Pontmain é um pequeno vilarejo francês (comuna francesa) situado a duzentas milhas de Paris, no departamento da Mayenne, na região Pays de La Loire. Hoje, Pontmain é um importante centro de peregrinação e culto à Mãe de Deus. O local foi o palco da manifestação do amor divino a um povo sofrido e apreensivo com os horrores da guerra franco-prussiana. Um amor manifestado através da presença amorosa da Virgem Mãe naquela longínqua noite de 17 de janeiro de 1871.
O trabalho incansável do padre Guérin, grande devoto da Mãe de Deus e pároco da Matriz local há trinta e cinco anos em reunir o povo para a reza do Santo Rosário todos os dias fez com que os pontaminois também cultivassem uma ardente devoção à Virgem Maria. Os fiéis que sempre acorriam para a oração mariana com fé e devoção, naquela tarde de 15 de janeiro de 1871 estavam apreensivos e com medo. A razão da apreensão e do medo era causado pelos horrores da guerra entre a França e a Alemanha. Circulava no vilarejo a notícia de que o exército prussiano, tendo chegado às portas de Laval, já se aproximava de Pontmain. A França se encontrava devastada pela Guerra Franco-Prussiana que ocorreu entre os anos de 1870 a 1871. O conflito contribuiu para a formação de alguns impérios e foi considerado um dos mais importantes conflitos do século XIX.
"Essa guerra, como o próprio nome indica, foi travada entre o Império Francês e o Reino da Prússia, governados, à época, por Napoleão III e Guilherme I, que tinha como primeiro-ministro Otto von Bismark, respetivamente. A Guerra Franco-Prussiana estava permeada pela atmosfera do Nacionalismo, ideologia política que levou à formação dos grandes impérios do século XIX, como o inglês, o francês, o italiano, o alemão, o japonês e o americano."¹
Dois dias após aquela tarde de apreensão e medo, em 17 de janeiro, na casa da família Barbadette, Cesar Barbadette e seus dois filhos Joseph, na época com dez anos, e Eugéne de doze anos, conversavam sobre a ausência do filho mais velho que havia partido para a guerra a fim de defender a pátria. Ao término daquele encontro familiar, Cesar Barbadette, se dirigiu ao celeiro com os dois filhos para alimentar os animais que sofriam com as baixas temperaturas.
O relógio marcava por volta de cinco e quarenta e cinco da tarde quando os irmãos Eugène Barbadette e Joseph terminavam juntos de alimentar os animais. Eugène ao olhar pela janela do celeiro notou que algo estranho acontecia no céu. Olhando fixamente para o céu na parte que ficava sobre a casa do vizinho, notou que não haviam estrelas como no restante do céu. Eugène saiu do celeiro acompanhado do seu irmão quando de repente viram Nossa Senhora sorrindo para eles.
Joseph, tempos depois já ordenado sacerdote relatou o que viu nas seguintes palavras:
"Ela era jovem e alta, vestida de um manto de azul profundo… Seu vestido era coberto de estrelas douradas brilhantes. As mangas eram amplas e longas. Ela usava sandálias do mesmo azul do vestido, ornamentadas com arcos de ouro. Na cabeça havia um véu preto cobrindo-lhe a metade da testa, escondendo os seus cabelos e as orelhas e caindo sobre os seus ombros. Acima dele, uma coroa semelhante a um diadema, maior na frente e alargando-se para os lados. Uma linha vermelha circundava a coroa ao meio. Suas mãos eram pequenas e estendiam-se em nossa direção, como na medalha milagrosa. Seu rosto tinha a mais suave delicadeza e um sorriso de doçura inefável. Os olhos, de ternura indizível, estavam fixos em nós. Como uma verdadeira mãe, ela parecia mais feliz em olhar para nós do que nós em contemplá-la” ².
