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Mariofanias aprovadas pelos bispos, pela Igreja Copta e para a expressão da fé

Escrito por Academia Marial

01 JUL 2022 - 07H00

Reprodução/Vatican News

Um dos temas mais instigantes no campo da mariologia são as mariofanias, ou seja, o fenômeno das aparições de Nossa Senhora. Tal complexidade se deve ao fato de que não são quaisquer manifestações que podem ser consideradas legítimas pelas autoridades eclesiais. Como qualquer assunto relacionado à Igreja, o tema deve ser abordado com cautela, sempre seguindo as orientações das devidas autoridades.

Diz-se que as aparições marianas começaram a ser registradas a partir do ano 40 DC, sendo 2 mil aproximadamente, até os dias atuais. Contudo, a Santa Sé reconhece menos de 2 dezenas e mantém outras ainda sob investigação. As aparições que permanecem sem oficialização necessitam de dados comprobatórios, obtidos através de exame. O processo de avaliação e reconhecimento envolve um número de estudiosos das questões de fé (como teólogos, sacerdotes e bispos) que se dedicam ao levantamento de dados relativos ao ocorrido, tais como pessoas envolvidas e conteúdo das mensagens divulgadas. Estes dados são analisados à luz das Escrituras e do Magistério da Igreja, levando em consideração também a piedade popular e os testemunhos seculares.

A Igreja católica romana e a Igreja Ortodoxa Copta empregam critérios específicos para análise e reconhecimento das supostas aparições.

Nos últimos dois séculos, a frequência das aparições vem apresentando um aumento, mas o número das reconhecidas pela Igreja permanece bastante pequeno. A prudência é uma virtude que a Igreja tem exercitado em relação a tais eventos. Assim sendo, qualquer manifestação, seja ela angélica ou mariana, passa por avaliação criteriosa para que seja emitido parecer do ordinário local. Para entender o processo de reconhecimento de uma mariofania, se faz necessário analisar como o fenômeno é constituído. "Fania" corresponde à manifestação ou aparição. No cristianismo, acreditamos na teofania (a manifestação de Deus - “Teo” –, a encarnação do verbo) e nas possíveis aparições de Maria, a mãe de Jesus, e de anjos. Uma mariofania não pode ser comparada a “aparição” de Jesus. Ele é a Palavra de Deus que habitou entre nós. Mostrou-nos o plano da Salvação e nos resgatou por Sua cruz. Assim sendo, uma mariofania não têm o mesmo status dogmático que a Revelação Divina, esta sim, a centralidade da nossa fé, a crença na Encarnação do Verbo, Jesus Cristo.

Por essa razão, não é obrigatório que os fiéis creiam em uma aparição mariana ou angélica, da mesma forma que creem em Jesus. Segundo de Fiores, "mariofania" significa “Aparição ou revelação da Virgem Maria”. O termo faz referência não somente ao acontecimento das aparições de Maria, mas, indica “a pessoa de Maria e a sua função” em continuidade com os dados bíblicos que constituem a verdadeira e fundamental mariofania². A definição de De Fiores corrobora que Maria, em suas manifestações, está envolvida em situações cotidianas, problemas mundiais etc., e nos indica algumas soluções para tais problemas, apontando o Caminho, seu Filho Jesus.

As mensagens por ela transmitidas não são de forma alguma desconectadas da mensagem evangélica: são constatações sobre como o povo e o mundo podem estar se desviando dos caminhos do Senhor e orientações aos fiéis sobre como retornar aos planos de Deus.

Contudo, apesar de centradas nas verdades evangélicas, não são todas as Igrejas cristãs que aceitam as mariofanias, sendo esta mais uma semelhança entre as tradições católica e copta. As aparições podem acontecer de forma coletiva ou privada, podendo haver uma ou mais pessoas envolvidas. Tais pessoas são chamadas videntes. Um vidente faz parte do processo de reconhecimento da mariofania, assim sendo, passará por avaliação moral e psicológica de modo que seus relatos tenham credibilidade.

Sidney de Almeida/Shutterstock
Sidney de Almeida/Shutterstock


Algumas mariofanias:

Uma das mariofanias mais conhecidas são as aparições em Fátima, Portugal, em 1917, a três crianças. Os três pastorezinhos da Cova da Iria, que receberam como orientações o pedido de conversão e o apreço às orações. Havia um clima de grave instabilidade política e social na Europa e a Virgem indica o processo de conversão para que os cristãos e o mundo todo tenham sucesso de vida digna.

