Por Ciro Leandro Costa da Fonsêca Em Palavra do Associado Atualizada em 16 SET 2020 - 11H30

O maior Pai do mundo

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No Brasil, país onde o Criador salpicou sua paisagem natural com muitos rios, as águas são portadoras de bênçãos.

Havia um rio no Goiás velho, um córrego chamado de Barro Preto. No ano de 1840, um casal de lavradores saiu para cuidar da terra e no caminho tiveram uma surpresa: Constantino Xavier Maria e Ana Rosa Xavier encontraram, nas margens do rio Barro Preto, um medalhão esculpido com a imagem da Santíssima Trindade, o Pai, o Filho e o Espírito Santo coroando a Virgem Maria, a mãe de Jesus.

No trabalho da plantação, a enxada deu o som do achado, soou ao tocar o medalhão, como um sino de igreja que anunciava novos tempos.

O rio ficava a vinte e dois quilômetros do município de Campininha das Flores.

O pequeno medalhão, de meio palmo de circunferência, foi levado para a casa dos lavradores como um tesouro do céu encontrado na terra. A família do casal e os vizinhos começaram a rezar para a Santíssima Trindade representada na medalha.

Com o passar do tempo, no correr do século XIX, construíram a primeira casa da Santíssima Trindade, uma humilde capelinha coberta de folhas de buriti. Como as pessoas se ajuntavam cada vez mais para rezar, foi preciso construir uma capela maior as margens do córrego Barro Preto, e outra ainda maior em 1876.



Os devotos aumentavam, no início do novo século XX, em 1912, foi construído o primeiro Santuário do Divino Pai Eterno, como ficou conhecida a imagem retratada no medalhão. Mais tarde ficou conhecido como Santuário Velho, após a construção do novo Santuário em 1994.

Esta história mostra como surgiu no Goiás velho a devoção ao Divino Pai Eterno. A imagem da Santíssima Trindade do medalhão foi esculpida em madeira pelo artesão Veiga Valle que morava na cidade de Pirenopólis, que também fica no Goiás. O lavrador Constantino, que encontrou o medalhão, pagou a imagem com o dinheiro que tinha e ainda deu o seu cavalo. Ele voltou a pé até a Vila de Barro Preto numa caminhada de mais de cem quilômetros.

Hoje milhares de peregrinos caminham de diversas formas até o santuário para ver a imagem. Ela representa uma comunidade harmoniosa, onde não há disputa pelo poder. A Santíssima Trindade são três pessoas que, diferentes, comungam da mesma missão de tornar o mundo um lugar melhor de se viver e salvar a humanidade para que um dia festeje no céu. Para essa missão não excluíram a participação do ser humano, representado por Maria na imagem que, coroada, representa a elevação que a Trindade deseja dar aos habitantes da terra. Com o seu nome foi batizada a cidade que hoje recebe os devotos e os romeiros, como memória da devoção iniciada pelo casal de trabalhadores. Suas vidas ganharam um novo sentido após o encontro da imagem do Pai Eterno.

A poetisa Cora Coralina cresceu ouvindo as histórias das romarias ao Divino Pai Eterno, a pé ou em carros de boi. Lá o rebanho de Deus podia beber da fonte da água da viva. A esperança se renovava como a água do rio onde a imagem foi encontrada.

O poeta pantaneiro Manoel de Barros viu a benção do Divino Pai Criador nas coisas da natureza, nas plantas, bichos e pedras, como também na voz dos andarilhos que contavam histórias. Muitos eram romeiros do Pai Eterno. Viu na fé e na poesia fazedores de amanhecer, uma maravilha usada pelos poetas. Para o poeta, em Trindade o caminhante pode passar as mãos no cabelo de Deus. Pode ouvir a sua voz, sentir o seu aconchego, conhecer a memória da devoção e visitar a casa do Maior Pai do mundo. O sopro divino de Deus move a história.

Ciro Leandro Costa da Fonsêca
Doutor em Letras pela UERN
Associado da Academia Marial de Aparecida
Estudioso da literatura, memória e religiosidade populares

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