Pouco tempo se passou desde o início da aparição quando duas jovens: Françoise Richer, de onze anos, e Jeanne-Marie Lebossé, de nove anos, juntaram-se a Joseph e Eugène. As duas jovens também vislumbravam a beleza da esplendorosa Senhora. Os quatro videntes cheios de alegria e entusiasmo com a aparição acabaram por chamar a atenção do pequeno vilarejo na época de 500 habitantes, que se juntaram aos videntes na propriedade dos Barbadettes; uma verdadeira multidão. Os habitantes que acorreram para aquele local, em sua maioria não acreditavam no que as crianças relatavam pois somente elas podiam ver a esplendorosa Senhora. Os pais de Eugène e Josph apenas viam três estrelas que formavam um triângulo. Diante dos fatos, o padre Guérin foi chamado ao local:
"embora nada visse, sentiu-se tomado pela graça e entoou o hino nascido dos lábios da própria Rainha do Céu: o Magnificat. Quando todos cantavam, as crianças viram aparecer uma flâmula abaixo dos pés de Nossa Senhora, na qual mãos invisíveis escreviam em letras de ouro: 'Rezem, meus filhos'. E, enquanto a multidão prosseguia com o cântico, foi acrescentada mais uma misteriosa afirmação: 'Deus logo vos ouvirá'. Em certo momento notaram uma grande luz, que brilhava mais que o sol e, quando se pensava que a Mãe de Deus partiria, uma derradeira frase foi desenhada a seus pés: 'Meu Filho se comoveu com vossas súplicas'. Diante da misteriosa mensagem, todos mantiveram-se em silêncio, rezando."³
O silêncio profundo que envolvia aquela atmosfera mística foi quebrado quando uma voz se levantou na multidão para entoar um canto regional dedicado à “Virgem Mãe da Esperança”. No instante em que o canto teve início, a esplendorosa Senhora ergueu suas mãos em direção ao céu fazendo movimentos delicados com os dedos e dirigiu aos videntes um olhar de ternura maternal.
Ao dirigir este olhar aos videntes, eles notaram no semblante da Virgem uma leve tristeza. Enquanto se entoava a estrofe “Meu doce Jesus, agora é o tempo de dar o vosso grande perdão aos nossos corações endurecidos!” A Virgem apontou para a cruz vermelha que trazia pendente sobre o peito. Na misteriosa cruz se podia vislumbrar nitidamente o Nosso Senhor Jesus Cristo. Acima, uma faixa na cor branca trazia uma inscrição, era o nome de Jesus Cristo, que estava inscrito na cor vermelha no mesmo tom da cruz. Ao contemplar a Senhora do Céu os videntes podiam ver que seus lábios se moviam em constante oração.
"Por ordem do pároco, todos permaneceram em vigília até o fim da aparição, que se prolongou por mais de três horas. Além dos dois irmãos Barbadette e das duas meninas, relatos populares narram que mais três crianças viram Maria Santíssima no céu de Pontmain. Eram Eugène Friteau, de seis anos, Auguste Avice, dois anos mais novo, e a filhinha do sapateiro que, sendo ainda criança de colo, não parava de pular nas mãos da mãe, estendendo seus bracinhos para o ar como se quisesse ir para junto de Nossa Senhora."4
Com o término do canto regional, os moradores começaram a entoar “Ave Maris Stella“. Nesse momento o crucifixo vermelho sobre o peito da Virgem desapareceu e seu sorriso voltou a iluminar seu rosto, dissipando o semblante tristonho. Um véu branco a cobriu, e a aparição se encerrou. O relógio marcava nove horas da noite. A aparição havia durado mais de três horas.
