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Jesus: Filho desatento, indiferente e omisso?

Pe. Domingos Sávio traz uma reflexão acerca de uma súplica

Escrito por Pe. Domingos Sávio da Silva, C.Ss.R.

22 SET 2017 - 14H50 (Atualizada em 15 SET 2023 - 17H39)

Giovanni Bernardino Azzolino/Wikipedia

Há tempo me encasqueta uma expressão, mais precisamente uma súplica, que a tradição nos tem injetado na mente e que nós, de nossa parte, irrefletida ou inocentemente, estamos reforçando, consolidando.

Acompanhe comigo a minha reflexão! 

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De um lado, tenho por mim que ninguém de nós nem sequer duvida de expressões do Livro Sagrado que nos apresentam o Filho Unigênito como Alguém que, em síntese, se revelou, em sua experiência humana, como a própria encarnação da obediência absoluta, incondicional, irrestrita ao Pai. Ancorada na Palavra, a profissão de fé que nos brotaria espontânea do mais íntimo poderia ser: “e a obediência se fez carne e veio armar tenda em nós!”

Na contramão da desobediência primordial (Gn 3,6) que nos abriu as portas da morte (Sb 2,24), Paulo nos apresenta a obediência “até a morte e morte de cruz” (Fl 2,5 ss.) do “Primogênito numa multidão de irmãos” (Rm 8,29) como o ato redentor que mereceu a resposta "ressuscitante" do Pai, abrindo-nos as portas da eternidade (oração coleta do domingo de Páscoa).

Jesus faz-se o Filho amado no qual o Pai inteiramente se compraz exatamente por sua obediência amorosa ou amor obediente que o leva a pôr o Pai e seu projeto salvador para a humanidade, acima até mesmo de si e de sua própria vida.

E... de um lado, voltando à tecla inicial e tendo por pano de fundo esse testemunho inconteste da Escritura, causa-me estranheza, embaraço teológico e incômodo à fé ter que rezar – quando na presidência do ato de piedade – ou ter que ouvir de outro que o presida, estas palavras ou outras afins a estas: "Senhor, que curastes tantos enfermos, se for da vontade do Pai, restituí a saúde aos nossos irmãos que padecem!”

Se for da vontade do Pai!

A meu ver, seria possível então que houvesse alguma vontade do Pai que o Filho não estaria fazendo ou não a levando em conta. Não parece também a você muito estranho, ou mesmo impossível, inimaginável? Seria possível uma vontade do Pai que não fosse imediata e necessariamente cumprida por esse Seu Filho, encarnação da própria obediência?

Leia MaisOração a Santo Afonso nas dores de artrite e colunaO que dizem as tentações da oração do Pai-NossoSe algo fosse vontade do Pai, não bastaria isso, para ser cumprido imediatamente pelo Filho? Haveria ainda necessidade, ou mais, possibilidade de eu Lhe pedir que a cumprisse?

Seria possível eu na culpa gerado e na desobediência concebido por minha mãe (Sl 51,7) – lembrar a esse Filho, sugerir-Lhe, ou pior ainda, suplicar-Lhe que Se ponha a cumprir essa suposta vontade do Pai, à qual Ele estaria negando Sua prontíssima obediência? Teria eu a mínima chance de o surpreender nessa falha, de fato impossível?

Mas, não! É o próprio Espírito que, por mãos humanas, faz o Filho aplicar a si mesmo e a suas atitudes, as palavras do Salmo, no que cremos inabalavelmente: “Não quiseste vítima nem oferenda, mas formaste um corpo para mim. Não foram do teu agrado holocaustos nem sacrifícios pelo pecado. Então eu disse: Eis que vim, ó Deus, para fazer a tua vontade, como no livro está escrito a meu respeito” (Hb 10,5b-7).

Se você discorda de meu ponto de vista, apresente-me o seu. Quem sabe me abrirá os olhos para o que sempre procurei e não consegui ver, e me ajude a rezar com mais tranquilidade e fé mais esclarecida. E, desde já, obrigado!


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