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Os Evangelhos não falam sobre o fim da vida de Maria, porém existe uma antiga Tradição Patrística com informações provindas dos apócrifos que deu base ao Ofício Litúrgico do dia 15 de agosto.
Enquanto no Ocidente a Solenidade se denomina “Assunção da Virgem Maria”, no Oriente, em grego ou eslavo é a Dormição da Mãe de Deus que se refere aos últimos instantes terrenos da Virgem, quando, segundo a Tradição, os apóstolos se reuniram ao seu redor e Cristo veio buscar sua alma.
A Dormição é a última das grandes festas do ano litúrgico bizantino. Na Igreja Católica Ortodoxa, o Ano Litúrgico começa em 8 de setembro com a Natividade da Virgem e termina em 15 de agosto com a Dormição.
As narrativas da Dormição fazem parte dos escritos apócrifos do Novo Testamento, que constituem uma literatura florescente nos primeiros séculos da Igreja. O desenvolvimento destes relatos sobre a morte da Mãe de Deus deve-se ao Concílio de Éfeso (431), que fixou a atenção sobre a eminente dignidade da Virgem Maria. Nesse Concílio, Maria recebeu o título de Theotokos, quer dizer a “Mãe de Deus”.
O relato geral sobre o destino de Maria é semelhante nesses textos apócrifos, apenas com certas variações. Maria recebe o anúncio da sua morte, pelo Arcanjo Gabriel, que lhe dá uma palma. Ela prepara então tudo o que é necessário e profere a sua última oração. Os apóstolos e discípulos são milagrosamente transportados pelas nuvens. Os doentes reúnem-se perto da casa de Maria em Jerusalém, onde muitas maravilhas se manifestam. Jesus aparece para acolher a sua mãe, acompanhado por falanges celestes. Recebe então a alma de Maria.
O Papa Pio XII em 1º de novembro de 1950 definiu o Dogma da Assunção da Virgem Mãe de Deus à glória celeste de alma e corpo. Na Constituição, o Pontífice usou a riqueza das fontes das liturgias orientais em muitas referências, dentre as quais afirma que: “Na liturgia bizantina a Assunção corpórea de Maria é repetidamente ligada não só à sua dignidade de Mãe de Deus como a outros privilégios especialmente a sua maternidade virginal”.
Na Constituição do Papa Pio XII, é relatado um breve hino extraído também de uma festa bizantina recitada pelos cristãos de tradição constantinopolitana: “A ti, o Deus Rei do Universo, concedeu coisas que estão acima da natureza porque como no parto te conservou Virgem, assim no sepulcro conservou incorrupto o teu corpo e com a divina trasladação o glorificou.”
Pio XII cita no mesmo documento São João Damasceno, pois o Santo Doutor da Igreja “se distingue entre os demais como testemunha exímia desta tradição” e lembra também São Germano de Constantinopla, que é autor do hino das vésperas que se segue: “Vinde de todos os confins do Universo, cantemos a bem-aventurada trasladação da Mãe de Deus. Nas mãos do Filho ela depositou a sua alma sem pecado, com a sua Santa Dormição o mundo é vivificado, e é com salmos e cânticos espirituais, em companhia dos anjos e dos apóstolos que Ele a celebra na alegria.”
No ícone, a alma de Maria está nas mãos de Cristo, como está escrito no livro da Sabedoria 3,1: “a alma dos justos está nas mãos de Deus”. Cristo tem nas mãos a alma de sua Mãe, e a segura com a mesma ternura com a qual ela tinha nos braços o Deus encarnado, o Menino Jesus. Observamos a realidade da morte: a alma sai do corpo, mas não desce ao sheol, aos infernos, como corresponderia a concepção hebraica, nem mesmo sai direto para o céu.
Existe algo surpreendente e dogmático e mais profundo no ícone. A Mãe de Deus não está na cena central subindo aos céus, mas ao contrário é Cristo que desce à Terra em Glória, cercado de querubins assim como será no final dos tempos.
E a passagem desta vida a outra se efetua, portanto, por meio de Cristo, da sua Presença. Por sua Mãe, a última vinda de Cristo é de certa forma antecipada, porque Maria é o escathon quer dizer, a última perfeição da Criação. Assim, a Igreja encontra aqui a sua melhor expressão para a Segunda Vinda de Cristo à Terra, é a realidade do futuro que se espera, porém para os Santos está sempre já presente.
A Dormição da Mãe de Deus é a expressão firme desta esperança, plena de certeza. O significado de tal ícone pode ser expresso por este pensamento de Cristo: “se a Mãe me deu um corpo físico agora eu lhe dou a vida eterna”, de fato se a figura central no ícone da Natividade era Virgem aqui, Cristo tem nos braços a Mãe como uma criança, isto é o novo nascimento da Virgem.
Tudo o que está envolvido no amor passa para a eternidade porque está escrito: que o amor dura eternamente (I Cor 13, 8). Assim também ressurgirão os nossos corpos? Se passa para a eternidade com cada gesto de amor realizado, pois cada gesto de amor passa de fato à eternidade, para a memória eterna de Deus. O amor torna eternas as coisas.
A liturgia da festa não se limita a assinalar a morte de Maria, ultrapassa essa dimensão ao celebrar a passagem de Maria ao céu em corpo e alma. Isso está claramente representado no ícone da Dormição. Maria pode ser considerada como aquela que tem uma morte santa, ela é o nosso modelo na prova da morte. A passagem de Maria, em corpo e alma, para o céu, é uma antecipação da ressurreição geral. É a festa da natureza humana: todo o crente deve tomar Maria como modelo para alcançar a deificação.
Wilma Steagall De Tommaso
Associada da Academia Marial
Bibliografia
DONADEO, Maria. O ano litúrgico bizantino. São Paulo: Editora Ave Maria,1988.
_____. Os ícones de Cristo e dos Santos. São Paulo: Editora Ave Maria, 1997.
MARCOS, José João dos Santos. A beleza da Virgem Maria: 12 catequeses sobre Nossa Senhora. Lisboa: Paulus Editora, 2017.
RAVASI, Gianfraco. Os rostos de Maria na Bíblia. Tradução Maria Pereira. Lisboa: Paulus Editora, 2008.
RUPNIK, Marko Ivan.; ŠPIDLÍK, Tomas. La fede secondo le icone. Roma: Lipa, 2000.
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