Jornada Bíblica: Terra sonhada por Deus para nós

Deus estava inconformado! Como era possível Ele ser Deus de Seu povo, e esse povo ser escravo no Egito? Isso tinha que acabar! Então Ele o arranca da “casa da servidão” (Ex 13,3) e promete, e mais, Se compromete a levá-lo para um lugar, já aqui na terra, o mais parecido possível com Sua própria casa, o céu. “Uma terra boa e espaçosa, terra onde corre leite e mel” (3,8).

Espaçosa: não escravidão-prisão, mas espaço da liberdade de ir e vir à vontade. Terra da abundância de bens, como leite e mel a escorrer! Terra sem o menor sinal da vida escrava!

Deus não abria mão de Seu sonho! Mas, um risco existia: Ele só conseguiria realizar o sonho se o povo o acolhesse! E principalmente se fosse parceiro de Deus para torná-lo realidade! Sonho de Deus, mas dependente de nossa liberdade de o aceitar ou rejeitar! A terra boa não cairia como chuva do céu, mas nasceria dessa vontade-força de Deus encontrando um coração bom que, se fazendo árvore boa, produziria aquele sonhado e prometido fruto bom.

Eis o risco para o sonho de Deus: “Quando Javé, teu Deus, te tiver introduzido na terra que a teus pais, Abraão, Isaac e Jacó prometeu com juramento que te daria: cidades grandes e belas que não edificaste, com casas cheias de toda espécie de bens que não acumulaste, cisternas que não cavaste, vinhas e oliveiras que não plantaste; quando comeres e te saciares, então toma cuidado para não esqueceres Javé, teu Deus, que te tirou do Egito, da casa da escravidão. Javé, teu Deus, a ele servirás e por seu nome hás de jurar” (Dt 6,10-13).

Leia MaisJornada Bíblica: Deus queria viver uma presença mais sensívelJornada Bíblica: Pão de cada dia, força para a caminhada!Jornada Bíblica: Pecado, ilusão tentadoraOs bens materiais, a terra prometida, criados por Deus, são bons. Mas, em nossas mãos, podem perder toda sua força divina, e tornar-se demoníacos. Podem expulsar Deus de nossas vidas e tomar Seu lugar! E nos fazer cegos, insensíveis, maldosos, intratáveis com nossos irmãos! Cegar-nos o coração para suas necessidades! Escancarar-nos os olhos para os explorar, escravizar em vista do acúmulo sempre mais insaciável de bens em nossas mãos! Transformar-nos em novos “faraós” a criar novos “egitos” para dor e desespero dos irmãos... aquilo que Deus mais detestava!

Não, essa terra tinha que ser o espaço ideal para se viver a Aliança com o Deus único, só a Ele adorando. E uma adoração vivida, assimilando de Deus o amor, a misericórdia que levassem todos a não fazerem o mal uns contra os outros (20,1-17), numa solidariedade até com os estrangeiros que morassem no seio do povo, sem esquecer inclusive os animais, num dia de sábado (v.10).

“Os israelitas comeram maná durante quarenta anos, até entrarem em terra habitada: comeram maná até chegarem aos confins da terra de Canaã” (Ex 16,35). O maná ia cessar, mas não podia morrer a lição do maná. Sim, dentro da Arca, juntamente com as tábuas da Lei, conservava-se um gomor de maná: alimento suficiente para manter uma pessoa durante um dia. Que não houvesse o egípcio, pagão, ateu, acúmulo de bens que planta no coração humano a ganância, que é idolatria! Não, no coração reine a confiança na providência divino-paterna, que não descuida nem mesmo dos pardais! Se alguém recolhesse mais que um gomor ao dia, esse excesso apodrecia.

Essa terra devia ser o espaço da profunda convivência Deus-povo: “guiastes em vossa bondade o povo que redimistes. Com vosso poder o conduzistes à vossa santa morada. Vós o conduzis e o plantais no monte de vossa herança, no lugar que preparastes para vossa morada, Javé, no santuário que vossas mãos fundaram, Senhor (15,13.17). Deus é amor; quem permanece no amor permanece em Deus, e Deus nele” (1Jo 4,16b), eis a terra sonhada e prometida!