Novena de Natal, por Santo Afonso

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Santo Afonso descobre a vaidade do mundo

Fundador da Congregação Redentorista recusou o matrimônio para seguir sua vocação

Escrito por Pe. José Inácio Medeiros, C.Ss.R.

31 JUL 2025 - 07H00 (Atualizada em 31 JUL 2025 - 07H43)

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Certa noite, na casa do duque de Presenzano, aconteceu um episódio que revela a profunda honestidade e, ao mesmo tempo, a cautela de jovem Afonso de Ligório.

Ele foi convidado, tanto pelos anfitriões quanto por outros cavaleiros, para tocar cravo, instrumento parecido com o piano no qual tinha grande habilidade, aceitando de bom grado. Ao mesmo tempo, a encantadora filha mais nova do duque foi convidada a cantar uma ária, acompanhada de Afonso ao cravo.

Ela se levantou e, cantando, posicionou-se ao lado de Afonso, quase aproximando o seu rosto do dele. Afonso de Ligório, incapaz de evitar essa proximidade enquanto tocava, virou a cabeça na direção contrária.

A menina, acreditando que o gesto se devia à distração de Afonso, mudou e se colocou do outro lado para onde ele olhava. Mas tão rapidamente quanto a jovem mudou de lugar, Afonso virou novamente a cabeça para o outro lado.


Reprodução Reprodução Santo Afonso, depois de um longo processo de discernimento, abandonou sua carreira jurídica e seguiu pelo caminho religioso


A cena provocou um grande constrangimento e a menina entendeu a intenção de Afonso, ficando visivelmente ofendida. Incapaz de esconder sua indignação, voltou-se para os presentes e disse: "Parece que o senhor advogado está enjoado!".

Dizendo isso, parou de cantar e, perturbada, foi-se embora do salão. Afonso ficou mortificado, mas sua atitude era fruto de sua honestidade.

Ele preferiu desagradar à jovem, para não criar falsas expectativas, e nisso também se tornou um exemplo para todos, pois outros jovens em sua posição teriam se aproveitado da situação.

Vida de nobre

A descrição dessa cena nos ajuda a compreender alguns elementos da realidade histórica e social de Nápoles. No final do século XVII e meados do século XVIII, era uma cidade efervescente, com população de mais ou menos 250 mil pessoas, em que a classe social mais influente, a nobreza de títulos, seria formada por 8 a 10 mil pessoas.

Duques, condes, barões e pessoas possuidoras de outros títulos menores gostavam, como passatempo preferido, de se dedicar aos jogos, às caçadas e de realizar festas monumentais, para as quais eram convidadas as pessoas mais influentes da sociedade. Se o rei ou uma das pessoas da família real comparecesse à festa, seria a máxima realização!

Uma festa bem organizada gerava comentários que podiam durar semanas, mostrando o grau de influência de quem a organizou!

Bebidas, comidas finas, doces e iguarias eram servidas ao som da música das orquestras ou de convidados ilustres, como o jovem advogado Afonso, da prestigiosa família dos Ligórios. E para a ocasião, os salões eram enfeitados e preparados dignamente para o encontro.

As festas eram também ocasiões propícias para a costura de acordos ou montagem de estratégias políticas e comerciais e, muitas vezes, para se dar passos nos “casamentos arranjados” como forma de unir patrimônios e títulos.

Por isso mesmo, dois jovens ilustres e “disponíveis” como os filhos dos Ligórios e Prezenzanos eram, por assim dizer, uma possibilidade que saltava aos olhos de todos.

Casamento arranjado e desilusão de um pai

Don Giuseppe de Ligório vinha insistindo no casamento, continuando a encorajar seu filho a buscar uma união vantajosa para a família, por ser ele o primogênito de Giuseppe e Ana Cavalieri.

Porém, a cada investida do pai, Afonso arrumava alguma desculpa, sempre repetindo que não tinha a saúde adequada para tal estado ou que ainda não chegara a hora de nisso pensar.

Diante da insistência de seu pai, achando que já estaria na idade certa para se casar, um dia Afonso se abriu com sua mãe, declarando que o casamento não estava em seus planos e que nunca se ligaria ao mundo, implorando que ela convencesse seu marido a desistir de seu intento.

Diante das pressões familiares e sociais, imaginemos o que não se passava no coração e na mente de Dona Ana Cavalieri, sua mãe, que estava angustiada ao ver a relutância do filho.

Para não ser contrária aos desejos e planos de Dom Giuseppe, ela também encorajou Afonso, mostrando as vantagens daquele casamento para as duas famílias e, acima de tudo, a grande tristeza que seu pai sentia por causa de sua relutância. Mas, decepcionado, Afonso disse: "Vou expor meu pai a muitas dificuldades até que eu acabe com este ou qualquer outro plano de casamento".

A menina, por outro lado, era incentivada por seus parentes a se casar com Afonso, mas não se sentindo correspondida, também se mostrou contrária e, quando seu pai e sua mãe insistiram que a união deveria acontecer, respondeu corajosamente: “Como assim? Devo me casar com alguém que nem me olha no rosto?"

Era assim que as coisas estavam acontecendo porque ninguém sabia, mas Deus tinha outros planos para Afonso de Ligório.

A derrota que ele sofreu nos tribunais ao perder o julgamento no qual Felipe Orsini, duque de Gravina, reclamava dos Médici a devolução do terreno ou feudo de Amatrice em meados de julho de 1723, e a vergonha que passou por ter perdido causa tão importante, o levando a passar dias trancado em seu quarto, envergonhado e sem coragem de olhar para as pessoas somente fez por acelerar os planos de Deus e as mudanças em Afonso.

A derrota se transformou no golpe da Providência que faltava. Afonso se libertou do constrangimento, acabou com as esperanças que Dom Giuseppe depositara de seu filho fazer um casamento vantajoso para a família, começando a trilhar não os caminhos que sua família queria e a sociedade oferecia, mas pelos caminhos que Deus lhe propunha.

O que para os olhos do mundo foi encarado como uma grande perda, se transformou para Afonso em caminho de felicidade, de santificação e de conquista, primeiro, através da vida sacerdotal e depois, pela fundação da Congregação Redentorista.

O rompimento com o pai foi doloroso, gerou distanciamento que só com o tempo se quebrou, mas abriu caminho para que Afonso, junto com outros companheiros, passasse a anunciar a “Copiosa Redenção” aos cabreiros de ontem e de hoje.

.:: Conheça a gráfica que auxiliou Santo Afonso na publicação de suas obras::.

Fonte: Instituto Histórico Redentorista

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