Neste ano do centenário de nascimento da escritora paraibana Rosilda Cartaxo, percorri as estradas da sua escrita como um peregrino, um romeiro de Nossa Senhora. A autora apresenta em sua crônica histórica, e em suas memórias, o lugar significativo que a devoção à Maria ocupava no desenrolar da história da colonização do sertão nordestino, como também na resistência das suas personagens reais em momentos de dificuldades.
Em sua obra Estrada das Boiadas: roteiro para São João do Rio do Peixe, Rosilda percorreu a origem da capela de Nossa Senhora do Rosário, marco determinante para a formação da primitiva vila de São João do Rio do Peixe no Alto Sertão Paraibano, onde ainda ao redor de uma “Cazuza da Cunha” que era usada como capela, os primeiros habitantes já faziam as suas orações no final do século XVIII, e onde no ano de 1800 foi batizado o pequeno Ignácio de Sousa Rolim, o venerado Padre Rolim, fundador da vila de Cajazeiras, que foi mestre do Padre Cícero Romão Batista. Na obra a autora tem a preocupação de narrar ao leitor a devoção e a prática da oração do rosário ao longo da história, frisando que “Na sua forma atual o Rosário tem por autor São Domingos, fundador da Ordem dos Pregadores ou Dominicanos por uma revelação particular de Maria no ano de 1206” (ADUCCI, 1958 apud CARTAXO, 1975, p. 106). Mas a autora também não esquece os conflitos e que os colonizadores lutaram “com o rosário no pescoço e o bacamarte na mão”, numa forma de registrar que apesar da devoção, houve massacre e dominação na luta pelo território. Um rosário de dores uniu as contas da história.Leia MaisA devoção milenar a Nossa Senhora do RosárioOutubro, mês do Rosário
Num tom de maior intimidade com Nossa Senhora, trazendo-a mais próxima do cotidiano dos sujeitos participantes da história, Rosilda Cartaxo na mesma obra refletiu que “A Virgem é a mesma, com sua coroa e rosário de ouro, sendo ‘madrinha de crianças e comadre de mulheres’” (CARTAXO, 1975, p. 102). Esse viés de proximidade com a Virgem Mãe de Deus floresceu em sua obra Mulheres do Oeste. Ao escrever sobre a memória de Mãe Aninha, como ficou conhecida a senhora Ana Francisca de Albuquerque, Mãe do Padre Rolim, e ao comentar o fato histórico do morticínio eleitoral de Cajazeiras, Rosilda escreveu que “Lá estava a Virgem da Piedade, que assistiu a tudo de braços cruzados e não pôde fazer nada” (CARTAXO, 2000, p. 17). Nesse trecho, percebemos o aspecto mariológico do silêncio de Nossa Senhora, o mesmo com o qual guardou desde as duras palavras da profecia de Simeão até a sua dor ao ver o seu Filho Crucificado e morto, sua confiança na ação de Deus sobre os acontecimentos, face da sua santa personalidade que lhe rendeu o título de Nossa Senhora do Silêncio. Mas estes mesmos braços cruzados da Virgem se abriram para receber as orações da sua mãe, conforme relembra em suas memórias na mesma obra:
“Seu nome é Maria – precisa dizer mais nada?”
É a santa hoje ausente da Igreja do Rosário de São João do Rio do Peixe – como Franciscana e da Mãe Cristã – lá da Padroeira de Cajazeiras e também da Perpétua da Capelinha da Casa Grande da Fazenda Mato Grosso, onde vivia de joelhos, de terço na mão, orando pelo companheiro, o marido José Gonçalves Dantas, homem marcado para morrer pela política de São João do Rio do Peixe (CARTAXO, 2000, p. 19).
A memória da mãe, cuja dor da ausência física encontrou consolação na devoção da Nossa Senhora, no colo materno de Maria, dialoga com a poética mariana tecida na obra Oráculos de Maio, da escritora mineira Adélia Prado. Na Matriz de Nossa Senhora do Rosário, em São João do Rio do Peixe, Rosilda observou o rosário nas mãos de dona Jardilina Pereira Nóbrega, viúva do cangaceiro assassinado Chico Pereira. O mesmo rosário que sustentou sua dor e a fez optar pela atitude de “vingança não”.
Em carta à autora, citada no livro Mulheres do Oeste, o bispo Dom Adelino Dantas, compara Rosilda Cartaxo à figura bíblica de Rute, ao apanhar “espigas que caíam pelos campos, restos de espigas. Restos que se recuperavam, se salvavam” (CARTAXO, 2000, p. 241). A mesma tarefa ingrata, mas salvadora, têm a escrita de Rosilda, que colheu os restos da história e das memórias que ficariam para trás, esquecidos, e transformou -se em semente germinadora de novos frutos, alimento da alma numa sociedade tão carente de valores sólidos. Sua devoção à Maria permeia e norteia a sua escritura, dá ar e vida às futuras gerações para que salvem-se da alienação da falta de fé, de alento, de pertencimento a uma identidade histórica e cultural. Como escreveu Dom Adelino “Rosilda. Para a frente! Sic itur ad astra”.
Ciro Leandro Costa da Fonsêca
Doutor em Estudos do Discurso e do Texto pela Universidade Estadual do Rio Grande do Norte.
Associado da Academia Marial de Aparecida
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CARTAXO, Rosilda. Estrada das Boiadas: roteiro para São João do Rio do Peixe. João Pessoa: Nopigral, 1975.
CARTAXO, Rosilda. Mulheres do Oeste. Teresina: Ed. Halley S.A, 2000.
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