Comunicação

É preciso ver e escutar para falar com o coração

Mariana Mascarenhas

Escrito por Mariana Mascarenhas - Redação A12

21 MAI 2023 - 08H10 (Atualizada em 12 JUN 2023 - 08H16)

Night_Lynx/Shutterstock

Para celebrar o 57º Dia das Comunicações Sociais neste ano de 2023, o Papa Francisco, assim como ocorreu nos anos anteriores, vem nos agraciar com suas sábias palavras, ao nos mostrar os desafios e questionamentos voltados para temas da comunicação. Assim, o pontífice nos convida a falar com o coração para que possamos testemunhar a verdade no amor, baseado na leitura de Efésios (4,15).

Nos dois últimos anos, fomos chamados pelo Papa a sair de nossa zona de conforto para ver as distintas realidades existentes e, a partir daí, escutar o clamor do próximo. Eis um processo fundamental para que cheguemos à etapa de nos comunicarmos com o coração. Afinal, só conseguiremos nos expressar de maneira sincera, gentil e amorosa, se antes tivermos aberto nossos corações e mentes para ver o contexto em que o outro está inserido e para escutá-lo verdadeiramente. A partir de então, com o espírito já renovado, conseguiremos falar ao próximo, fazendo ecoar a mensagem que vem do nosso coração.

Como nos diz o Papa Francisco em sua mensagem para o Dia das Comunicações Sociais: “Foi o coração que nos moveu para ir ver e escutar, e é o coração que nos move para uma comunicação aberta e acolhedora”. Assim, se não nos conectarmos com o nosso “eu” de modo profundo e verdadeiro, descendo de nossos pedestais para nos libertarmos de todo e qualquer tipo de egoísmo, preconceito e discurso de ódio, estaremos fadados a sermos seres superficiais, incapazes de sustentar um diálogo profundo e sintonizado com o outro.

Leia Mais57º Dia Mundial das Comunicações Sociais 2023: “Falar com o coração”Escutar com o coração: quando Deus e a humanidade se fazem presentesComo escutar com amor e ouvir com o coração?Essa sintonia ocorre com aqueles que não temem ver e testemunhar a verdade. Esse é o programa do cristão, “um coração que vê”, diz o pontífice se referindo às palavras proferidas por Bento XVI. E o Papa Francisco continua: “Trata-se de um coração que revela, com o seu palpitar, o nosso verdadeiro ser e, por essa razão, deve ser ouvido. Isto leva o ouvinte a sintonizar-se no mesmo comprimento de onda, chegando ao ponto de sentir no próprio coração também o pulsar do outro”.

Vejamos quão profundas são tais palavras na descrição de uma comunicação tão sintonizada que permite ao ouvinte sentir o pulsar daquele que fala, ou seja, compreender a mensagem em sua essência. E para que possamos nos comunicar de maneira tão assertiva e interligada, chegamos ao segundo tópico da mensagem do pontífice: a importância de comunicar cordialmente.

“Quem assim fala, ama o outro, pois preocupa-se com ele e salvaguarda a sua liberdade, sem a violar.”

Maria Marganingsih/ Shutterstock
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Essa afirmação do Papa reforça o quão fundamental é a priorização da gentileza no momento de se dirigir ao próximo. Não se trata, porém, de um comportamento puramente formal, mas de uma amabilidade vinda de nosso interior. Aquele que ama, cuida, e esse cuidado se manifesta em cada gesto nosso, incluindo a forma como dialogamos com o outro. O pontífice exemplifica com a maneira de o Filho de Deus conversar com os discípulos de Emaús.

“A eles, Jesus ressuscitado fala com o coração, acompanhando com respeito o caminho da sua amargura, propondo-Se e não Se impondo, abrindo-lhes amorosamente a mente à compreensão do sentido mais profundo do sucedido”.

Eis outra questão essencial para o diálogo verdadeiro: é preciso propor, sem se impor. Um verdadeiro desafio, especialmente quando estamos diante daqueles que não pensam como nós, ou ainda não entenderam os verdadeiros propósitos de Deus em nossas vidas. E Jesus se depara com tal situação diante da tristeza dos discípulos de Emaús, que acreditavam que o Mestre havia morrido. Mas o Filho de Deus, ao invés de lhes chamar sua atenção para tal incompreensão, usa de toda sua paciência e bondade para lhes mostrar a verdade.

Tal exemplo tão nobre parece estar cada vez mais distante de nós, em uma sociedade tão polarizada e marcada por discursos de ódio, em que pessoas de opiniões diferentes se tornam inimigas mortais e não conseguem romper suas bolhas, cegas por suas próprias crenças. Corações fechados que não se abrem uns aos outros.

O pontífice segue sua mensagem citando as palavras de São Francisco de Sales, Doutor da Igreja e bispo de Genebra no século XVII: “o coração fala ao coração”. Considerada uma de suas afirmações mais célebres, ela inspirou gerações de fiéis para a promoção de um diálogo pacificador, manso e humano, característico de Sales, especialmente quando ele dialogava “com quem se lhe opunha”, o que fez dele uma “extraordinária testemunha do amor misericordioso de Deus”.

E o Papa também manifesta seu desejo de uma comunicação eclesial que saiba “deixar-se guiar pelo Espírito Santo, gentil e ao mesmo tempo profética” e que priorize a relação com Deus e o próximo, especialmente o mais necessitado, estando mais preocupado “em acender o fogo da fé do que em preservar as cinzas duma identidade autorreferencial”. Afinal, é no olhar e cuidado com o próximo que realmente vemos e escutamos a Deus, e não em nossas bolhas repletas de teorias e vazias de humanidade. É preciso uma “comunicação, cujas bases sejam a humildade no escutar e o desassombro no falar e que nunca separe a verdade do amor”.

Por fim, o pontífice ressalta a linguagem de paz para uma comunicação que brote do coração e não do hábito de desrespeitar o adversário por meio de atributos humilhantes: “Do coração brotam as palavras certas para dissipar as sombras dum mundo fechado e dividido e construir uma civilização melhor do que aquela que recebemos”. Que abramos cada vez mais nossos corações para um diálogo verdadeiro e profundo.

Escrito por
Mariana Mascarenhas
Mariana Mascarenhas - Redação A12

Jornalista e Mestra em Ciências Humanas. Atua como Assessora de Comunicação e como Articulista de Mídias Sociais, economia e cultura.

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