acrescidas à Ladainha de Nossa Senhora, com inspiração profética, pelo Papa Francisco, conforme comunicado pela Congregação para o Culto Divino e Disciplina dos Sacramentos em junho de 2020.

As ladainhas ou preces litânicas expressam a oração suplicante, confiante e laudatória da comunidade eclesial ao Senhor que é honrado na Virgem Maria, nos mártires, nos apóstolos, nos santos e nos anjos. As muitas ladainhas foram se desenvolvendo pelas veredas da História litúrgica e devocional da Igreja surgida das experiências vividas pelos discípulos de Jesus em comunhão com Ele e os irmãos. A tradicional Ladainha Lauretana da bem-aventurada Virgem Maria (normalmente recitada ao final da oração do Rosário ou do Terço) e outras ladainhas marianas derivadas dela são constituídas por petições a Nossa Senhora que exprimem o quanto o povo de Deus, em suas necessidades, confia na potente e amorosa intercessão de sua Mãe, a quem canta os louvores e de quem proclama as verdades da fé (os dogmas marianos).

Caminho certeiro para o encontro com Cristo, Maria passa a ser invocada, então, na Ladainha, também como:

1. “MÃE DA MISERICÓRDIA” (invocação inserida após “Mãe da Igreja”);

2. “MÃE DA ESPERANÇA” (inserida após “Mãe da Divina Graça) e

3. “CONFORTO/AJUDA DOS MIGRANTES” (inserida após “Refúgio dos Pecadores”).

Conforme explicado pelas autoridades vaticanas, são invocações ligadas à atualidade, à realidade da vida.

Reprodução Vatican News
Reprodução Vatican News


A sensibilidade do Papa Francisco
, sempre pulsante em seu pontificado, mais uma vez, torna-se evidente. Sinal do Bom Pastor, o Bispo de Roma está atento às necessidades e aos prantos da humanidade e de nossa Casa Comum. Tal qual o fizeram outros papas, Francisco nos recorda, com esses acréscimos à Ladainha, que, oferecida por Cristo aos pés da Cruz como Mãe da Humanidade (cf. Jo 19,25-27), Maria acolhe os que a Ela invocam com confiança.

À medida que nos ama e nos acolhe sem julgamentos, Maria concretiza para nós o amor misericordioso do Pai, que é bom, clemente, fiel, amor, paciência e perdão (cf. Sl 86/85). Eis a MÃE DA MISERICÓRDIA, que acolhe, abraça, afaga, ampara, integra. Essa invocação nos remete, na verdade, a outros tantos títulos marianos já conhecidos e que revelam a mesma realidade amorosa: Nossa Senhora da Misericórdia, Nossa Senhora das Mercês e a própria oração da “Salve-Rainha”. Também atualiza e recorda à Igreja o Jubileu Extraordinário da Misericórdia, celebrado de 2015 a 2016.

Invocar Maria como MÃE DA ESPERANÇA é reavivar em nós uma das virtudes teologais, a esperança. Embora, num primeiro momento, “esperança” advenha do verbo “esperar” (aguardar), a melhor interpretação, neste caso, seria “confiar”: “Quanto a nós, nós esperamos no Senhor: ele é nosso auxílio e nosso escudo” (Sl 33/32). Maria, Mãe da Esperança, dessa forma, nos aponta os céus. Diante da enfermidade, do caos, do desemprego, da injustiça, da fome, da violência, confiantes no amor providente do Pai, esperamos tempos melhores e, por fim, a eternidade junto de Deus. Auxiliados por Nossa Senhora, esperamos porque cremos! E o título “Mãe da Esperança” já era há muito rezado na vida eclesial em outras invocações marianas, como Nossa Senhora da (Boa) Esperança e Nossa Senhora da Expectação (do Ó).

Somos todos migrantes nesta vida! Peregrinamos, no mundo, rumo à vida que não passa. Maria, caminheira e peregrina, é nosso consolo perene: “CONFORTO/AJUDA DOS MIGRANTES”. Não é de hoje que o fenômeno da (i)migração acontece. A própria Virgem Santíssima, além de tantas caminhadas e peregrinações que realizou (como na Visitação a Isabel ou nas idas a Jerusalém com sua família), teve de fugir às pressas com Jesus e José para o Egito (cf. Mt 2,13-23).

No presente século, especialmente, o cenário econômico, político e social tem forçado muitos irmãos, sobretudo os mais pobres, a realizarem o processo (i)migratório como alternativa urgente para a garantia (mínima) da vida. A opressão que os obriga a sair de sua terra varia muito: fome, seca, miséria, guerra, preconceito, desastres ambientais e descuidos com o meio ambiente, fenômenos naturais, perseguição política, ideológica ou religiosa etc. Sabemos como é dura sua viagem e, mais ainda, sua chegada numa terra desconhecida e, por vezes, não acolhedora. Hoje, particularmente, a vida perece e é ameaçada pela pandemia gerada pelo novo Coronavírus. Essa (i)migração nossa e de tantos irmãos nos recorda, conforme dissemos, que somos peregrinos na terra. Guiados pelas mãos solidárias de Maria – Nossa Senhora dos Migrantes, Nossa Senhora do Desterro, Nossa Senhora do Caminho, Nossa Senhora da Estrada – que experimentou nossas dores, somos ajudados e encorajados a prosseguir a caminhada, resistentes ao pecado e lutando contra a opressão, na busca daquilo “que Deus tem preparado àquele que em vida o amar” (Ir. Míria T. Kolling).

Leonardo C. Almeirda
Leonardo C. Almeirda
Ilustração do autor


Na companhia de Maria, Mãe da Misericórdia, Mãe da Esperança e Conforto dos Migrantes, enfrentamos a noite escura (cf. Is 60,2-4). Em meio às trevas do sofrimento e do pecado, Ela, repleta de luz, dá-nos um norte: tem a lua sob os pés, estrelas sobre a cabeça e está vestida de sol (cf. Ap 12,1)! E chegando o novo dia, o deserto irá florir, a alegria irá voltar, a pandemia irá cessar... Por isso, com o coração unido ao de Maria, Mãe de tantos nomes que nos servem como verdadeiro bálsamo, a Ela cantamos: “Maria, Mãe de Deus e nossa Mãe, caminhaste rumo ao teu Senhor! Vem olhar nosso caminho para que ninguém ande sozinho!” (Ir. Isabel / Frei Fabreti, ofm).

Leonardo Caetano de Almeida
Associado da Academia Marial de Aparecida

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