Somente os 3 pastorezinhos ouviram as mensagens e viram Nossa Senhora sobre a azinheira, uma árvore típica da região, o que caracterizaria essa mariofania como um evento privado. Contudo, um dos fatos mais comentados nesta mariofania foi o episódio conhecido como o Milagre do Sol², presenciado por centenas de pessoas. Os relatos da época indicam que o sol pareceu sair do lugar, se aproximando da Terra, como se estivesse dançando pelo céu.Leia MaisMariofanias - Aparições: Critérios para aprovaçãoMariofanias - Aparições e Visões no Antigo TestamentoMariofanias – As manifestações da Mãe de Deus

Uma mariofania coletiva de grandes proporções ocorreu em Zeitoun, Egito. Conhecida como aparição de Nossa Senhora de Zeitou (Nossa Senhora da Luz), o evento aconteceu pelo período entre 1968 e 1971 e foi presenciada por cristãos, muçulmanos e pessoas que não tinham relações religiosas.

Diz-se que um homem muçulmano viu uma mulher andando sobre a cúpula da Igreja de Santa Maria, na referida cidade de Zeitoun. Nas diversas ocasiões, visto que o fenômeno durou três anos, alguns registram ter visto a mulher enquanto outras pessoas só viram luzes. A Igreja de Santa Maria é célebre como o local onde a sagrada família morou no período do exílio no Egito. O fenômeno extraordinário foi declarado autêntico pelas autoridades civis (políticas e cientificas) e a mulher foi a reconhecida como Maria, a Mãe de Jesus. Essa mariofania foi aprovada pelo Papa Copta Cirilo VI em 1968.

Em ambas as manifestações há relatos de curas e graças dispensadas aos fiéis.

Cumpre ressaltar que crer em uma mariofania não depende exclusivamente de se ter presenciado um fenômeno, mas de reconhecer a sobrenaturalidade do fato, o que é geralmente atribuído às autoridades seculares, e posteriormente, as autoridades religiosas o confirmam para que venha a ser acatado com os olhos da fé.

A Igreja católica tem registros de mariofanias, privadas ou coletivas, em várias localidades ao redor do globo. Quem de nós nunca ouviu falar de Nossa Senhora de Lourdes, das Graças, de Guadalupe? Ou teve a curiosidade aguçada a respeito da Virgem Negra de Czestochowa ou de Nossa Senhora de Akita? 

E nós, brasileiros, quem não se emociona ao ouvir a canção Romaria, do cancioneiro popular, sobre a trajetória de um romeiro à Aparecida? Apesar do fenômeno de Aparecida não se caracterizar como uma “mariofania”, por não ter havido uma aparição, é uma manifestação da Mãe e de sua intercessão, em tempos de aflição.

Mariofanias, algumas mais conhecidas que outras, mas todas dignas de atenção e piedoso cuidado. O mais importante nessas manifestações é o fiel reconhecer a misericórdia de Deus ao permitir que nossa Mãe venha até nós para um “puxão de orelhas” ou um afago, como qualquer pai que partilha a intervenção da mãe na educação dos filhos.

Maria, como participante do plano da salvação, não desampara seus filhos, sempre os orientando, dando alento e indicando o seguimento de seu Filho, o Caminho, a Verdade e a Vida.

Rita de Cassia Chagas
Associada da Academia Marial de Aparecida

Notas de rodapé:

1 -
A Igreja Ortodoxa Copta é uma Igreja de rito oriental e sua fundação é atribuída a São Marcos, Evangelista. Para mais informações, siga o link
https://www.facebook.com/igrejasaomarcos/about
2 - Esse milagre não foi uma mariofania em si, mas foi um evento extraordinário avisado e “intermediado” por Maria; As aparições de Fátima foram reconhecidas pelo bispo local e posteriormente reconhecidas pela Santa Sé
3 - No período de 2000-2001, fenômeno semelhante acontece em Assiut, também no Egito, quando milhares de pessoas observaram as aparições. Segundo um comunicado atribuído ao bispo local, Maria apareceu no alto da Igreja de São Marcos, pairando, sem emitir mensagem alguma.3

Bibliografia

AFONSO, D. O segredo das Aparições: A Revelação nas revelações. Publicação Independente, 2020
ALLEGRI,R. et al. Os milagres de Fátima. São Paulo: Paulinas Ed., 2013
DE FIORES, S; MEO, S. (orgs). Dicionário de Mariologia. São Paulo: Paulus, 1995.
MURAD, Afonso. Maria, toda de Deus e tão humana: compêndio de Mariologia. São Paulo; Aparecida: Paulinas; Santuário, 2014.

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