A Santa Mãe de Deus transmitiu esperança em sua aparição a todo aquele povo que estava amedrontado com o avanço da guerra em direção a Pontmain e interviu milagrosamente para que não chegasse àquela região que sempre cultivou a devoção ao Santo Rosário. Naquela mesma noite, o general Karl Von Schmidt, que era comandante do exército alemão, recebeu uma ordem para recuar com o avanço das tropas em direção a Pontmain. As tropas pararam o avanço em direção ao vilarejo às cinco e quarenta e cinco da tarde, o exato horário do início da aparição. Há um registro de que Schmidt teria dito, na manhã do dia 18: “Não podemos avançar. Mais adiante, na direção da Bretanha, há uma invisível Senhora barrando o caminho”. Em, 10 de maio de 1871, França e Alemanha assinaram um tratado de paz que muitos começaram a chamar de “O Milagre de Pontmain”. Uma série de investigações foram instauradas pelas autoridades eclesiásticas para confirmar a autenticidade dos fatos em Pontmain. Entrevistas individuais com os videntes e exames médicos feitos nos mesmos comprovaram que não sofriam de nenhum tipo de alucinação, atestando assim inteira veracidade dos fatos que foram relatados no processo de investigação
Em, 2 de fevereiro de 1872, a aparição da Virgem Maria foi aprovada como autêntica e confirmada pelo Papa Pio XI durante uma missa solene onde Casimir-Alexis-Joseph Wicart, Bispo de Laval afirmou: "Nós julgamos que Maria Imaculada, Mãe de Deus, apareceu verdadeiramente em 17 de janeiro de 1871 à Eugène Barbadette, Joseph Barbadette, Françoise Richer e Jeanne-Marie Lebosse , na aldeia de Pontmain."5
Em 1900 a igreja no local da aparição foi consagrada, sendo cinco anos mais tarde, em 1905, elevada pelo Papa Pio X à categoria de Basílica. Em 1908, a Basílica de Nossa Senhora da Esperança de Pontmain foi solenemente dedicada na presença de dois arcebispos, quatro bispos, seiscentos sacerdotes e 1.500 peregrinos. Em 1920, a vidente Jeanne-Marie Lebosse, que se tornou religiosa, afirmou que havia mentido, retratando-se ao dizer que nunca tinha visto a aparição. A retratação da vidente foi mantida em segredo até o ano de 1971, quando foi descoberto pelo padre Renne Laurentin. Em 1932, o Papa Pio XI concedeu um ofício e missa própria em honra de Nossa Senhora da Esperança de Pontmain. Por autorização do Cardeal Pacelli, que tempos depois se tornou o Papa Pio XII, aprovou-se um decreto de que a Imagem da Mãe da Esperança fosse homenageada com uma coroa de ouro. Em 24 de julho de 1934, a imagem foi solenemente coroada pelo Cardeal Verdier na presença de arcebispo, bispos, sacerdotes e leigos. Os muitos peregrinos que hoje visitam a Basílica de Pontmain recorrem à intercessão de Maria Santíssima como sendo ela o sinal de Esperança em meio às guerras.
Vinícius Aparecido de Lima Oliveira
Associado da Academia Marial de Aparecida
Bibliografia:
1. FERNANDES, Cláudio. Guerra Franco-Prussiana. Mundo Eduação, 2022. Disponível em: https://mundoeducacao.uol.com.br/historiageral/guerra-franco-prussiana.. Acesso em: 07 ago. 2022.
2. A noite estrelada em que Nossa Senhora impediu um exército: “Não podemos avançar. Há uma Senhora barrando o caminho”. Aleteia, 2022. Disponível em: https://pt.aleteia.org/2017/02/23/a-noite-estrelada-em-que-nossa-senhora-impediu-um-exercito-nao-podemos-avancar-ha-uma-senhora-barrando-o-caminho/. Acesso em: 07 ago. 2022.
3. FERREIRA, Angelis David. Nossa Senhora da Esperança. Arautos do Evangelho, 2022. Disponível em: https://www.arautos.org/secoes/artigos/arte-e-cultura/historia-da-igreja/nossa-senhora-da-esperanca-282138. Acesso em: 07 ago. 2022.
4. FERREIRA, Angelis David. Nossa Senhora da Esperança. Arautos do Evangelho, 2022. Disponível em: https://www.arautos.org/secoes/artigos/arte-e-cultura/historia-da-igreja/nossa-senhora-da-esperanca-282138. Acesso em: 07 ago. 2022.
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