Os evangelhos canônicos relatam as aparições de Jesus ressuscitado a Maria Madalena¹, aos onze discípulos², aos dois discípulos de Emaús³, a Tomé4 e a Pedro e outros discípulos, no mar de Tiberíades5.
Entretanto, nenhum evangelista faz qualquer menção a alguma aparição de Jesus à sua Mãe. Não obstante, é lícito conjecturar que a primeira pessoa a quem Nosso Senhor teria aparecido após a sua gloriosa ressurreição seria sua Mãe, a Santíssima Virgem Maria.
Aquela que, por obra do Espírito Santo, gerou o Príncipe da vida em seu ventre puríssimo, imaculado e virginal; aquela que, no encontro com Isabel grávida de João Batista, entoou o Magnificat; aquela que deu à luz o Rei dos reis e O reclinou numa manjedoura; aquela que acolheu na fé as palavras de Simeão, o qual profetizara que uma espada de dor traspassaria sua alma; aquela que, ao lado do esposo José e do Divino Filho, teve que fugir para o Egito... Aquela Mãe não mereceria a graça de ver o seu Filho ressuscitado?
Aquela que alimentou e educou seu Filho e O ensinou a ler e escrever; aquela que procurou com aflição no templo o Filho que se havia perdido há três dias; aquela que O contemplava exercendo o ofício de carpinteiro, junto com o pai José; aquela que encontrou o Servo sofredor a caminho do Calvário; aquela que permaneceu junto à cruz de seu Filho; aquela que acolheu em seu colo Jesus deposto da cruz; aquela que depositou no sepulcro o corpo de seu amado Filho... Aquela Mãe não mereceria a graça de ver o seu Filho ressuscitado?
Aquela que foi concebida e preservada sem a mancha do pecado original, aquela cuja virgindade permaneceu incólume antes, durante e depois do parto, aquela que é a Mãe de Deus deveria aguardar a sua Assunção ao céu para poder ver seu Filho ressuscitado?
Santo Afonso Maria de Ligório, em continuidade com a Sagrada Tradição, não hesita em afirmar o seguinte:
“Entre as muitas coisas que Jesus Cristo fez e os Evangelistas passaram em silêncio, deve, com certeza, ser contada a sua aparição a Maria Santíssima logo em seguida à sua ressurreição. Nem necessidade havia de referi-la, porquanto é evidente que o Senhor, que mandou honrar pais e mães, foi o primeiro a dar o exemplo, honrando sua Mãe com a sua presença visível. Demais, era de inteira justiça que o divino Redentor glorificado fosse, antes de mais ninguém, visitar a Santíssima Virgem; a fim de que, antes dos outros e mais do que estes, participasse da alegria da ressurreição quem mais do que os outros participara da paixão.6”O teólogo dominicano francês Marie-Joseph Lagrange, em consonância com o pensamento do santo redentorista, destaca:
“A piedade dos filhos da Igreja tem por certo que Cristo ressuscitado apareceu primeiro à sua Santíssima Mãe. Ela O alimentou com seu leite, guiou durante sua infância, por assim dizer, O apresentou ao mundo nas Bodas de Caná, e não tornou a aparecer senão aos pés da Cruz. Mas Jesus consagrou só a Ela e a São José trinta anos de sua vida oculta: como não dedicaria só a Ela o primeiro instante de sua vida oculta em Deus? Não havia interesse em divulgar esse dado nos Evangelhos; Maria pertence a uma ordem transcendente, na qual está associada, como Mãe, à paternidade do Pai, em relação a Jesus. Submetamo-nos à disposição do Espírito Santo, deixando esta primeira aparição de Jesus às almas contemplativas”.7
Quem se dispuser a unir-se a essas almas através da meditação do primeiro mistério glorioso do Rosário – a triunfante ressurreição de Nosso Senhor Jesus Cristo – poderá contemplar como terá sido extremamente emocionante o encontro entre Mãe e Filho. Que santos colóquios não terão Eles estabelecido?
Com quanto regozijo e humildade a Mãe poderia ouvir do Filho ressuscitado estas consoladoras palavras: “Salve a ti, que levaste a vida a todo o mundo! Salve, minha Mãe! Minha santa arca. Salve, minha Mãe, minha cidade, minha morada. Salve, minha veste de glória, da qual me revesti quando vim ao mundo. Salve meu cântaro cheio de água santa. Salve a ti, que em teu seio trouxeste a vida ao mundo inteiro. [...] Todo o paraíso se alegra pelo teu merecimento. Asseguro-te, Maria minha Mãe, quem te ama, ama a vida”.8
Nunca cessem os fiéis devotos de saudar com grande júbilo tão excelsa Mãe, particularmente no tempo pascal, com a tradicional oração Regina Coeli:
“Rainha do céu, alegrai-vos, aleluia! Pois o Senhor que merecestes trazer em vosso seio, aleluia! Ressuscitou, como disse, aleluia! Rogai a Deus por nós, aleluia! Alegrai-vos e exultai, ó Virgem Maria, aleluia! Porque o Senhor ressuscitou verdadeiramente, aleluia!”
Paulo César de Lima Rosa Corrêa
Associado da Academia Marial de Aparecida e pós-graduando em Mariologia pela Faculdade Dehoniana em parceria com a Academia Marial
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1 Mt 28,1-10, Mc 16,9-11 e Jo 20,11-18
2 Mt 28,16-20, Mc 16,14-20, Lc 24,36-53 e Jo 20,19-23
3 Lc 24,13-35
4 Jo 20,24-29
5 Jo 21,1-14
6 CRISTINI, P. THIAGO MARIA. Meditações para todos os dias e festas do ano, tiradas das obras obras ascéticas de Santo Afonso Maria de Ligório, Bispo e Doutor da Santa Igreja. Tradução de P. João de Jong. Friburgo em Brisgau: Herder, 1921, p. 17. (t. 2).
7 LAGRANGE, OP, Marie-Joseph. L’Évangile de Jésus-Christ. Paris: J. Gabalda, 1928, p. 586.
8 RAMOS, PE. LINCOLN (org.). Fragmentos dos Evangelhos Apócrifos. Petrópolis: Vozes, 1990, p. 206 (t. I). (Bíblia Apócrifa – A. Novo Testamento – Evangelhos).
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